Solidariedade

Em gramado, gaúcho relata trabalho voluntário para socorrer vítimas das enchentes

O gaúcho ressaltou que uma tragédia como essa aconteceu há mais de 80 anos, quando a cidade não tinha a mesma estrutura que se tem hoje.

doações para o Rio Grande do Sul - Anderson da Conceição
Foto: Arquivo Pessoal

A tragédia no estado do Rio Grande do Sul segue desde o dia 29 de abril. Na segunda-feira (13), após um final de semana crítico com o retorno das fortes chuvas, o tempo cessou, mas o frio intenso tomou conta da região. Em um relato preciso de quem está atuando no socorro ao povo gaúcho, Anderson da Conceição Inácia, de 46 anos, deu um depoimento ao Acorda Cidade, sobre o trabalho solidário na linha de frente para ajudar. Já ultrapassa um número de quase dois milhões de pessoas afetadas. 

O gaúcho ressaltou que uma tragédia como essa aconteceu há mais de 80 anos, quando a cidade não tinha a mesma estrutura e o número de habitantes que se tem hoje. Os transtornos destas fortes chuvas foram tantos, somando até o momento 136 mortos. Há 15 dias do início do desastre, muitas cidades ainda não baixaram o nível da água. 

doações para o Rio Grande do Sul - Anderson da Conceição
Foto: Arquivo Pessoal

Natural de Porto Alegre, Anderson mora há quatro anos em Gramado, cidade onde atua no ramo do turismo e que, ele já pôde iniciar o trabalho voluntário para ajudar as vítimas. Entretanto, há outros lugares que só é possível ajudar quando a água baixar.  

voluntário
Foto: Arquivo Pessoal

“Aqui nós estamos na serra. Estamos dando um suporte para cidades do entorno de Gramado e Canelas, as cidades de Igrejinha e Três Coroas que foram as primeiras cidades afetadas na Serra Gaúcha, com Bento Gonçalves e outros municípios pequenos da região. Estamos focando aqui em cima porque na capital e região metropolitana a água não baixou, então não temos o que fazer. Enquanto a água não baixar não tem como ir ajudar a limpar as casas, levar alimento, água, então estamos focando onde a água já baixou”. 

Ao Acorda Cidade, ele falou sobre o cenário de destruição que encontra por onde passa na região. São casas alagadas, pessoas desoladas e amedrontadas pelas águas e pelas incertezas.

doações para o Rio Grande do Sul - Anderson da Conceição
Foto: Arquivo Pessoal

“Principalmente as pessoas que moram próximas ao rio, a água levou tudo, só deixou as casas, a água entrou até o teto. As pessoas perderam absolutamente tudo, muito triste. Nós vamos para dentro das casas das pessoas, é muito triste o que a gente vê. É caótico. Parece que passou um furacão na terra gaúcha”. 

“Não conseguimos nada absolutamente sozinhos”, foi uma fala de Anderson que reforçou a grande força tarefa que todo o país está movendo para cuidar do estado do Rio Grande de Sul. 

Através de uma agência de turismo a qual é proprietário, Anderson, tem contado com o apoio dos clientes para arrecadar doações. Juntos, eles se tornaram verdadeiros amigos pelo bem maior de ajudar o estado.

doações para o Rio Grande do Sul - Anderson da Conceição
Foto: Arquivo Pessoal

Para facilitar o socorro, o grupo está arrecadando valores e montando kits para doar diretamente nas casas de muitos que não conseguem sair de suas residências ou encontram dificuldades, por conta da lama, para chegar aos pontos de distribuição. 

O objetivo é justamente arrecadar o máximo possível para conseguir beneficiar o maior número de famílias. 

doações para o Rio Grande do Sul - Anderson da Conceição
Foto: Arquivo Pessoal

“Tem pessoas que não conseguem nem limpar as suas casas. Então, estamos indo diretamente no foco, dentro das casas, entregando o que a gente pode entregar nos lugares mais longínquos da serra. Tentando alcançar o maior número de pessoas. Quanto mais nós arrecadamos, mais conseguimos comprar para mais pessoas. Esse é objetivo das pessoas representadas pela nossa agência, nossos turistas, nossos amigos/clientes. É impressionante o que essas pessoas estão fazendo para ajudar”. 

doações para o Rio Grande do Sul - Anderson da Conceição
Foto: Arquivo Pessoal

Anderson tem parentes na região de Eldorado do Sul e aguarda a água baixar para poder ajudar. Ele explicou que a cidade subiu em torno do Rio Guaíba, então as famílias acabam sendo afetadas pelas cheias há muitos anos. Até hoje, já são 444 municípios em calamidade por conta da devastação.  

