Laiane Cruz
A comerciante Adriana da Silva Prata, de 52 anos, que reside na cidade Petrópolis, no Rio de Janeiro, mas tem parentes em Feira de Santana, relatou nesta quinta-feira (17), em entrevista ao Acorda Cidade, sobre os momentos de pânico e dificuldades enfrentados após o temporal da última terça-feira (15) na serra fluminense, provocando uma tragédia que já deixou mais de 100 mortos, 134 pessoas desaparecidas e mais de 300 desabrigados.
Adriana Prata contou que no momento em que as chuvas começaram, ela estava em uma de suas lojas, que acabou de ser inaugurada em um shopping no centro histórico. Com o passar das horas, a chuva não parava e as notícias sobre os deslizamentos e alagamentos começaram a chegar.
“Eu estava no centro, num shopping no início da Rua Tereza, estava em uma loja que eu estou inaugurando e minha amiga tem uma loja ali também. Quando começou a chuva eu fiquei ali e fui para a loja dela. Nós já estamos meio acostumados com essas chuvas. O centro histórico é meio difícil de encher, mas tem algumas ruas que com qualquer chuva enchem. Naquele dia nós falamos que iria dar ruim na cidade. E normalmente quando enche o centro histórico, quando a água escoa, a prefeitura lava tudo e em algumas horas o trânsito fica meio caótico, mas volta. Mas naquele dia a chuva não parava, minha filha estava em casa me ligando, e as notícias foram chegando de morros caindo aqui e ali, e no centro histórico aconteceram coisas que eu nunca vi na minha vida, e a água entrou em locais que nunca aconteceu”, relembrou.
A comerciante informou que no caminho para a casa da amiga passou por muita lama, pontos sem energia e muita água por toda parte.
“Tinha bueiro sem a tampa e a gente tinha medo de cair. Mas tinha muita gente na rua e um ajudando o outro e andamos muito até chegar na casa dela. Quando a água escoou no centro histórico tinha muitos corpos de pessoas que foram levadas pela correnteza, outras que ficaram presas dentro dos carros. Foi um cenário bem triste, fora que teve arrastão. Foi uma noite de terror mesmo.”
Adriana disse que onde mora está sem internet banda larga e sinal televisão, somente funcionam a energia elétrica e as notícias chegam através dos dados móveis do celular. Além disso, os moradores precisam economizar água, pois já foram informados que em virtude da tragédia irá faltar.
“Meu bairro está tranquilo. Mas eu passei pelo alto da serra ontem, que foi um dos locais mais atingidos, e é desolador, um cenário de guerra, muitas pessoas chorando, muita tristeza, pessoas com poucos pertences, na rua sem saber o que vão fazer. Com o passar dos anos as pessoas foram construindo cada vez mais e a natureza não aguenta, porque o solo precisa da raiz para absorver a água e isso tudo afeta. Mas é uma falta também de organização governamental, porque entra governo e sai governo e eles não fazem muita coisa. Nós tivemos o mesmo problema em 88, na época eu tinha 18 anos, e fiquei presa na rua, também só consegui chegar em casa depois de meia-noite, sem luz, sem nada, e hoje a história está se repetindo e eles não fazem muita coisa. As famílias não têm para onde ir, eles mandam sair da área de risco, mas vão pra onde? Não fazem nada para que as pessoas tenham uma condição de vida melhor, a população está crescendo, tem muito mais carros na rua”, lamentou.
A comerciante lembrou também que o rio que corta a cidade transbordou muito além do normal com as chuvas, como nunca aconteceu. Mas mesmo em meio a dor e ao desespero pelas ruas, ela salientou que muitas pessoas praticaram também a solidariedade, ajudando aqueles que perderam tudo.
“Voltando para casa, vi muita solidariedade, como motoqueiros que estão levando água, comida, cobertores, está tendo muita ajuda. Ontem o comércio não abriu, poucos mercados abriram. Hoje estou ilhada em casa, sem muitas notícias.”
De acordo com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, essa foi a pior chuva da região desde 1932, porém outros desastres já ocorreram na cidade de Petrópolis, como em 1988, que 134 pessoas morreram e em 2011, quando 918 pessoas morreram e outras dezenas ficaram desaparecidas na região serrana, principalmente em Nova Friburgo e Teresópolis.