Bahia

Defensoria Pública realiza exame de DNA gratuitamente para reconhecimento de paternidade

Na Bahia, somente de janeiro a julho deste ano, foram 7.659 crianças registradas só com o nome da mãe, sendo 1.329 em Salvador.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

“Eu não tenho o nome do meu pai no registro e é horrível. As pessoas perguntam quem é meu pai e penso: é um indigente. Não quero que minha filha cresça da mesma forma”. O depoimento é da dona de casa Irlane Guimarães, 37, que compareceu à Defensoria Pública da Bahia – DPE/BA, na quarta-feira (9), com intuito de fazer exame de DNA para reconhecimento de paternidade post mortem da pequena Ana Laura, de oito meses. Assim como elas, outras milhares de brasileiras(os) têm o campo “nome do pai” em branco na certidão de nascimento.

Na Bahia, somente de janeiro a julho deste ano, foram 7.659 crianças registradas só com o nome da mãe, sendo 1.329 em Salvador. Os dados do Portal da Transparência da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais – Arpen revelam uma triste realidade que a DPE/BA tem combatido há 16 anos, através da Ação Cidadã Sou Pai Responsável, que oferece exames de DNA gratuitos para reconhecimento de paternidade.

A ação, que também sensibiliza os genitores sobre a importância do vínculo afetivo, acontece durante todo o ano, mas pelo simbolismo do mês de agosto (mês dos pais), a atuação é intensificada por meio de mutirões de atendimento e divulgação nas mídias. Este ano, a campanha de intensificação tem como tema “Registre, cuide e ame” e foi lançada na quarta-feira (9), durante uma solenidade realizada na Casa de Acesso à Justiça I – CAJ I.

Para a defensora-geral, Firmiane Venâncio, é fundamental que o reconhecimento da paternidade esteja na ordem do dia não somente como um vínculo biológico, mas sobretudo afetivo. “Nossa campanha também tem o objetivo de resgatar e construir os laços de amor entre pais e filhos. O exame de DNA e o reconhecimento da paternidade devem dar o start para construção dessa paternidade pautada na qualidade do contato e cuidado que pais e mães devem devotar aos filhos(as)”, destacou.

Esse também foi o desejo expressado por Paloma Silva, de 22 anos, que compareceu à DPE/BA com a pequena Lavínia, seis meses, para fazer o teste de paternidade. “Meu pai faleceu quando eu tinha dois anos. O nome dele está no meu documento, mas eu nunca soube como é crescer com ele ao lado. Espero que com minha filha seja diferente”, afirmou a jovem que, antes de procurar a Defensoria, tentou realizar o exame com recursos próprios. Segundo ela, na rede privada o teste custa R$700,00. “Eu estou desempregada. Não tenho como pagar esse valor”, afirmou. Na DPE, vale relembrar, o exame é gratuito.

Discurso de conscientização

Firmiane também pontuou que ter o cantor e compositor Tierry como padrinho da campanha vai ajudar a potencializar o discurso de conscientização sobre paternidade junto a públicos que a DPE/BA tem pouca inserção. Pai do pequeno Adriel, 8, o músico baiano viveu uma verdadeira história de luta pela vida da criança. Nos primeiros anos de vida, o menino passou por duas cirurgias no pé após ficar internado por quatro meses devido a um choque séptico causado por uma bactéria.

Junto com o filho, Tierry protagoniza as peças de divulgação do Sou Pai Responsável e conclama os genitores à reflexão sobre o verdadeiro significado de ser pai. “Queremos reafirmar que não basta registrar, mas estar presente, conviver e amar. Buscamos chamar a atenção do pai ausente, mesmo aquele que já tenha reconhecido formalmente o(a) filho(a), para que ele assuma postura ativa na vida das crianças”, destacaram os coordenadores da Especializada de Família e Sucessões, Adriano Oliveira e Tatiane Ferraz.

A relevância do tema da paternidade, no contexto brasileiro, é tamanha que em julho de 2023 foi instituída a Lei 14.623. A norma cria o Dia Nacional de Conscientização sobre a Paternidade Responsável, comemorado no dia 14 de agosto. Já na Bahia, a Lei nº 13.577/2016, criada após provocação da Defensoria Pública, cria a obrigatoriedade de que a instituição seja comunicada sobre os nascimentos sem identificação de paternidade.

Foto: Matheus Medina/Ascom DPE-BA

Atendimentos

Além dos exames de DNA para reconhecimento de paternidade, dentro da ação cidadã também são oferecidos os serviços que visam garantir os direitos decorrentes, como acordo de alimentos, visita e guarda. Desde 2007, quando a campanha foi criada, mais de 25 mil pessoas tiveram a oportunidade de realizar o teste genético através da DPE/BA na capital e no interior do estado. “Imagine o número que teríamos se a Defensoria estivesse em todas as comarcas do interior”, refletiu o coordenador da Assessoria de Comunicação, Arthur Franco, que apresentou a campanha deste ano ao público e imprensa.

Ao longo do período de intensificação da campanha, as pessoas interessadas nos serviços da DPE/BA poderão acessá-los mediante agendamento no WhatsApp 71 99722-5927 ou nos mutirões promovidos em dois sábados (confira programação completa no final do texto). No caso de Irlane (que aparece no início da matéria), o exame estava agendado para acontecer em 6 de julho, mas o suposto pai faleceu antes do dia da coleta de material genético e o procedimento precisou ser reagendado.

“Ele estava disposto a registrar e já mantinha uma relação com nossa filha. Ligava, perguntava por ela e ajudava financeiramente. A convivência com o pai ela não vai ter, mas o exame vai garantir o nome dele nos documentos”, conta. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, ou seja, não pode ser feito por outra pessoa que não seja o pai. Por isso, é obrigatória a realização do exame de DNA para comprovar filiação biológica em caso de pai falecido.

No caso da filha de Irlane, os laços afetivos com o pai não poderão ser recuperados após o resultado do exame. Mas a suposta avó e suposto tio, que viajaram os 170 km que separam Serra Preta de Salvador para fazer o exame, estão dispostos a suprir essa lacuna. “A gente não tem dúvida. Pegamos duas horas de estrada somente para confirmar”, afirmou Uilson Rodrigues.

Cronograma de Atividades

9/8 – Lançamento oficial da campanha, às 9h, CAJ I, Jardim Baiano;

14/8 – Dia Nacional de Conscientização sobre a Paternidade Responsável – Abertura de exames e realização de novos testes com prévio agendamento, das 9h às 16h, CAJ I, Jardim Baiano;

15 a 17/8 – Realização de atendimentos e novos testes de DNA mediante prévio agendamento, das 9h às 16h, CAJ I, Jardim Baiano;

19/8 – Mutirão simultâneo nas Unidades da Defensoria no interior do Estado;

19/8 – Mutirão de DNA na Escola Estadual Vila Canária, bairro Vila Canária, das 8h às 14h;

21 a 23/8 – Realização de atendimentos e novos testes de DNA com prévio agendamento, das 9h às 16h, CAJ I, Jardim Baiano;

26/8 – Mutirão de DNA no Centro Estadual de Educação, Inovação e Formação da Bahia Mãe Stella, bairro do Cabula, das 8h às 14h.

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