Milena Brandão
No passo a passo das amarrações dos turbantes, o araciense Adão Ferreira dos Santos, 24 anos, tem feito a cabeça de muita gente por ai. Há um ano e meio, Adão conta que viu na arte a possibilidade de gerar renda. Desde então, os tecidos, lisos ou coloridos, cheios de formas e de diferentes estampas, passam pelas mãos de Dão, como é conhecido, e tomam forma na cabeça das pessoas.
O acessório, originado no Oriente Médio, é cheio de história e significados principalmente para a cultura negra e foi o uso das peças que trouxe para Dão a consciência sobre si. “Eu digo que foi através dos turbantes que eu me reconheci negro. Foi depois do uso que eu comecei a despertar para as questões raciais. É um símbolo de resistência, tem vários significados entre diversos grupos, diversas religiões. É um elemento de linguagem social”, disse.
Foto: Milena Brandão/Acorda Cidade
Além da venda, o turbanista realiza oficinas para produção e amarração da peça. O momento de aprendizagem vai muito além dos tecidos, Dão enxerga as aulas como oportunidade para discutir questões sociais e raciais. A necessidade de diálogo nas escolas, de representatividade nas mídias sociais e a valorização dos elementos da cultura negra estão entre as abordagens nas rodas de conversa.
“Na oficina, a gente pode despertar essa discussão. Primeiro, eu abro um espaço para falar um pouco da história do acessório e o que ele representa e então abordo a negritude, ascendência do negro da sociedade, valorização da mulher e do homem negro”, explicou.
De acordo com Adão, grande parte da inspiração do trabalho, que também reflete na vida pessoal, vem de Negra Jhô, mulher, negra, com um histórico marcado por resistência e superação, que trabalha com tranças, torsos, turbantes, amarrações em Salvador.
Foto: Milena Brandão/Acorda Cidade
Empodera, preto!
“A representativa do homem negro ainda é muito inexpressiva, principalmente na mídia”. Foi em meio ao cenário desanimador descrito pelo próprio Dão, que ele encontrou estimulo e pensou em algo para combater essa realidade. Junto com o fotografo feirense, Darlan Dhouro e o diretor de arte, Betto Veras, de Cachoeira, ele desenvolveu o projeto “Empodera, Preto!”, divulgado nas redes sociais.
“Queríamos, de início, fazer algo voltado para a estética, que a galera pudesse refletir sobre representatividade negra nas mídias. Com isso, percebemos a necessidade de se falar sobre empoderamento do homem negro, visto que falamos muito sobre empoderar a mulher negra, que também é uma questão muito pertinente). E deu certo!
Foto: Reprodução/Instagram
Foto: Reprodução/Instagram
As fotos feitas com homens usando turbantes em diversos espaços da cidade exaltam a beleza negra masculina e tem caído no gosto da galera. “A gente tem tido um retorno muito bacana. As pessoas, principalmente de movimento sociais, tem nos elogiado e através do projeto a gente pode falar de arte, negritude e estética”, afirmou.
Foto: Reprodução/Instagram
O turbanista pretende levar a iniciativa à outras cidades baianas. Ele afirmou também que projetos envolvendo crianças e mulheres negras estão em fase de desenvolvimento. Quer conhecer um pouco mais do trabalho de Adão? Confira! (clique aqui)