Já faz quase três anos que o jovem Vitor Lourenço, preso no aeroporto por um voo atrasado, escreveu, em inglês, um singelo e autoexplicativo “esperando no aeroporto”. Era 19 de junho de 2007 e aquele foi seu primeiro “tweet”, seu texto, no Twitter. O designer Vitor Lourenço se notabilizou por ser um dos responsáveis pelas atuais feições do site que é um dos maiores fenômenos da internet mundial nos últimos anos. À época, Lourenço não podia tuitar em português. Mas a rede social está prestes a lançar sua versão em português, prevista para este ano.
Paulista de Campinas, Lourenço é o único brasileiro a trabalhar na sede do Twitter no Vale do Silício, epicentro das empresas de tecnologia na Califórnia, nos Estados Unidos. Ganhou alguma notoriedade em seu métier ao ser identificado, em 2008, como um dos responsáveis pela primeira grande reformulação da incensada rede social, criada dois anos antes. Em 19 de junho de 2007, Lourenço não sabia se seu avião chegaria, não sabia que contribuiria para o redesenho do Twitter e, naquele momento, sequer morava ainda nos EUA, mas agora já alimenta o comichão que acomete boa parte dos jovens empreendedores do Vale do Silício: criar sua própria empresa.
“Com certeza, antes dos 30 anos”, diz ele sobre a idade máxima que, imagina, terá ao abrir sua própria companhia – ou sua “startup”, como reza o anglicismo sobre as empresas de tecnologia recém-criadas. “As empresas mais importantes estão localizadas aqui: a cultura de inovação é constante e as pessoas estão muito mais abertas a novas ideias e possibilidades”, diz Lourenço, de 22 anos de idade.
Enquanto amadurece a ideia de criar sua própria companhia na Meca dos empreendedores digitais, Vitor desenha sua trajetória ao definir as feições de um dos sites mais populares do mundo. “Sempre fui fascinado por tecnologias que me permitissem criar”, diz ele. Essa fascinação tinha os brinquedos como válvula de escape: quando criança, Vitor os desmontava – “para saber como funcionavam” – e construía algo novo depois. “Passava dias inteiros brincando de Lego e dificilmente montava as construções da forma como eram propostas pelos manuais”.
Foi esse gosto por construir coisas novas que o levou a criar, ainda nos tempos de colégio, um aplicativo na internet de uso restrito aos colegas de sala de aula e que funcionava como uma espécie de Facebook para poucos – e em 2002, dois anos antes do nascimento da afamada rede social . Foi também com esse espírito que Vitor criou, em 2007, o FoodFeed, uma espécie de Twitter gastronômico. Enquanto o Twitter nasceu para que seus usuários respondessem a pergunta “o que está acontecendo?”, o FoodFeed perguntava “o que você está comendo?”. O desenho limpo, simples, do FoodFeed chamou a atenção de Evan Williams, criador do Twitter, e Vitor acabou convidado para trabalhar na empresa americana.
A mudança para a Califórnia ocorreu depois de uma temporada de estudos no Instituto Europeo di Design, que tem uma escola em São Paulo, e de passagens profissionais por Globo.com e Yahoo! Brasil. Nas atividades em seu atual empregador, Vitor busca aplicar os preceitos de simplicidade que nortearam o FoodFeed e aos quais se ateve o agora patrão Evan Williams. É o tal “princípio do canivete suíço”: enquanto um recurso é utilizado, os outros ficam escondidos. É a escola que tem como um dos expoentes o americano John Maeda, designer, professor e autor do best-seller “As Leis da Simplicidade”.
Do Twitter para o "Twicker"
Nada simples é Vitor imaginar sua rotina longe do Twitter – o qual ele consulta ao longo de quase todo o período em que permanece conectado à internet, geralmente das 11h às 3h da madrugada do dia seguinte. Nas horas de folga, em lugar de Twitter ele vai de “Twicker”, mais uma de suas criações. Esse aplicativo cruza os tópicos mais populares do Twitter no momento com as fotos do Flickr, site de armazenagem e compartilhamento de imagens – é um “mashup”, no jargão da internet, a junção de informações de dois sites diferentes para a criação de um terceiro. “Com isso, consigo montar um panorama visual do que está acontecendo no momento ao redor do mundo”, diz Lourenço.
Mais difícil ainda é Vitor Lourenço imaginar a cara do Twitter daqui a 30, 40 anos – quando, se tudo der certo, a empresa que ele próprio pretende criar já terá um bom tempo de estrada. “Mas acredito que algumas necessidades básicas humanas não irão mudar”, diz ele, um corintiano que pode até ficar contrariado com o desempenho de seu time, mas que está bastante feliz com a presença ativa do técnico Mano Menezes na rede social. “Continuaremos a compartilhar informações e a nos conectar com outras pessoas, mas provavelmente por meio de novas interfaces e dispositivos”, diz.
O brasileiro do Twitter, que deu seu alô ao mundo com um singelo “esperando no aeroporto”, não faz ideia de como se despedirá da rede social em seu derradeiro tweet. “Espero que seja algo natural, que não tenha cara de último”, diz ele, que sonha alto sobre o futuro que ele mesmo pode criar. “E que tenha sido enviado de outro planeta”. As informações são do IG