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De jurista a poetisa: escritora conta como é transitar entre o Direito e a Literatura

Aos 23 anos de idade, já são três livros lançados com diferentes propostas.

Milena Brandão

São nove e meia da manhã de uma segunda-feira. Uma roupa preta. Cabelo estilo Amélie Poulain. Expressão séria. Heloísa Lima aparenta estar na contramão de uma rotina típica de uma artista. No caso, uma escritora. Ela se aproxima, nós nos cumprimentamos e começamos a conversar.

Em contato com a escrita desde à adolescência, Heloisa contou que tudo aconteceu de maneira espontânea. “Comecei a escrever de maneira esporádica aos 14 anos. Guardava em agendas e diários e o gosto foi crescendo”. Aos 17, começou a cursar Letras e, quase ao mesmo tempo, Direito. Pesado? Sim. Ela admite. “Chegou uma hora que não deu. Cursei só Direito mas nunca abandonei o ato de escrever”. E, logo depois do diploma, Heloisa voltou a Literatura convicta, agora, de que nunca deveria ter saído dela. 

Hoje, aos 23 anos de idade, já são três livros lançados com diferentes propostas. O primeiro livro chamado “Cartas Desconexas” (2017) reúne textos distintos sem destinatário específico. O segundo, “Emaranhado Enigma” (2017) é um livro de contos. E o terceiro, “Derramando Excessos”, lançado este ano, é composto por versos. 

Foto: Reprodução/Instagram

As inspirações da jovem escritora variam. Vivências pessoais, experiências de pessoas próximas até situações vividas por estranhos e presenciadas por ela compõem o acervo de histórias. “Paro em alguns lugares que tem picos de informação, as pessoas riem, choram e eu observo, guardo na mala e me serve de inspiração”, contou. 

A angústia encontrada em algumas dessas histórias é o que a move. “O que eu mais gosto é a angustia, como eu lido com as minhas angústias, como as pessoas lidam com isso e como isso faz de cada pessoa um universo, porque a gente trata nossos problemas de formas completamente diferentes”, completa.
Das referências poéticas, os portugueses Florbela Espanca e Fernando Pessoa são os nomes que saem da boca quase que sem pensar. “Desassossego (livro de autoria de Fernando Pessoa) é a minha bíblia”, palavras da própria Heloísa. 

A relação com Fernando Pessoa nitidamente vai muito além da admiração pelo trabalho do poeta. Pessoa e Heloísa são geminianos. (Aos que não acreditam, perdoem). Mutáveis, inconstantes, inquietos estão sempre buscando algo novo. Assim, considerando as forças dos astros, as previsões para o futuro das produções de Heloísa já apontam para um ato político (próximo trabalho), contou.

Ser mulher e artista

A carreira, embora recente, já é acompanhada de um histórico de desafios, principalmente por ser mulher. Sem precisar refletir muito, Heloisa é taxativa. “Não falta produção, falta reconhecimento. Se você parar pra notar, tem que vagar muito para encontrar uma mulher poeta. Certamente, tem mas nós não temos acesso a essas informações. As mulheres aparecem como musa inspiradores. Não tem seu lugar de fala”. 

FSA x SP x SSA 

As diferentes realidades do mercado de editoração fizeram Heloisa Lima buscar novas possibilidades em outros locais. De Feira de Santana para São Paulo, ela conta o que motivou a mudança temporária. “Aqui, o mercado é mais escasso. Eu preciso de mercado porque eu não posso pagar para trabalhar. A gente precisa de apoio e São Paulo é o lugar onde as coisas acontecem”, explicou. 

Dois meses depois, de volta à Bahia, agora em Salvador, Heloisa está fazendo a pós-graduação em Docência no Ensino Superior. A cidade dos poetas Gregório de Mattos e Castro Alves, “cheia de cultura, a mistura de gente e a arquitetura maravilhosa” está entre as fontes de inspiração da escritora.

Pouca idade, muita história, Heloisa Lima segue como mais uma amante da arte. Reconhece-se como uma otimista em potencial e define a escrita como libertação. Oscilando entre dúvidas, uma única certeza: “Na minha relação com a escrita não existe corte. É a única coisa que eu sei fazer da minha vida”, declarou.
 

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