Brasil

Paulo Mendes da Rocha, referência na arquitetura mundial, morre aos 92 anos em SP

A informação foi confirmada neste domingo (23) pela assessoria de imprensa do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR). A causa da morte não foi informada. Mendes da Rocha foi um dos mais premiados arquitetos do país.

Acorda Cidade

O arquiteto Paulo Mendes da Rocha, referência mundial na arquitetura, morreu aos 92 anos em São Paulo na madrugada deste domingo (23). A informação foi confirmada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR) e por familiares. A causa da morte não foi informada.

"Depois de projetar tantos edifícios em concreto e aço, meu pai foi projetar galáxias com as estrelas!", escreveu o filho Pedro Mendes da Rocha nas redes sociais.

Paulo nasceu em 25 de outubro de 1928 em Vitória, no Espírito Santo, mas morava na Vila Buarque, bairro do Centro da capital paulista. Ele recebeu prêmios internacionais na arquitetura, como um Leão de Ouro de Veneza, o Prêmio Imperial do Japão e uma Medalha de Ouro da União Internacional dos Arquitetos.

Mendes da Rocha foi um dos dois únicos brasileiros a receber o Prêmio Pritzker, o mais importante da arquitetura mundial e considerado o Nobel da área. Antes dele, que foi premiado em 2006, apenas Oscar Niemeyer, em 1988, havia levado. Niemeyer morreu aos 104 anos, no Rio de Janeiro, em 2012.

Na cidade de São Paulo, o arquiteto foi responsável por obras consagradas como os projetos de reforma do Museu da Língua Portuguesa e da Pinacoteca do Estado. Entre suas obras na capital estão ainda o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), o arco da Praça do Patriarca e o Sesc 24 de Maio.

Paulo Mendes da Rocha também projetou o Museu Nacional dos Coches, em Portugal, país com o qual tinha ampla relação profissional. Em 2020, o arquiteto anunciou a doação de seu acervo, com mais de 6300 desenhos e cerca de 3 mil fotografias, à Casa da Arquitectura, em Portugal.

'Arquiteto brilhante'

Em nota, a Fundação Roberto Marinho lamentou a morte de Paulo Mendes da Rocha. A Fundação é parceira na reconstrução do Museu da Língua Portuguesa, após o fechamento do local por conta de um incêndio em 2015.

"A Fundação Roberto Marinho lamenta a partida do brilhante arquiteto Paulo Mendes da Rocha, responsável juntamente com seu filho, Pedro Mendes da Rocha, pelo projeto arquitetônico do Museu da Língua Portuguesa, entre tantas outras obras relevantes. A reabertura do museu, no segundo semestre, será uma homenagem a ele, como parte do seu grande legado ao país", diz o texto.

O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) também lamentou a morte de Paulo Mendes da Rocha.

"Paulo Mendes contribuiu profundamente para a formação da cultura arquitetônica e urbanística brasileira e mundial. […] Neste ano, foi premiado com a medalha de ouro da União Internacional de Arquitetos (UIA), a quem será feita uma homenagem oficial durante a ocasião do Congresso Mundial de Arquitetos (UIA2021RIO), a realizar-se em julho deste ano. O arquiteto é autor de obras marcantes na paisagem e na cultura brasileira. O IAB se solidariza com familiares, amigos e colegas e agradece imensamente por toda sua história, contribuições e legado: obrigado, Paulo."

A Pinacoteca de São Paulo também se manifestou.

"A Pina Luz, como a conhecemos hoje, é fruto do trabalho de Paulo e sua equipe, que nos anos 1990 reformou e atualizou as partes internas do edifício histórico de Ramos de Azevedo para receber com dignidade as obras da coleção, as exposições temporárias e claro, o público. Em nome de todos os funcionários da Pinacoteca de São Paulo, nos solidarizamos com a família por esta enorme perda", disse em nota.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), lamentou a morte de Paulo Mendes da Rocha em publicação nas redes sociais.

