Bahia

Ministério Público dá prazo de 15 dias para Claudia Leitte se manifestar sobre retirada de nome de orixá em música

Órgão estadual instaurou inquérito para apurar possível ato de racismo religioso cometido pela artista baiana.

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Foto: Gabriel Gonçalves/ Acorda Cidade

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) deu 15 dias para a cantora Claudia Leitte se manifestar sobre a troca do nome de um orixá em uma música, durante as últimas apresentações que têm feito em diversos estados.

O MP-BA, que instaurou um inquérito para apurar um possível ato de racismo religioso cometido pela artista, marcou uma audiência pública para o dia 27 de janeiro, às 14h, no auditório da sede do órgão, no bairro de Nazaré, em Salvador.

Na portaria, assinada e publicada pela promotora Lívia Sant’Anna Vaz, também foi definido que os compositores da música “Caranguejo”, serão ouvidos pelo órgão estadual.

O g1 tenta contato com a defesa de Claudia Leitte, mas não conseguiu até a última atualização desta reportagem.

Sobre o caso, em coletiva de imprensa realizada antes da apresentação da cantora no Festival Virada Salvador, a artista disse que “racismo é uma pauta para ser discutida com muita seriedade, não de forma tão superficial”. Durante o show, ela não cantou a música.

Entenda o caso

O MP abriu o inquérito para apurar a situação, que aconteceu durante o primeiro show de ensaio de verão da artista no Candyall Guetho Square, também em Salvador, onde fica a sede da Timbalada – banda criada por Carlinhos Brown.

Em vídeos que viralizaram na web, a cantora aparece cantando “Eu canto meu Rei Yeshua” (Jesus em hebraico) ao invés de “Saudando a rainha Iemanjá”, como já fez em outros shows pelo Brasil desde 2014, mesmo período em que se converteu evangélica.

A atitude da cantora gerou polêmica nas redes sociais e foi comentada pelo secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pedro Tourinho, e pela professora e vencedora do Prêmio Jabuti, Bárbara Carine.

O MP-BA informou que recebeu a situação através da Iyalorixá Jaciara Ribeiro e do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro). O inquérito foi instaurado por meio da Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa.

O procedimento vai apurar a “responsabilidade civil diante de possível ato de racismo religioso consistente na violação de bem cultural e de direitos das comunidades religiosas de matriz africana, sem prejuízo de eventual responsabilização criminal”.

Polêmica na redes sociais

A atitude foi criticada pelo secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pedro Tourinho, e pela professora e vencedora do Jabuti, Bárbara Carine, conhecida nas redes sociais como “Uma Intelectual Diferentona”.

Nas redes sociais, o secretário se colocou contra a retirada dos nomes de orixás das músicas originalmente escritas com as menções, e ainda apontou racismo na atitude.

“Quando um artista se diz parte desse movimento, saúda o povo negro e sua cultura, reverencia sua repercussão e musicalidade, faz sucesso e ganha muito dinheiro com isso, mas, de repente, escolhe reescrever a história e retirar o nome de Orixás das músicas, não se engane: o nome disso é racismo”, escreveu.

Bárbara Carine também apontou racismo religioso e reforçou como o axé music está associado a religiões de matriz africana.

“É realmente revoltante o racismo religioso, eu diria até um terrorismo religioso, que essas pessoas instaram na nossa cultura. É extremamente revoltante o lucro com a demonização dessa cultura, porque é uma pessoa que vive do axé”, afirmou.

Já o artista Carlinhos Brown saiu em defesa da cantora após a polêmica, que aconteceu no Candyall Guetho Square, espaço criado por ele e sede da Timbalada.

“O Guetho é uma casa laica. Todas as pessoas têm direito a ter suas manifestações. (…) [A atitude de Claudia] É uma coisa que eu não queria estar falando porque é polêmica, e eu tenho uma espiritualidade muito acentuada. Mas eu posso te garantir que Claudia Leitte não é uma pessoa racista”, disse Brown.

Fonte: g1

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