“Faz cinco dias que a gente entra na casa das pessoas e às vezes elas precisam apenas de um abraço. A força do gaúcho, assim como a força do povo brasileiro, é algo surreal, de louvar. El Dourado é uma cidade próxima ao Rio Guaíba, então, toda chuva forte, a água inunda, principalmente a parte Ribeirinha”.

doações para o Rio Grande do Sul - Anderson da Conceição
Foto: Arquivo Pessoal

Além disso, segundo Anderson, já ouviu notícias de que a cidade será reconstruída em outro lugar para evitar que o problema estrutural perdure.

Sobre os casos de roubos e estupros que vêm ocorrendo na região, ele comentou que mesmo as pessoas perdendo tudo, sem ter onde pisar, elas querem estar em suas residências, justamente pelo medo de serem roubadas. 

“A polícia tem tido medidas de segurança dentro das áreas alagadas, na região de Canoas, São Leopoldo, Porto Alegre, estão fazendo ações para diminuir os roubos nessas localidades. Mas, as pessoas não querem sair mesmo correndo risco de vida, já perderam muita coisa e não querem perder o resto. Referentes aos abusos, tem acontecido, sim, o que acontece nas comunidades está sendo transferido para os abrigos. As pessoas que estão perdendo tudo, também tem gente de má índole, claro que a maioria das pessoas que estão nos abrigos são pessoas boas, do bem, mas vão junto pessoas ruins. ”, destacou. 

Para o gaúcho, ainda há muito que se reorganizar para reconstruir o que restou após essa tragédia. 

doações para o Rio Grande do Sul - Anderson da Conceição
Foto: Arquivo Pessoal

“A parte pior, e ela está por vir, é o pós-enchente. Nós que estamos na linha de frente, ajudando, chegando mais perto das pessoas, estamos observando o psicológico e quando essas pessoas colocarem a mão a cabeça e não verem nada, tudo que construiu foi por água abaixo, eu acho que a parte psicológica será a mais afetada, não só de quem sofreu perdendo bens materiais ou entes queridos, são várias situações psicológicas. Nós que estamos na linha de frente psicologicamente também é muito desgastante”, pontuou. 

doações para o Rio Grande do Sul - Anderson da Conceição
Foto: Arquivo Pessoal

Anderson ressalta que mesmo as pessoas que têm um maior poder aquisitivo, nesse momento, precisam ser mais humildes, precisam de um abraço e de uma palavra de força para seguir em frente em meio ao caos que se estabeleceu tão rapidamente em suas vidas. De acordo com ele, é preciso que todos busquem forças para seguir.

“Mais força para nós arrecadarmos, para botar nossa cara a tapa na internet, nas redes sociais para que as pessoas nos ajudem a continuar realizando esse trabalho, enviando produtos, materiais de higiene e limpeza, cobertores, roupas, água, muita água porque vamos ficar um período muito grande sem beber água que sai da torneira”, explicou.

doações para o Rio Grande do Sul - Anderson da Conceição
Foto: Arquivo Pessoal

‘Toda Vida Importa’  

Imagens de um cavalo sendo resgatado em cima do telhado de uma casa, pessoas sendo socorridas com seus pets nos braços, são imagens emocionantes que todos os brasileiros têm acompanhado nos últimos dias. 

Desde a tragédia, mais de 10 mil animais já foram socorridos e resgatados no Rio Grande do Sul, segundo a Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema/RS).

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Foto: CBMBA

‘Toda Vida Importa’, foi a hashtag puxada para incentivar a proteção animal em meio às enchentes. Uma corrente de solidariedade foi criada nas redes sociais, para ressaltar a importância dos cuidados com os animais afetados pela destruição, principalmente, após questionamentos sobre a vida dos animais serem menosprezados por algumas pessoas.

Sofia, filha de Anderson, pediu para faltar à aula para ajudar na entrega dos kits, o que demonstra que ainda há esperança e sensibilização da sociedade para salvar qualquer vida. Ele agradeceu e reforçou o serviço desempenhado pelos bombeiros e ONGs, no salvamento dos animais. 

“As pessoas seguem pessoas, umas acreditam nas outras e é sobre isso. A corrente do bem é positiva para que a gente consiga fazer. Para que a gente chegue nas pessoas afetadas”, ressaltou. 

Quem puder doar qualquer valor, pode enviar através da chave PIX 91959276034 (Anderson da Conceição Inácio).

Ouça o relato do gaúcho Anderson da Conceição:

Com informações da jornalista Iasmim Santos do Acorda Cidade

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