O Brasil está bem-posicionado para expandir sua economia de hidrogênio verde (H2V), mas precisa fortalecer a capacitação técnica e a formação de profissionais para atender à demanda crescente. Esse é o apontamento da pesquisa do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em parceria com o projeto H2Brasil – que integra a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, como parte dos esforços de apoiar a expansão do mercado de H2V no país.
De acordo com especialistas entrevistados, a formação técnica especializada é fundamental para o sucesso da implementação de plantas de hidrogênio verde e da transição energética no Brasil. O estudo também identificou que, embora a economia do hidrogênio ainda esteja em fase inicial, há grande potencial de crescimento e inovação, especialmente com o suporte adequado de políticas públicas e cooperação internacional.
Os entrevistados estimaram a necessidade anual de trabalhadores qualificados em três níveis:
- Nível médio (técnicos e trabalhadores qualificados): demanda média de 2.863 novos profissionais;
- Nível baixo (trabalhadores semiqualificados e não qualificados): demanda de 2.248 trabalhadores adicionais;
- Nível alto (cientistas e engenheiros altamente qualificados): demanda relativamente menor, concentrada em universidades e centros de pesquisa.
Em resposta a essa necessidade, o Senai lançou, no ano passado, a primeira pós-graduação em H2V da rede, pelo UniSenai.digital. Além disso, foi criado um centro de excelência no Rio Grande do Norte e mais cinco laboratórios regionais (Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Bahia e Ceará), voltados para a educação profissional e superior nesse novo setor.
Felipe Morgado, superintendente de Educação Profissional e Superior do SENAI, explica: “Teremos um primeiro movimento de especialização para quem possui nível superior, nas áreas voltadas à pesquisa, desenvolvimento tecnológico e regulação. O segundo movimento será direcionado à instalação e operação das plantas, que exigirá profissionais de nível técnico”.
Sobre o levantamento
O estudo, feito pelo diretor do Instituto de Inovação e Tecnologia de Berlím Marc Bovenschulte, entrevistou entre 7 e 21 de agosto 128 especialistas brasileiros em hidrogênio verde, distribuídos principalmente nas regiões Nordeste (42%) e Sudeste (39%), refletindo a localização dos principais projetos de H2V, como no Ceará e Piauí.
Um estudo recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que já há mais de 60 projetos de hidrogênio a partir de fontes renováveis anunciados no Brasil, com investimentos que somam R$ 188,7 bilhões. O Porto de Pecém (CE) se destaca como o destino que deve receber mais aportes financeiros, cerca de R$ 110,6 bilhões.
Por que “verde”?
O hidrogênio é considerado “verde” devido à forma como é produzido. Apesar de abundante na natureza, o hidrogênio dificilmente é encontrado na forma mais “simples” e quase sempre integra outras moléculas, como o metano (CH4) – gás natural – e a própria água (H2O). A extração do hidrogênio dessas moléculas requer energia, e quando essa energia é proveniente de fontes sustentáveis, como eólica e solar, o hidrogênio produzido recebe o rótulo de “verde”.
No levantamento, os entrevistados indicaram que a produção de hidrogênio por eletrólise (processo que quebra a molécula de água, resultando em H2 e O2) e biomassa terá alta demanda por profissionais qualificados – 44% e 36%, respectivamente.
Além disso, 50% dos respondentes afirmaram que a demanda por trabalhadores técnicos especializados será voltada para a instalação, manutenção e renovação de sistemas relacionados à produção do combustível.
Desenvolvimento do setor
Os especialistas avaliaram positivamente o progresso do setor nos últimos 18 meses, com 48% indicando que as condições para a criação de uma economia de hidrogênio já estão sendo implementadas. Outros 37% destacaram a importância das plantas-piloto na produção de hidrogênio, enquanto 35% mencionaram a expansão da cooperação internacional.
Futuro do H2V
Nos próximos dois ou três anos, 56% dos entrevistados preveem que a produção de hidrogênio por eletrólise será a área de maior crescimento, seguida pela produção a partir de biomassa (49%).
Produtos derivados, como amônia e metanol, também foram apontados como importantes para o futuro da economia do hidrogênio (38%).
O Projeto H2Brasil
O projeto H2Brasil faz parte da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável e é implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH e pelo Ministério de Minas e Energia (MME), com apoio do Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha.
O objetivo principal do H2Brasil é apoiar a expansão do mercado de hidrogênio verde no Brasil por meio de incentivo à pesquisa, troca de informações entre universidades brasileiras e alemãs, promoção de projetos de inovação e novas tecnologias, estudos de certificação e regulamentação voltados ao H2V e capacitação profissional.
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