Rachel Pinto
Atualizada às 15:07
Na 11ª Feira do Livro, Festival Literário e Cultural de Feira de Santana (Flifs), a Praça do Cordel é um dos espaços mais movimentados e com grande presença de público, recitais de textos de cordel e poesias. Os folhetos coloridos pendurados em varais compõem todo o cenário, assim como as figuras e quadros em xilogravuras. Cordelistas com suas mesas repletas de cordéis e alguns vestidos com indumentárias que remetem à cultura nordestina marcam presença na praça e reforçam o significado da literatura de cordel, que tornou-se recentemente patrimônio cultural e imaterial do Brasil. Em um universo predominantemente masculino, a figura de mestre Lainha chama a atenção e mostra também a força e a resistência da mulher negra.
Foto: Milena Brandão/Acorda Cidade
Mestre Lainha é Janete Lainha, de 58 anos, e natural da cidade de Ilhéus. Ela já escreveu mais de 800 cordéis e sua trajetória no universo literário e lúdico começou aos sete anos de idade durante uma viagem à Bom Jesus da Lapa, quando acompanhou a mãe que estava adoentada e precisava pagar uma promessa. Com essa experiência, Lainha teve o seu primeiro contato com o cordel, conheceu um dos seus mestres e passou a escrever os primeiros versos. Participando da Flifs há cinco anos, ela contou que já teve muitas andanças e faz uma ressalva sobre a mulher negra na literatura de cordel.
Foto: Milena Brandão/Acorda Cidade
“Eu venho de muitas andanças, faço parte de duas linhagens importantes na literatura do Brasil. Fui vizinha de Minelvino Francisco da Silva, o trovador Apóstolo, e também convivi na casa dos artistas durante 17 anos com Azulão Baiano. Então, isso deixou meus versos mais redondinhos e são anos de luta e de peleja. Compreendo que faço parte de um universo em que 90% é masculino. Mas, isso não me desmerece, pelo contrário, eu só tenho encontrado incentivo e o fato de vir dessas linhagens de outros cordelistas famosos e conviver com eles me deixou em uma gama e em um leque de conhecimento da literatura de cordel muito bom”, afirmou.
Foto: Milena Brandão/Acorda Cidade
A cordelista também é xilogravurista e explica que faz seus cordéis de forma tradicional, do jeito que seus mestres lhe passaram. Os versos têm oração, rima e metrificação. Vários trabalhos da escritora já foram premiados e para ela é fundamental que as pessoas possam conhecer e ler cordéis. Eles trazem cultura, sabedoria e significam resistência.
Foto: Milena Brandão/Acorda Cidade
Foto: Milena Brandão/Acorda Cidade