Bahia

Portos, ferrovias, aeroportos e rodovias baianos têm rumo incerto

Infraestrutura saturada, investimentos perdidos

Acorda Cidade

Portos saturados e sem equipamentos adequados, ferrovias escassas, rodovias sobrecarregadas e carentes de manutenção. Aeroportos saturados e sem infraestrutura adequada para o transporte de cargas, escassez de mão de obra e inexistência de centros de logística para o armazenamento, manuseio e montagem de produtos.

Somada à falta de regulamentação para alguns segmentos, essa realidade da logística na Bahia tem afugentado investimentos anuais no estado da ordem de bilhões de reais, segundo cálculos de empresários. Como resultado, milhares de empregos deixam de ser gerados e os produtos perdem competitividade.

É consenso entre gestores e empresários que o caminho para o desenvolvimento do estado passa pelo aperfeiçoamento da infraestrutura logística, sobretudo pela construção de ferrovias e melhoria dos portos. “O que difere um estado ou país desenvolvido daquele subdesenvolvido é a sua infraestrutura ferroviária, rodoviária, portuária, aeroportuária e fluvial”, opina o titular da Secretaria Extraordinária da Indústria Naval e Portuária (Seinp), Carlos Costa.

Mas os portos baianos, ineficientes, não atraem investimentos, embora mais de dez empresas privadas nacionais e internacionais estejam interessadas em atuar neles.  


Deficiências

O diretor-executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa, destaca as deficiências dos portos baianos. “O futuro está na propaganda. O Porto de Salvador necessita de um segundo terminal de contêineres, urgentemente.

O Porto de Aratu, em Candeias, necessita instalar de forma completa seus dois píers com equipamentos modernos. Estamos chegando ao final do ano sem qualquer perspectiva concreta de licitações de arrendamentos de terminais para os dois portos”, aponta. “Isso prejudica todos os setores produtivos da Bahia, retirando a capacidade competitiva”.

Segundo ele, o Porto de Aratu está com a capacidade de movimentar cargas saturada 15 anos e não consegue se qualificar para a exportação de grãos, por exemplo.

O resultado é que produtos como algodão, café e frutas acabam sendo escoados por outros portos em Santos (SP), Vitória (ES), Recife (PE) e Pecém (CE). a produção industrial, concentrada na Região Metropolitana de Salvador, é escoada em boa parte por terminais de uso privado das empresas, localizados na Bacia de Cotegipe, bem como por dutovias exclusivas.

O único investimento assegurado pelo governo federal hoje no Porto de Salvador é da ordem de R$ 150 milhões, destinados à ampliação do quebra-mar, licitada, e do terminal de passageiros, em obras. No entanto, esse investimento pode ser muito maior, caso a Casa Civil divulgue ainda este ano, como previsto, uma medida provisória regulamentando as concessões para a iniciativa privada. “Temos o desejo de participar mais ativamente desse processo”, ressalta Carlos Costa.

A construção de um novo porto na região Sul do estado, o Porto Sul, tem um investimento previsto de R$ 3,5 bilhões, mas esbarra nos licenciamentos ambientais e não tem prazo para iniciar as obras. O novo porto terá potencial para escoar grãos e minério de ferro, quando integrado à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que ligará o oeste do estado ao litoral, passando pelo Centro Sul.

Ferrovias

Hoje, a utilização das ferrovias para o escoamento da produção industrial e agropecuária na Bahia é praticamente nula. “As empresas do Polo de Camaçari quase não conseguem utilizar o modal ferroviário, porque os ramais são antigos, irregulares e passam dentro de centros urbanos, o que aumenta muito o tempo da viagem”, lamenta o superintendente-geral do Centro de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), Mauro Pereira.

Segundo ele, o escoamento da produção acaba sendo praticamente todo por meio das dutovias e portos privados do próprio polo, ou pelas rodovias do sistema BA-093 – que inclui as vias ligando o polo ao Porto de Aratu e a Salvador.

Para a distribuição dos produtos pelo país, as empresas usam as BRs 324, 116 e 101. A Ferrovia Centro-Atlântica, que passa por Alagoinhas, ligando o município ao Sudeste do país, ao Norte baiano e a outros estados do Nordeste, possui os mesmos problemas.

os empresários do agronegócio, do Oeste do estado, dependem sobretudo da rodovia BR-242, que faz a ligação com a BR-324 (Feira de Santana) e, depois, com o litoral. “Perde-se muito pela infraestrutura precária. A BR-242 tem boas condições, mas está sobrecarregada.

Além disso, a estrutura das vias de escoamento que chegam às fazendas produtoras é muito precária”, critica Hernani Sabai, assessor de agronegócios da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). Ele  reclama da impossibilidade de utilizar o modal ferroviário.

Plano

No estado, o Plano Nacional de Logística Integrada, anunciado em setembro pelo governo federal, prevê a construção de dez mil quilômetros de ferrovias por meio de um novo regime de concessões à iniciativa privada.

Estão incluídos dois trechos: Belo Horizonte-Salvador e Salvador-Recife. “Se efetivado, esse plano vai ajudar a melhorar, mas não vai resolver o problema, pois não qualquer ligação com o interior do estado”, critica o superintendente de Desenvolvimento Industrial da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), João Marcelo Alves.

Para escoar os grãos e minérios das regiões Oeste e Centro-Sul do estado, o governo prevê a construção da Fiol. “Essa ferrovia terá R$ 4 bilhões de investimentos públicos e privados”, estima o chefe de gabinete da Secretaria de Infraestrutura da Bahia, Marcus Cavalcanti. O primeiro trecho, que ligará Ilhéus a Caetité, está em obras, com previsão para conclusão só em 2015. O segundo trecho, de Caetité a Barreiras, tem esbarrado também nos licenciamentos ambientais. A ferrovia será ligada à Ferrovia Norte-Sul, em Figueirópolis, no Tocantins.

Por sua vez, o professor de Logística da Unifacs e pesquisador da Ufba Henrique Campos de Oliveira critica a dissociação entre o escoamento para a exportação e o abastecimento do mercado interno. “O que temos hoje são ilhas produtoras sem ligação com o estado, só com o mar”. Para ele, os projetos do governo não resolvem o problema, histórico.

Terra e ar

No caso das rodovias, o grande desafio é universalizar a pavimentação das vias estaduais. “A malha do estado tem quase 19 mil quilômetros, sendo 11 mil pavimentadas. Nossa grande luta hoje é melhorar as vias de alimentação de acesso aos grandes eixos”, destaca o diretor geral do Departamento de Infraestrutura e Transportes da Bahia, Saulo Pontes. Por sua vez, a Seinfra pretende adaptar os aeroportos do estado para o transporte de cargas, com recursos do governo federal da ordem de R$ 150 milhões.

Fonte: Correio 24 horas

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