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De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), mais de 30 mil pessoas estão na fila de espera para fazer algum tipo de transplante no Brasil. Por sinal, nesta quinta-feira (27) é comemorado o Dia Nacional da Doação de Órgãos.
A servidora pública Ednizia Figueiredo, mais conhecida como Nina, de 52 anos, mora em Brasília. Ela fez um transplante de rim e de pâncreas em 2004. Tudo começou quando teve diabetes tipo juvenil. Por conta da doença, ela perdeu a visão e a função renal ao mesmo tempo. Ela entrou na lista de espera para conseguir fazer o transplante e durante três anos, fez hemodiálise. Para quem não conhece a hemodiálise é um método de filtração do sangue por meio de um rim artificial. A Nina conseguiu uma consulta em São Paulo, fez uma série de exames para ver se estava apta e como a transplante dela seria de dois órgãos, o pâncreas e o rim, o processo para a realização da cirurgia foi mais rápido. Ela aguardou só mais quatro meses e conseguiu realizar o sonho dela.
“Eu já não urinava, não podia comer açúcar por causa do diabetes, não podia tomar água porque quem faz hemodiálise tem que tomar o mínimo de água possível, mas com relação ao transplante foi muito tranquilo, eu fiquei muito feliz, o resultado foi ótimo. O transplante para mim foi uma coisa muito importante, foi uma qualidade de vida que eu não tinha mais e eu faria de novo.”
Já o técnico de enfermagem Roni Schiochet, de 39 anos, também teve diabetes tipo 1. Como ele não cuidou da doença, aos 21 anos, também entrou na hemodiálise. Foram 4 anos e meio de muita dor e revolta. Quando em 2001, ele fez o transplante de rim. A doadora foi a própria mãe. Mas, como o diabetes dele estava muito descontrolado, Roni acabou perdendo o rim 3 dias após a cirurgia. Ele e mãe ficaram sem o rim, e as hemodiálises voltaram. Quando foi em 2006, ele conseguiu fazer o transplante de rim e de fígado ao mesmo tempo. E segundo ele, tudo isto só foi possível, porque uma família disse ‘sim’ para a doação.
“Foi por causa de um sim que eu continuo vivo. É por causa de um sim que eu posso tomar um copo de água tranquilo; que eu posso viver, eu posso ter as minhas alegrias, eu posso abraçar meus filhos todo o dia, a minha esposa e é por causa desse sim que a minha vida continuou.”
De acordo com o Dr. André Ibrahim, da ABTO, o Brasil é o país que tem o maior serviço de transplantes pelo sistema de saúde público do mundo. Mas mesmo assim, a fila de espera é muito grande.
“No Brasil tem mais de 30 mil pacientes esperando nesta lista para fazer um transplante. Esta fila não vai acabar nunca, porque sempre alguém vai ter o diagnóstico de alguma situação em que vai precisar do transplante e isso é normal. Apesar de a gente fazer 5 mil transplantes de rim, a gente precisaria fazer 6 mil. Apesar de a gente fazer 2 mil transplantes de fígado, a gente precisaria fazer 4 mil, para que as pessoas não morram aguardando por um órgão.”
A vice-presidente da Sociedade de Patologia, Dra. Kátia Ramos Moreira Leite, ressalta a importância de conversar com os familiares sobre doação de órgãos.
“O que é importante é lembrar que todo mundo tem que estar consciente dessa necessidade; então conversar sobre este assunto, debater em casa, ver qual é o desejo dos familiares sobre isto. Isso vai facilitar a decisão em um momento desse. Ninguém espera passar por este momento, mas, infelizmente, é uma coisa que a gente pode se deparar.”
O pulmão, por exemplo, precisa estar em excelentes condições para ser usado para transplante e não pode ficar muito tempo fora do corpo humano. Segundo a ABTO, o órgão pode ficar apenas de 4 a 6 horas no transporte. Diferente do rim que pode ficar 24 horas. Os transplantes mais realizados no país são o de rim, com 5 mil cirurgias, em média, por ano, seguido do transplante de fígado, com cerca de 2 mil cirurgias.
Embora o processo para a doação no Brasil tenha apresentado evoluções importantes com sua desburocratização, o último levantamento da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), aponta que a quantidade de procedimentos no Brasil neste ano apresentou números bem próximos ao primeiro semestre de 2017, com um crescimento de apenas 1,7%.