Pesquisa divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, em quatro décadas, a taxa de fecundidade brasileira caiu de seis filhos por mulher, até 1960, para dois, em 2006. Ao mesmo tempo, a esperança de vida ao nascer chegou a 72,1 anos, em 2005, contra 62,4 anos na década de 80. De acordo com o estudo "Indicadores Demográficos e Saúde", os índices apontam para o envelhecimento populacional, exigindo novas prioridades na área das políticas públicas.
O aumento da esperança de vida reflete, entretanto, diferenças regionais marcantes. Em 1940, o Nordeste já apresentava o menor valor, 36,7 anos, contra 49,2 anos no Sul; 47,9 anos no Centro-Oeste; e 43,5 anos no Sudeste. Somente a partir de meados da década de 70, com a ampliação da rede assistencial, da infraestrutura de saneamento básico e da escolarização, tem início uma redução significativa nos padrões da desigualdade regional em relação à mortalidade, com o Nordeste apresentando os maiores aumentos da esperança de vida. As diferenças entre o Nordeste e o Sul, de 19 anos nas décadas de 1960/70, se reduzem para 5 anos em 2005.
O levantamento mostra ainda que a redução das taxas de fecundidade é impulsionada pelo aumento da instrução feminina. Apesar dos grupos menos instruídos ainda apresentarem taxas de fecundidade mais elevadas, essa diferença vem diminuindo. O diferencial, que, em 1970, era de 4,5 filhos por mulher, declina para 1,6 filhos em 2005, puxado sobretudo pela queda na taxa de fecundidade das mulheres com até três anos de estudo, que passa de 7,2 filhos para 3,0 filhos.
Proporção de mães que realizaram pré-natal chega a 54,5%
Em relação à assistência pré-natal, no período entre 2000 e 2006, houve aumento da proporção de nascidos vivos cujas mães realizaram sete ou mais consultas, passando de 43,7% para 54,5%, enquanto a proporção de mães que não realizaram nenhuma consulta caiu de 4,7% para 2,1%.
Em São Paulo e no Paraná, o percentual dos que passaram pelo pré-natal foi superior a 70%. Acre e Amapá lideram o ranking dos que não foram a nenhuma consulta, com 11,1% e 9,6%, respectivamente.
Ainda de acordo com a pesquisa, houve crescimento da proporção de nascimentos por cesarianas em todas as regiões do Brasil. Os maiores índices foram observados, em 2006, nas regiões Sudeste e Sul. O Norte foi a região do país com o menor percentual de cesarianas naquele ano.
O Ministério da Saúde afirma que a cesariana já representa 43% dos partos realizados no Brasil nos setores público e privado, quando a recomendação da Organização Mundial da Saúde é para que as cesáreas sejam de, no máximo, 15% dos partos, limitando-se a situações de risco tanto da mãe quanto da criança.
Hospitalizações no SUS de idosos custam em média R$ 179 por pessoa
O estudo aponta também que, em menos de 40 anos, o Brasil passou de um perfil de mortalidade típico de uma população jovem para um desenho caracterizado por enfermidades complexas e mais onerosas. Segundo a pesquisa, entre os que têm até 14 anos, foram reportados apenas 9,3% de doenças crônicas, mas entre os idosos este valor atinge 75,5% (69,3% entre os homens e 80,2% entre as mulheres).
O custo da internação per capita também tende a aumentar à medida que a idade aumenta, passando de R$ 93 por idoso na faixa etária de 60 a 69 anos, para R$ 179 entre aqueles de 80 anos ou mais. Os homens idosos apresentaram, em 2006, um custo per capita (R$ 100) menor do que as mulheres (R$ 135). De acordo com o estudo, apenas 29,4% da população de 60 anos ou mais possui cobertura de planos de saúde.
Câncer passou a matar mais os idosos
Embora dentro dos parâmetros da portaria 1.101 do Ministério da Saúde, em quase todos os casos (com exceção do raio X para densitometria óssea) a oferta dos equipamentos entre os setores público e privado é desigual. Dados do novo estudo, retirados da Pesquisa de Assistência Médico Sanitária, de 2005, mostram, por exemplo, que o número de aparelhos de ultrassom chegava a 246,8 por um milhão de habitantes nos hospitais privados e era de apenas 31,3 no Sistema Único de Saúde. O custo da internação per capita no SUS também aumenta com a idade: R$ 93 por idoso na faixa etária de 60 a 69 anos, para R$ 179 entre os com 80 anos ou mais.
– Esses dados nos colocam, além da discrepância, a possibilidade de que a falta de acesso possa prejudicar o atendimento – diz o pesquisador Marco Antônio Andreazzi, do IBGE, ressaltando que, apesar de menor do que no setor privado, o número de equipamentos para diagnóstico no setor público cresceu 20% em 2005 em relação a 1999.
O câncer passou a matar mais idosos, segundo dados do Ministério da Saúde utilizados pela pesquisa do IBGE. De 1996 para 2005, o percentual das pessoas com mais de 60 anos que morreram com neoplasias passou de 13,3% a 16%. A "responsabilidade em proteger o contingente de idosos, em processo de crescimento", apontada pelo estudo, se confirma por outra projeção: enquanto em 2000, para cada grupo de 100 pessoas em idade ativa, 13,1 eram idosos, em 2050, esse número chegará a 52,1, segundo o instituto.
Violência faz esperança de vida masculina reduzir em 3,2 anos
As mortes violentas continuam sendo responsáveis por perdas significativas de anos de vida do sexo masculino. Em 1996, causas externas acarretaram uma redução de 3,4 anos na expectativa de vida dos homens e, em 2005, de 3,2 anos. Para as mulheres, o número de "anos de vida perdidos" é bem inferior: 0,83 ano, em 1995, e 0,65 ano, em 2005.
Ainda de acordo com a pesquisa, entre 2000 e 2005, cresceu o percentual de homicídios masculinos nas regiões Sul, Norte e Nordeste, onde, em 2005, as taxas elevaram-se a cerca de 40%. No Sudeste, porém, houve redução dos homicídios no mesmo período: de 48,0% para 41,6%. Desses, a maioria ocorreu com uso de arma de fogo, passando de 72,4 (por 100 mil jovens), para 74,5, em 2005.
Informações do O globo