O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, elogiou nesta segunda-feira a presença do Brasil na Ásia e no Oriente Médio, dizendo que o país pode ajudar na promoção da paz e da estabilidade. Ele também defendeu a presença do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas em um novo sistema, no qual não houvesse poder de veto.
"O sistema que surgiu da Segunda Guerra Mundial e foi a gênese de muitas desordens do mundo contemporâneo chegou ao fim. Precisamos construir um novo modelo", disse o presidente iraniano, que chegou nesta segunda-feira a Brasília para uma visita oficial de um dia.
Ahmadinejad discursou logo depois do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu o direito de o Irã desenvolver um programa nuclear pacífico.
Antes de receber o presidente iraniano, Lula aproveitou hoje seu programa de rádio semanal para defender a visita de Ahmadinejad das fortes críticas que surgiram em diferentes setores da sociedade brasileira e, em particular, na comunidade judaica que reside no país. Conforme Lula, "há uma série de países que não conversam com o Irã, mas não serve de nada deixar o Irã isolado", pois é uma peça importante no conflito do Oriente Médio.
Nos últimos dez dias, Lula recebeu outros dois importantes nomes da região, o presidente de Israel, Shimon Peres, e o da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas.
Lula anunciou que, após as visitas desses três presidentes, decidiu que em março do próximo ano viajará a Israel, Jordânia e territórios palestinos, para pôr a "capacidade de conversa que o Brasil tem atualmente" a serviço do processo de paz.
Visita
O iraniano chegou hoje a Brasília por volta das 9h, procedente do Senegal. Após a reunião reservada com Lula, os dois líderes devem seguir para encontro com empresários de ambos os países.
Ahmadinejad chegou ao Brasil acompanhado pelo ministro de Relações Exteriores, Manoucher Mottaki, e do vice-ministro para a América Latina, Ali Reza Salari. Também veio ao país seu ministro de Minas e Indústrias, Ali Akbar Mehrabian. Vieram ainda membros do Parlamento iraniano e uma grande delegação de empresários que participará de um encontro empresarial Brasil-Irã. Ao lado de Ahmadinejad, veio ainda o embaixador brasileiro em Teerã, Antônio Luis Espínola Salgado.
Desde 2005, quando assumiu o poder, Ahmadinejad tenta estabelecer vínculos com líderes sul-americanos de esquerda e mantém relação próxima com Hugo Chávez. Depois do Brasil, o presidente iraniano completará sua viagem latino-americana de cinco dias com visitas a Bolívia e Venezuela, para depois retornar a Teerã com escalas no Senegal e em Gâmbia.
Programa nuclear
A influência do Irã entre venezuelanos e bolivianos preocupa o governo de Washington e seu aliado-chave no Oriente Médio, Israel, em meio a especulações de que Venezuela e Bolívia poderão fornecer urânio ao Irã para seu programa nuclear.
O programa nuclear iraniano está no centro de uma polêmica internacional, com pressão ocidental para que o país envie seu urânio para ser enriquecido no exterior. O Irã assegura que tem apenas finalidades pacíficas, mas a descoberta de uma central nuclear clandestina em Qom aumentou as suspeitas de que o programa se destina à construção de armas nucleares.
O Irã alega que suas atividades nucleares são exclusivamente civis, mas não consegue afastar as suspeitas em torno de sua suposta intenção de desenvolver um programa militar.
Lula deu o seu apoio ao programa de desenvolvimento de energia nuclear iraniano com fins pacíficos, enquanto busca para seu país, candidato a integrar o Conselho de Segurança das Nações Unidas, um papel de mediador no conflito do Oriente Médio. O presidente brasileiro, que há dez dias recebeu o presidente israelense Shimon Peres, se opõe às sanções contra o Irã devido ao programa nuclear de Teerã e defende o diálogo e a diplomacia.
Bolívia e Venezuela
Em sua visita à Bolívia, Ahmadinejad e o presidente Evo Morales realizarão uma reunião a portas fechadas e assinarão acordos bilaterais, segundo adiantou o governo de La Paz. A Venezuela deve dar uma recepção calorosa a Ahmadinejad devido à sua amizade com Chávez. Os dois já se encontraram em setembro deste ano em Teerã.
"A colaboração entre nações revolucionárias como Irã e Venezuela é neste momento necessária", disse Ahmadinejad em um comunicado divulgado na quarta-feira (18) passada. Venezuela e Irã mantêm uma estreita relação. A cooperação se estende aos âmbitos político, financeiro, de Defesa, industrial e tecnológico, entre outros.
Nas duas últimas semanas, o papel brasileiro de mediação no Oriente Médio foi defendido pelos presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, ambos em visita ao Brasil.
Esse papel de interlocutor neutro na região foi uma das justificativas do governo brasileiro para receber Ahmadinejad, apesar dos protestos de grupos judaicos e de defesa dos direitos os homossexuais. O presidente iraniano constantemente nega a existência do holocausto judeu pelos nazistas e já afirmou que não existem homossexuais em seu país.
Informações da FolhaOnline