Rachel Pinto
Para entender melhor o fenômeno, o Acorda Cidade, ouviu o geólogo Carlos Uchôa, que é professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Uchôa explicou as possíveis causas dos terremotos e esclareceu que não há nenhuma relação do fenômeno com a perfuração de poços artesianos.
“Os terremotos ocorrem por conta de reativação de falhas geológicas e essas falhas são fraturas nas rochas que podem acumular energia por conta da movimentação das placas tectônicas. O Brasil está na placa sulamericana e então essa placa está migrando para oeste em uma velocidade bem pequena e alguns centímetros por ano. Essa velocidade não é a mesma em toda a placa, em alguns lugares pode ser três centímetros, outros pode ser 6 centímetros e aí em alguns locais podem acumular energia por conta dessa diferença de velocidade, por exemplo e reativar essas falhas. Ou seja, essas fraturas já existentes são fraturas antigas, elas vão acabar provocando novo rompimento dos blocos rochosos que vão se movimentar e ao se movimentarem vão despender muita energia. Essa energia vai ser transmitida sob a forma de ondas sísmicas e ao atingirem a superfície, provocam os terremotos”, afirmou.
O professor esclareceu também que os termos tremor de terra, terremoto, sismo, são sinônimos e que o terremoto na Bahia não tem nada a ver com a perfuração de poços artesianos, só poderia ter relação de caso Feira de Santana estivesse sob rochas calcárias, que são tipos de rochas sedimentares, solúveis em água.
“Se estivesse sob essas rochas, os poços artesianos, os poços de um modo geral, podem tirar muita água do subsolo e como lá embaixo tem algumas cavernas, essas cavernas, o teto pode desabar e provocar terremotos, mas isso é comum em regiões calcárias, que não é o caso de Feira de Santana. Então os tremores de terra, não têm qualquer relação com a captação de água através de poços tubulares e nem em Feira de Santana e nem nas demais cidades que sentiram o terremoto”, pontuou.
Carlos Uchôa destacou que os abalos sísmicos foram sentidos em várias cidades ao mesmo tempo e até cidades vizinhas porque as ondas sísmicas são muito altas e certamente o terremoto foi sentido primeiro no epicentro em Mutuípe, o terremoto foi mais forte de 4,6 e logo em seguida em outras cidades com a propagação das ondas sísmicas. De acordo com ele, à medida que essas ondas sísmicas foram se propagando, foram diminuindo a energia energia delas e consequentemente chegaram mais fracas em outros locais, como por exemplo, Salvador e Feira de Santana.
Trincheiras do BRT
O geólogo salientou que o terremoto também não tem relação com as trincheiras do BRT construídas pela prefeitura de Feira de Santana e o que elas podem provocar são modificações no nível do lençol freático, mudanças no comportamento hídrico das águas subterrâneas.
“Podem ocorrer alterações, mas não têm qualquer relação com terremotos. Isso só vai ocorrer em regiões calcárias, onde existem cavernas e aí como essas cavernas podem estar inundadas, cheias de água, se retirar, o teto da caverna perde a sustentação e aí desmorona. Consequentemente pode provocar algum tremor de terra na superfície e esses são os únicos tipos de tremores de terra que a gente pode chamar por acomodação. Os demais não, tem implicações, ligadas a reativação de falhas de um modo geral. Serão esses que vão ocorrer nessas regiões do recôncavo e do Vale do Jiquiriçá”, concluiu.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.