Literatura

Flica: Antonio Cicero e Ruy Espinheira Filho elogiam a preguiça e a poesia em bate-papo

Durante o debate, muitas poesias foram recitadas pelos três presentes e fortemente aplaudidas pela plateia que lotou o espaço

Quinta mesa da programação oficial da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), "Versos com Nexo" reuniu os poetas Ruy Espinheira Filho e Antonio Cicero na manhã desta sexta-feira (19), no Conjunto do Carmo. Em uma das melhores mesas da programação até o momento, literatura e poesia inspiraram e transpiraram durante todo o tempo.  A discussão, mediada pelo ator Jackson Costa, contou com intensa participação do público. Dentre os temas abordados, a formação do poeta, o papel da escola e da família na educação literária, as diferenças entre compor poesia e compor música, a importância da internet para a produção e divulgação de poesias e, claro, o questionamento sobre se é preciso que um verso tenha nexo para gostar dele. Natural de Salvador, professor, jornalista e poeta, Ruy Espinheira Filho foi muito contundente em suas afirmações sobre a qualidade da poesia,  o despreparo dos professores de literatura,  a necessidade de se ter poesia em qualquer manifestação artística e sobre a crítica – e os críticos. “Os críticos de literatura fazem medicina legal. Eles dividem o corpo em partes para explicar como funciona, mas eu não quero saber disso. Eu quero saber como funciona o corpo inteiro”, alfinetou. Em sua fala provocativa e cheia de aforismos, explicou o que considera uma poesia ruim. “Uma poesia é ruim quando o leitor não se nela. O que o leitor é a si mesmo, a sua própria sensibilidade poética. Essa questão [da qualidade da poesia] é individual. Uma mesma pessoa lendo dez vezes um mesmo texto todas as vezes de uma forma diferente”, afirmou. E continuou: “Os adultos ‘burrificam’ as pessoas. Os professores não sabem porque também não leem e chegam a indicar Machado de Assis, em sua fase mais madura, para adolescentes de 13 anos. depois é que este adolescente vai descobrir. É preciso uma literatura preparatória para chegar às pessoas aos poucos”, avaliou. O poeta e ensaísta Antonio Cicero participou do diálogo, exaltou a importância do ócio criativo para a literatura e respondeu o que diferencia a prosa da poesia. “Poesia não tem antônimo na língua portuguesa nem em nenhuma língua que eu conheço. A prosa se opõe ao verso, e não à poesia. A gente deve usar as palavras de outra maneira”, explicou. O autor também disse não acreditar na concepção de muitos escritores de que, na criação, 1% é inspiração e 99% é transpiração.  “Essa é uma concepção falsa. É preciso estar inspirado para criar e, para fugir do lugar comum, é necessário recorrer à estrutura. As regras obrigam a trabalhar mais e, nesse trabalho, você descobre novas possibilidades de criação. Para mim, não essa contrariedade entre inspiração e trabalho”, esclareceu. Antonio Cicero lembrou Drummond e afirmou que a criação se também durante o sono. “A luta prossegue nas ruas do sonho”, independência. Durante o debate, muitas poesias foram recitadas pelos três presentes e fortemente aplaudidas pela plateia que lotou o espaço. As informações asão do Bahia Notícias.

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