"O Brasil está triste com a perda de Paulo Mendes da Rocha, um dos maiores nomes da nossa arquitetura de todos os tempos. Minha solidariedade aos familiares e amigos", disse Doria.

O presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (DEM), também emitiu uma nota de pesar pela morte do arquiteto.

"A capital paulista, o Brasil e o mundo perdem hoje um gênio da arquitetura: Paulo Mendes da Rocha, aos 92 anos. Ele, que recebeu todos os prêmios da arquitetura mundial, deixa marcas culturais importantes na cidade, como a Pinacoteca e o Museu da Língua Portuguesa. Professor da USP, Paulo Mendes fazia da arquitetura instrumento de liberdade, tanto que chegou a ser cassado pelo regime militar", disse.

"A Câmara Municipal de São Paulo lamenta o falecimento deste homem que prezou o que temos de mais importante: nossa democracia", completou.

Perfil

Paulo Mendes da Rocha nasceu em Vitória (ES), em 1928. Formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1954.

Uma de suas primeiras criações após a graduação foi a Poltrona Paulistano, uma peça de mobiliário que compõe a coleção permanente do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) desde o ano de 2009, e que é distribuída e vendida em todo o mundo.

Aos 29 anos, Mendes da Rocha venceu o concurso para fazer o projeto do Ginásio do Clube Atlético Paulistano, em São Paulo, junto a João de Gennaro. Pelo ginásio, ganhou o Grande Prêmio Presidência da República na 6ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1961.

Ainda em 1961, se tornou professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP).

Em 1969, com o AI 5, foi afastado da FAU e teve seus direitos políticos cassados. Ainda em 1969, venceu o concurso nacional para o Pavilhão do Brasil na Expo 70, em Osaka, no Japão.

Em 1971, seu projeto para o Centre Georges Pompidou (Beaubourg), em Paris, foi um dos premiados. O arquiteto voltou à USP em 1980 e foi professor titular até 1998, quando foi aposentado compulsoriamente por ter feito 70 anos.

Foi presidente do departamento paulista do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/SP) em dois momentos (1972-1973 e 1986-1987). Em 1993, foi responsável pelo projeto da reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em 1996, pelo projeto do Centro Cultural da FIESP.

Reconhecimento Internacional

  • 1993: participou da VII Bienal de Arquitetura de Veneza, na Itália;
  • 1994: participou da V Bienal de Arquitetura de Havana, em Cuba;
  • 1996: o livro "Mendes da Rocha" – uma coedição as editoras Blau, de Portugal, e Gustavo Gilli, da Espanha;
  • 1997: Sala Especial Mendes da Rocha na X Documenta de Kassel, na Alemanha;
  • 1998: ganhou o Prêmio pela Trajetória Profissional na 1ª Bienal Ibero-Americana de Arquitetura, realizada em Madri, na Espanha;
  • 1999 e 2000: Prêmio Mies Van der Rohe de Arquitetura Latino-Americana, pelos projetos do Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE) e da reforma da Pinacoteca do estado de SP, respectivamente;
  • 2001: o livro “Paulo Mendes da Rocha: Bauten und Projekte” foi publicado na Europa pela editora suíça Niggli Verlag;
  • 2006: ganhou o Prêmio Pritzker, considerado o "Nobel da Arquitetura";
  • 2009: recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela University of Architecture and Urbanism "Ion Mincu", na Romênia, pela Universidade de Lisboa, em Portugal, e pela Universidad Nacional de Córdoba, na Argentina;
  • 2015: recebeu o título de Membro Honorário do Conselho Internacional de Arquitetos de Língua Portuguesa (CIALP);
  • 2016: ganhou o prêmio Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza
  • 2017: recebeu a Medalha de Ouro do Royal Institute of British Architects (RIBA), por ter influência no avanço da arquitetura mundial;

Fonte: G1

Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais recentes
mais antigos Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários