Acorda Cidade
A empresa Ford informou nesta quarta-feira (12) que fechou um acordo coletivo negociado com o Sindicato dos Metalúrgicos por causa do encerramento da produção na unidade de Camaçari, que fica na região metropolitana de Salvador. A fábrica tinha cerca de 4 mil empregados.
Segundo a Ford, o acordo coletivo foi aprovado pela ampla maioria dos empregados em votação realizada nesta quarta-feira. A proposta aprovada inclui uma compensação financeira adicional às verbas rescisórias:
De acordo com a Ford, também faz parte do acordo a concessão de seis meses de plano médico por meio do Sindicato e uma remuneração adicional para empregados operacionais com restrição médica ocupacional.
Além dos itens previstos no acordo, a Ford informou que já oferece um programa de qualificação dos trabalhadores e também vai dar suporte para recolocação por meio da contratação de uma empresa especializada.
O G1 entrou em contato com o Sindicato dos Metalúrgicos, mas não conseguiu um posicionamento sobre o acordo coletivo até a publicação desta reportagem.
Negociações difíceis e protestos
A Ford anunciou que encerraria a produção de veículos em suas fábricas no Brasil, em 11 de janeiro deste ano.
A decisão motivou protestos em dias distintos por parte dos funcionários da Ford, localizada em Camaçari. Foram feitas manifestações na frente da fábrica da montadora e no Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador.
No dia 5 de fevereiro, a Justiça do Trabalho concedeu uma liminar que suspendia a demissão coletiva de funcionários da fábrica de Camaçari. A decisão proibia demissões até que o acordo entre a empresa e os funcionários fosse encerrado.
No dia 23 de fevereiro, cerca de 700 funcionários da Ford retornaram aos postos de trabalho, em Camaçari. A retomada foi, inicialmente, por 90 dias e aconteceu depois de negociações entre o sindicato da categoria e a empresa.
Na época, ficou decidido também que outros 327 trabalhadores retornariam em março, 189 em abril e 31 funcionários seriam convocados em maio.
Em março, outra decisão judicial emitida suspendeu o desligamento de empregados da Ford que atuam em funções de liderança e supervisão, na fábrica de Camaçari. A informação foi divulgada pelo Ministério Público do Trabalho (MTB-BA), no dia 29, data em que as demissões iriam ser realizadas.
A decisão também afetava as empresas que forneciam insumos para a montadora e estão instaladas no complexo industrial no município baiano.
Economia
A cidade que abriga o maior Polo Industrial da Bahia, Camaçari pode ter perda de 10% na arrecadação de receitas após o encerramento das atividades da fábrica Ford no Brasil.
O Polo Industrial de Camaçari completa, em junho, 43 anos de operação. Um dos maiores complexos industriais integrados do Hemisfério Sul, desempenha papel importante no setor produtivo do estado.
Em entrevista ao G1 em janeiro deste ano, o prefeito de Camaçari, Elinaldo Araújo, contou que a cidade, que tem arrecadação anual de cerca de R$ 1,3 bilhão em impostos, perdeu R$ 30 milhões do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e mais R$ 100 milhões do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da receita líquida com o fechamento da montadora de veículos.
Na ocasião, o prefeito Elinaldo informou que estava em busca de levar outra empresa do ramo automobilístico para a cidade. O governador da Bahia, Rui Costa, também afirmou que já procura a Embaixada da China para sondar investidores para assumir negócio no estado. No entanto, ainda não nenhuma confirmação ou algo definido sobre o assunto.
Além da perda de receita, o município vai registrar mais de 12 mil demissões. O gestor municipal também lembrou das pessoas que não trabalham em empresas relacionadas com a Ford, mas prestam serviços para os funcionários, como escolas, restaurantes e lojas do comércio local.
Diante do fechamento da fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia, a produção industrial baiana registrou em fevereiro o maior tombo desde maio do ano passado. É o que apontam os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Polo Industrial
O maior Polo Industrial da Bahia foi instalado em Camaçari há 42 anos e aposta em tecnologia de ponta para se destacar no mercado. Segundo o Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), o faturamento era de mais de R$ 60 bilhões e gera 45 mil empregos diretos e indiretos.
Os números colocavam Camaçari como o 15° maior Produto Interno Bruto (PIB) industrial do país. O Cofic afirma que trabalha para atualizar os dados após o anúncio do fechamento da montadora de veículos.
Antes da saída da Ford, o polo tinha um faturamento anual de aproximadamente US$ 15 bilhões e as vendas para o mercado externo correspondiam a 30% do total das exportações baianas.
O Complexo Industrial respondia ainda por mais de 90% da arrecadação tributária dos municípios de Camaçari e Dias D´Ávila e por cerca de 22% do PIB da Indústria de Transformação do Estado da Bahia, de acordo com dados do Cofic.
As principais linhas de aplicação dos produtos petroquímicos e químicos são os plásticos, fibras sintéticas, borrachas sintéticas, resinas e pigmentos. Após transformados, os produtos químicos e petroquímicos resultam em embalagens, utilidades domésticas, mobiliário, materiais de construção, vestuário, calçados, componentes industriais (indústria eletrônica, de informática, automobilística e aeronáutica), tintas, produtos de limpeza (detergentes), corantes, medicamentos, fraldas, absorventes higiênicos, defensivos agrícolas e fertilizantes.
O Polo Industrial de Camaçari fabrica também automóveis, pneus, celulose solúvel, cobre eltrolítico, produtos têxteis (poliéster), fertilizantes, equipamentos para geração de energia eólica, bebidas, dentre outros, oferecendo ainda ampla gama de serviços especializados às empresas instaladas em sua área de influência.
Em 11 de janeiro deste ano, a Ford anunciou que encerrará a produção de veículos em suas fábricas no Brasil. Em comunicado divulgado para a imprensa, na época do anúncio, a fabricante disse que a decisão foi tomada "à medida em que a pandemia de Covid-19 amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas".
Em carta a concessionários obtida pela Globo, a montadora afirmou que "desde a crise econômica em 2013, a Ford América do Sul acumulou perdas significativas" e que a matriz, nos Estados Unidos, tem auxiliado nas necessidades de caixa, "o que não é mais sustentável".
A montadora citou ainda a recente desvalorização das moedas na região, que "aumentou os custos industriais além de níveis recuperáveis", e mencionou a pandemia e a ociosidade nas linhas de produção, "com redução nas vendas de veículos na América do Sul, especialmente no Brasil".
Fonte: G1