Cultura, luta e conhecimento

Dia do Nordestino: Psicólogo fala sobre a importância de respeitar a diferença e valorizar a herança de um povo

Conforme Luan de Oliveira, para entender a cultura nordestina deve-se excluir o preconceito e eliminar o julgamento feito através das lentes de uma cultura diferente.

Encontro de Quadrilhas | Foto: Ascom/PMSE
Encontro de Quadrilhas | Foto: Ascom/PMSE

Neste sábado (8) comemora-se o Dia do Nordestino. A data foi escolhida em homenagem ao nascimento do poeta, cantor e compositor cearense Antônio Gonçalves da Silva, conhecido em todo o país como Patativa do Assaré. Patativa é considerado um dos grandes ícones da cultura nordestina, foi ele quem compôs músicas que foram gravadas por cantores como Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.

A data, atualmente, é celebrada pela nossa região como forma de resistência e carregada de significados. O professor e psicólogo, mestre em Saúde da População Negra e Indígena, Luan Gonçalves de Oliveira explicou em entrevista ao Acorda Cidade, o poder de pertencermos à região Nordeste.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Ser nordestino é ser pertencente a uma região brasileira, formada por nove estados. É um ser que traz consigo uma bagagem cultural, uma bagagem de características, uma bagagem de comportamentos que demarcam essa região, que eu destacaria algumas questões focadas ao processo cultural e regional. Porque, nós somos seres biológicos, psicológicos e sociais e esses aspectos sociais que vão dizer sobre a diferença ou a igualdade, o que vai resultar no que eu vou chamar de identidade. Ser nordestino é ter uma identidade local, cultural de pertencimento,” contou.

O nordeste possui vários costumes, hábitos, crenças, artes, formas de literatura, questões religiosas e hábitos, também na culinária, que demarcam a nossa cultura nordestina.

“Podemos falar do São João, do Carnaval, dos aspectos voltados às religiões de matriz africana, festas religiosas cristãs, além de outras questões voltadas para capoeira, frevo e uma diversidade de costumes, culturas e práticas que o nordeste possui,” descreveu o professor.

O povo nordestino

Encontro de Quadrilhas | Foto: Ascom/PMSE

Conforme relatou o psicólogo Luan Gonçalves, o povo nordestino é aquele preparado para lutar e que possui características singulares.

“É um povo conhecido por ser aguerrido, por lutar, por ter características de uma cultura e de uma tradição que vem sendo passada de geração em geração, algo secular. A nossa região Nordeste é onde começou o Brasil, desde quando houve a invasão portuguesa. Aqui existem características específicas tanto da população indígena que já viviam aqui, como da população negra que foi trazida da África e dos portugueses que vieram para cá.”

São João no Nordeste
Foto: Eduardo PS/Pixabay

Diferença entre regiões

Segundo informou o psicólogo, as diferenças entre as regiões do Brasil acontecem por conta da colonização.

“Os aspectos da colonização foram como cada região foi se desenvolvendo. O nordeste possui essas características bem específicas que tem a ver com o clima, à seca, com a questão litorânea… as nossas praias tem características que vão gerando forma de comportamento, a partir das pessoas que aqui viveram. E não dá para falarmos em um nordeste singular, porque o Nordeste é extenso, o que acontece na Bahia não é a mesma coisa que acontece em Pernambuco, por exemplo,” destacou.

 Luan Gonçalves de Oliveira
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Independente de estarmos ou não em nossa região, é possível encontrarmos a marca dos habitantes do Nordeste em outras regiões do país. Para ser nordestino você não precisa estar necessariamente no nordeste, como explicou o professor Luan.

