Bahia

Conheça Samantha Vitena, professora negra expulsa de voo por recusar despachar mochila com notebook na Bahia

“A gente sabe que o racismo estrutural existe na nossa sociedade. Ele perpassa por todas as nossas relações, e precisa de todas as pessoas para que aconteça, mas quem vai poder dizer isso com todas as letras, é a Justiça”

 Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

O nome de Samantha Vitena Barbosa, de 31 anos, tomou os noticiários e as redes sociais depois que a professora foi expulsa de um voo da Gol Linhas Aéreas, após se recusar a despachar uma mochila com um notebook, em um voo entre Salvador e São Paulo – onde ela mora.

Samantha ensina inglês como segunda língua há mais de 10 anos, e há pelo menos quatro deles forma professores por meio de um viés antirracista, na área da educação bilíngue. A professora é uma das idealizadoras da página acolhe.edu, que compartilha práticas com outros educadores.

Ela é especialista em Educação, Cultura e Relações Étnico-raciais pelo Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação. Graduada em Relações Internacionais, faz mestrado em Bioética Aplicada e Saúde Coletiva, pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A professora também faz um trabalho dedicado a promover a igualdade racial na ONG Instituto Identidades do Brasil, onde é coordenadora educacional. Mesmo tendo o direito de não despachar a bagagem de mão com o laptop, Samantha tem sido atacada nas redes sociais.

Comentários com adjetivos pejorativos, como “barraqueira” e “escandalosa” e “problemática”, feitos por haters em seu perfil profissional, reforçam a cultura racista que insulta pessoas negras por não aceitarem ter seus direitos desrespeitados.

Foto: Reprodução/Redes Sociais

“A gente sabe que o racismo estrutural existe na nossa sociedade. Ele perpassa por todas as nossas relações, e precisa de todas as pessoas para que aconteça, mas quem vai poder dizer isso com todas as letras, é a Justiça”, ponderou Samantha.

O advogado da professora, Fernando Santos, informou que vai entrar com ação judicial contra a Gol Linhas Aéreas, e que o processo se baseará em discriminação racial. O racismo, inclusive, é investigado pela Polícia Federal.

“O racismo faz parte da construção de nossa tese. Esse olhar perigoso para população negra, de que a população negra é potencialmente perigosa, potencialmente perturbadora da paz. Por um compromisso estrutural, nós não podemos nos furtar de provocar esse debate”, argumentou o advogado.

Em uma das notas, a Gol Linhas Aéreas disse que reconhece a realidade do racismo estrutural e que sabe o quanto precisa intensificar as ações na luta antirracista e pela diversidade. A companhia aérea também disse que não tolera e nunca vai tolerar práticas racistas.

Testemunha presenciou tratamento diferente a passageira branca

O tratamento discriminatório dado a Samantha pela tripulação do voo foi questionado por diversos passageiros, que apontaram ter havido racismo na situação contra a professora, como a jornalista Elaine Hazin, que também estava no voo e gravou toda a ação.

“Uma cena lastimável absurda, de racismo contra uma mulher preta. Uma mulher branca na minha frente, que estava com três bagagens de mãos, acomodou as três bagagens de mão dentro do compartimento, mesmo a tripulação falando: ‘Senhora, bote uma bagagem embaixo do assento’. E ela falou ‘não vou colocar, vou colocar em cima’. E essa senhora colocou as três bagagens dela em cima. E a mulher negra não colocou nenhuma”, relatou Elaine.

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Diversas instituições, incluindo entidades antirracistas, prestaram solidariedade à professora, entre elas: a Fiocruz, Ordem dos Advogados do Brasil – seções Bahia e Rio de Janeiro –, Educafro. Os ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Fonte: G1

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