Centenas de moradores do oeste maranhense vivem com medo do avanço das voçorocas — um fenômeno natural que lá ganhou dimensões gigantescas pela falta de infraestrutura. Se vistas do alto as voçorocas impressionam, imagine o pavor de quem vive ao lado do perigo.
“Quando tá chovendo cai a barreira, que estremece o chão”, contou Expedita Costa da Silva, lavradora.
A cidade de Buriticupu, fica sobre um platô cercado de vales. As ruas geralmente terminam em ribanceiras. Sem canalização adequada, quando chove, a água vai abrindo caminhos por onde passa.
“Tem uma cidade que não tem saneamento básico, tem uma cidade que tem ruas direcionadas para encoste, então canaliza toda a água para lá, tem o esgoto que cai nesses lugares, vai intensificando, tem uma população que é vulnerável, mas que não quer sair porque não tem ainda uma sensibilidade, nem tem para onde ir”, acrescentou Marcelino Farias, professor e doutor em ciência do solo.
Sem obras de contenção, 26 crateras gigantes crescem em direção à cidade. Algumas chegam a 600 metros de extensão e 80 de profundidade.
Centenas de casas estão ameaçadas, muitas já abandonadas, porque estão à beira do abismo. Em dez anos, as crateras engoliram 53 casas. Três, só neste ano.
Uma delas, a do seu Carlos, que o Jornal Nacional mostrou, em março do ano passado. Na época ele falava do medo. No mês passado, a casa dele desabou com a barreira. Ele havia deixado o lugar dias antes.
“Saí porque não tinha jeito, não senhora, não dava mais de ficar tava muito próximo, aí foi o jeito sair. Eu sinto saudade, do jeito que eu trabalhei muito pra comprar, ai perdi, né”, afirmou Carlos Rodrigues Mendes, lavrador.
A família de seu Benedito retira o material do telhado para aproveitar na construção de uma casa nova. No início do mês o aposentado foi obrigado a se mudar.
“Ah, deu trabalho demais, isso foi luta para gente fazer uma casinha velha dessa. […] E agora teve que deixar, mas é assim mesmo. Não tem nada a fazer”, lamentou Benedito.
Quando uma pessoa deixa o lugar onde viveu a vida inteira, vê a casa ser engolida por uma voçoroca, a angústia dos vizinhos aumenta ainda mais. Porque cresce a certeza de que a cratera pode bater à porta deles.
“A cada pessoa que vai saindo mais próximo da gente vai chegando. Então, uma hora pode ser minha vez. Então, isso aí deixa a gente com sentimento de medo e frustração”, afirmou Miqueias Oliveira, vendedor.
Do ano passado até agora, o município recebeu mais de R$ 4 milhões do governo federal. Em nota, a prefeitura de Buriticupu informou que os recursos foram destinados à assistência emergencial e para construção de 89 casas populares para as famílias afetadas pelas crateras. E que a obra já foi licitada. E que aguarda recursos federais para obras emergenciais de drenagem das crateras.
O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional disse que a prefeitura solicitou o repasse de R$ 40.888.460,25, e que o processo está em fase final de avaliação.
“Recuperar é uma questão muito cara. Mas a contenção ela tem que ocorrer pra que novas áreas não sejam prejudicadas. A contenção se dá por obras de engenharia que são caras, são questões de milhões, mas tem que começar a ser feito, de algum modo”, completou Marcelino.
“A gente tá aqui provisório, porque a qualquer hora pode ser despejado. É bem aterrorizante”, disse Carlos Josélio Martins, microempreendedor.
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram