Muitas pessoas podem imaginar que não há o que se comemorar no Dia dos Solteiros, celebrado hoje dia 15 de agosto. Mas os solteiros que falem por si. Há quem está sozinho porque ainda não encontrou o par certo, há aqueles que estão sem um par por escolha e outros que verdadeiramente seguem a solitude como forma de autoconhecimento.
Em entrevista ao Acorda Cidade, a psicóloga e psicopedagoga, Fabiana de Santana Cardeal, explicou os conceitos e percepções do singlismo, a discriminação e os estereótipos que pessoas que vivem sozinhas podem passar ao longo da vida.
“Muitas pessoas vêem como problema, mas isso passa a acontecer por uma questão de julgamento social. Primeiro denota que todo mundo tem que casar, principalmente a mulher, às vezes ela não tem esse desejo. Mas imagine que ela tem mais de 30 anos e todas as vezes que ela vai numa festa de família, qual a primeira cobrança? Cadê o namorado, o marido, o filho. Você pode ser bem sucedida em todas as áreas, mas se você não tiver um marido, você está inadequada perante o olhar social, então, passa a ser um olhar preconceituoso, tanto para homens quanto para mulheres, levando em consideração que elas sofrem mais por conta daquele velho pensamento de que a mulher nasceu para casar”, explica Fabiana.
Segundo ela, o Singlismo surge em 2005, a partir dos estudos das psicólogas, Bella DePaulo e Wendy Morris, que começaram a estudar o comportamento dos solteiros. Esse nome caracteriza o preconceito e a exclusão sofrida pelas pessoas que são solteiras.
Em seu livro, ‘O melhor da vida de solteiro/a’, a autora DePaulo traz uma série de textos que descrevem como viver sozinho pode ser gratificante para quem escolhe sabiamente viver assim. Termos como ficar para titia, encacalhado, solteirona, são alguns estereótipos que não vão incomodar quem realizou essa escolha de coração, mente e espírito.
A psicóloga fala que na nossa sociedade ainda persistem alguns padrões de comportamento que podem ser prejudiciais para as pessoas, esse tipo de preconceito é um deles, pois pode afastar os solteiros dos ciclos sociais, principalmente familiares.
“Existem pessoas hoje que já sabem que serão rechaçadas em determinados grupos. Mulheres casadas têm amizades com pessoas solteiras, mas existem mulheres casadas que não querem esse contato. A pessoa solteira se sente excluída. Existe um outro ponto muito importante, as mulheres solteiras sofrem mais assédio do que as casadas. As mulheres solteiras quando precisam de algum serviço domiciliar, um pedreiro, um encanador, elas são as mais acometidas, de ser cobrado um preço maior a elas. Tenho pacientes que relatam várias vezes que tem dificuldade de ir em reuniões familiares, que ela faz de tudo para não entrar em contato com tias, primos, porque ao adentrar o espaço, a primeira pergunta é se já arrumou um namorado”.
Manter uma relação conjugal dispõe de comprometimento, respeito e muita paciência para lidar com as atitudes do outro. Por isso, as pessoas que namoram e casam, podem enxergar os solteiros com aquele velho rótulo de desleixado com compromissos, festeiro, que só quer curtir a vida ou que não se esforçou para conseguir alguém. Muito além desses estigmas, pessoas solteiras trabalham, pagam suas contas, comem e dormem, tem amigos, viajam, alguns tem relações sexuais ou não, esse também é um outro tipo de escolha, mas o que podemos dizer é que vivem normalmente e se saberem viver, vivem felizes em sua própria companhia.
“Quantas vezes escutamos, eu estou casada, mas não estou feliz. É entender que ser solteiro é uma escolha e a pessoa precisa estar bem. Porque para a psicologia não existe a velha história da metade da laranja. Então, eu sou feliz sozinha, inteira. Perpassa de um relacionamento comigo mesmo para depois o relacionamento com o outro. Não é porque eu sou solteira que eu tenho alguma psicopatologia, que eu sou inadequada, que eu tenho problemas de relacionamento, pode ser uma escolha que eu fiz”, fala a psicopedagoga.
Além da exclusão, Fabiana explica que o singlismo pode afetar a autoestima, principalmente das mulheres pela forte influência do machismo, a discriminação contra a mulher. Neste sentido, o homem que não se casa até os 30 anos é feliz, festeiro e faz bem esperando a pessoa certa, já para a mulher, a visão que predomina é que ela não foi suficiente para encontrar alguém.
“Se a gente parar para pensar, o homem é o sabido, ainda não se rendeu, é o pegador. Já teve várias mulheres, mas ainda não se casou. Deve estar escolhendo. E existe aquilo, a mulher até os 20 anos ela pode escolher, depois disso, ela é escolhida. Então existe esse paradigma que é preciso ser quebrado, estamos falando de uma maneira para que a sociedade possa se conscientizar em relação a isso. Homens e mulheres são diferentes, mas o tratamento deve ser o mesmo, porque somos seres humanos” disse.
Para combater todas essas visões que diminuem o ser humano e não acrescentam positivamente em nada, a psicóloga sugere a imersão na solitude, o ato de estar sozinho consigo mesmo, de maneiras mais sábias e que trazem felicidade plena para a vida que os solteiros escolheram.
“Para mim o primeiro passo é se conhecendo, o autoconhecimento, porque terá uma decisão mais assertiva e adaptativa. Quando estou bem comigo mesmo, você pode fazer qualquer pergunta, eu vou saber te responder tranquilamente, porque isso não me invade, não me adoece. Então se eu busco o equilíbrio entre mente, corpo e espírito, tudo certo, porque eu escolhi. Mas quando eu não faço esse caminho do autoconhecimento, fica mais difícil de liar com o outro”.
Ela ainda diz que a psicoterapia pode ajudar muito nesse caminho do autoconhecimento. Se você colocar suas escolhas a prova e ter certeza do que quer, ser solteiro será uma opção maravilhosa. “Compreender a sua jornada, mesmo quem já teve vários relacionamentos, mas ainda entendem que a sua companhia é a melhor e tá tudo bem. Isso não te impede de viajar, de ter amigos, de criar vínculos, conhecer pessoas novas e ser feliz”, conclui.
Diferente da solidão, a solitude é uma oportunidade de investir no que realmente é importante, você mesmo! Invista no autoconhecimento e no amor próprio. Estar solteiro não significa estar sozinho. Solteira sim, sozinha nunca, isso faz muito mais sentido quando você respeita e valoriza a sua própria companhia.
“O teu sol não morre quando você está sozinha”, Ryane Leão.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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