“Por se tratar de uma questão identitária é possível que muitas pessoas, venham a nascer aqui, ir embora e levar características do nordeste para o lugar que vai, seja na culinária, em alguma festa de tradição ou em comportamentos específicos, como a gente sempre discute que a cidade de São Paulo foi construída pelos nordestinos. É um lugar com características muito nordestinas. Tem feiras, temáticas e tem diversas ações voltadas para a nossa cultura, em alguns bairros específicos, em alguns lugares que vão deixando a nossa marca, independente de estarmos fora da geografia Nordeste,” informou.

Xenofobia

Xenofobia
Foto: Brasil de Fato

Conforme a conceituação que podemos encontrar sobre o termo no dicionário, xenofobia é o Receio, medo ou rejeição, direcionado a algo ou alguém que não faz parte do local onde se vive ou habita; hostilidade. Refere-se também a aversão ou repugnância a estrangeiros, pessoas ou coisas provenientes de países estrangeiros.

“Nós identificamos o quanto essa aversão ao estranho, especialmente ao nordeste, é algo muito forte, cotidianamente, até pelos apelidos que nos dão, pelos nomes dos nossos estados, e às vezes associando algo negativo sendo do nordeste. E a gente tem que resistir, cotidianamente, a esse processo, lutar contra esse aspecto do preconceito, da exclusão, porque o nosso povo também traz nesse nível de preconceito marcas como o racismo, e outras formas de violência que são em decorrência da nossa geografia,” esmiuçou.

Ataques a nordestinos após eleições

“A gente precisa identificar de onde sai esses níveis de ataques, muitas vezes dizendo que o nordeste não sabe pensar, e o próprio Enem nos mostra que as maiores notas são as nossas, então se a gente for olhar alguns aspectos, porque tiveram outras regiões que também foram semelhantes a nós nas urnas, por exemplo, mas que não sofreram esses ataques. E é importante destacar que o nordeste no seu nível de resistência, faz uma análise crítica e social, que vai fazer uma escolha, conforme as necessidades do seu povo, da sua terra. E como a gente às vezes brinca, baiano, nordestino, ‘não come reggae’, então a gente acaba tendo um perfil crítico que pode desagradar os outros, mas é importante lembrar que a diferença não é burrice, e a gente precisa sempre respeitar a diversidade de escolha do povo que aqui vive no Brasil,” disse Luan de Oliveira.

De acordo com o professor, os ataques que os nordestinos sofrem não possuem ligação direta com o sertão.

“O Nordeste é característico dessa diversidade de territórios, não só do sertão, mas é importante dizer que as pessoas do sertão têm uma compreensão específica, conforme a sua necessidade, por viver a seca, a escassez de alimentos, por vivenciarem a fome novamente nesse período pandémico, e pessoas voltando ao mapa da pobreza no Brasil, e elas reagem politicamente a partir disso e são criticadas por pessoas que julgam o outros em função da sua cultura. Você não deve julgar o outro em função da sua cultura, é importante a gente excluir alguns preconceitos sobre o que o outro decide, para poder entender o motivo dele ter escolhido aquele caminho,” ressaltou.

Orgulho nordestino

Boipeba bahia
Foto: Judith Hochstrasse/Pixabay

“Nós temos muitas coisas para nos orgulhar, além da cultura, belezas naturais e tradição. O Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia são povos plurais, diversos, resistentes e que também influenciam a cultura nacional. É aqui que as pessoas vem passar as férias, essas pessoas que nos criticam, é no nosso berço cultural do Carnaval, do São João e de muitas outras manifestações culturais. Desejamos que essas pessoas venham e que continuem vindo, porque nós estamos de portas abertas, o nordeste é de todos e todas, essa troca é muito importante. No entanto, é importante dizer que nem sempre a mistura é algo tão fácil e tão simples. O Nordeste e nordestinos se orgulham de quem são, não só pelos aspectos geográficos e culturais, mas também pela forma de lutar contra tudo que ocorreu desde a colonização, mas também o orgulho de dizer, nós moramos em uma terra linda e acolhedora,” acentuou o professor Luan Gonçalves.

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Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.

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