Acorda Cidade
No mês passado, o Facebook anunciou uma moeda digital chamada Libra, que deverá estar pronta para ser usada em 2020 e permitir aos bilhões de usuários da plataforma ao redor do globo fazer transações financeiras online.
A nova tecnologia ameaça mudar o horizonte dos bancos, e não à toa já é objeto de escrutínio, à medida que o Facebook encontra cada vez mais pedidos de regulação e medidas antitruste das instituições bancárias.
O Facebook diz que a Libra é uma "moeda global e uma infraestrutura financeira", ou, em outras palavras, um dinheiro digital construído pela plataforma e empoderado por uma recém-criada versão de blockchain, uma tecnologia encriptada usada pelo bitcoin e outras criptomoedas. O nome da moeda vem da medida romana básica utilizada para medir o peso das coisas. Segundo o Facebook, a abreviação lb será usada para significar a Libra, e o símbolo será o mesmo que se refere à moeda britânica – o L (£) de Libra.
A plataforma afirma que quer alcançar 1,7 bilhão de pessoas ao redor do mundo que não têm acesso a contas bancárias com sua nova moeda. No entanto, ela provavelmente passará por questões regulatórias e enfrentará preocupações antitrustes, especialmente em um momento em que muitas instituições querem frear o ímpeto do Facebook – ainda assim, ninguém indicou qual será a legislação específica para enquadrar o projeto.
Entre os rumores da expansão financeira do Facebook, membros do Senado dos Estados Unidos pediram ao CEO da empresa, Mark Zuckerberg, que torne as informações dos usuários privadas e das empresas, mais acessíveis.
A moeda do Facebook vai ser utilizada por um grupo de empresas chamado inicialmente de "Libra Association", e vai funcionar no modelo conhecido como "stablecoin", ficando atrelada a moedas já existentes, como o dólar e o euro, com o objetivo de torná-la menos sujeita à volatilidade das criptomoedas atuais. O modelo stablecoin é uma novidade no mercado mundial, avalia Pedro Ferraro, economista e professor de um curso de contabilidade EaD de São Paulo.
A "Libra Association" é, segundo a rede social, uma associação sem fins lucrativos e independente com sede na Suíça, e já tem duas funções principais: validar transações e administrar as reservas da Libra em relação às moedas com as quais estará atrelada e alocar fundos para causas sociais. A entidade vai ser controlada pelo que o Facebook chamou de Libra Association Council, formada por um representante de cada membro da associação com poder de voto em decisões políticas e operacionais.
O Facebook afirma que, apesar de já ter criado a associação e a moeda, apenas quando ela for lançada, no ano que vem, é que a empresa vai se retirar do papel de liderança da Libra Association e deixar que todos os membros tenham poder igual de voto no controle da criptomoeda. Empresas que contribuíram com um mínimo de lb$ 10 milhões (R$ 37,3 milhões, considerando o valor da libra britânica) são parte da lista de fundadores – entre elas, PayPal, Ebay, Spotify, Uber e Lyft, assim como consultorias e gigantes do mercado financeiro, tais como Mastercard, Visa, Thrive Capital e Andreessen Horowitz.
Apesar de o Facebook não ter dado pistas de quando a moeda estará disponível, a presença de empresas tradicionais de pagamentos, como a Visa e a Mastercard, sugere que a companhia de Zuckerberg deixará que os usuários comprem a moeda em um mercado digital livre. No entanto, a rede social também deve pôr em prática o que é chamado de "air drop": entregar pequenas quantidades de dinheiro digital aos usuários para que eles deem o pontapé inicial no ecossistema financeiro. Isso será crucial se conseguir dar conta do objetivo de levar serviços financeiros a pessoas sem contas bancárias.
Em longo prazo, a expectativa é que os fundadores da moeda ofereçam aos seus empregados salários ou parte dos pagamentos em Libra.
Quando a moeda for lançada, os usuários poderão usá-la por meio de uma carteira digital chamada Calibra, que permitirá o envio e o recebimento do dinheiro até mesmo por meio de um aplicativo de smartphone. Ainda não se sabe quais países farão parte do primeiro momento da Libra, apesar de o Facebook dizer que "quase todo mundo" no planeta com um celular terá como baixar o app.
Empresas de transporte privado, como Uber e Lyft, investidoras da moeda, sugeriram que podem permitir aos seus usuários pagarem os serviços com a Libra, apesar de não ser uma informação confirmada.
O Facebook afirma que espera rentabilizar a nova moeda em seu favor por meio de uma pequena tarifa cobrada a cada transação feita com a Libra – muitas dessas cobranças serão transferidas aos fornecedores, que podem usar a moeda para outros fins ou repassá-las aos seus usuários.