A história da baiana Deuziana Oliveira, de 32 anos, se junta à de inúmeros outros brasileiros que, apesar das dificuldades, resolveram apostar na fé e no trabalho para mudar de vida. A mulher, que já passou fome e ganhava R$ 50 por semana vendendo milho na rua, hoje celebra a conquista de carregar o título de pequena empresária.
A popular Deyse, natural de Teofilândia – município que fica a cerca de 88 KM de Feira de Santana – escolheu Araci, cidade vizinha em que passou boa parte da infância e juventude, para abrir um restaurante. O Sabor Sergipano é uma conquista muito valiosa para quem começou a trabalhar aos 10 anos na roça.
“Eu sempre gostei de trabalhar, de construir minhas coisas e crescer na vida através do meu esforço. Na roça, a gente empreitava [espécie de contrato de trabalho] um terreno para arrancar milho e plantar feijão para ganhar R$ 20 a tarefa de terra. Eu sempre acreditava que um dia ia construir um restaurante, sempre tive vontade de cozinhar”, disse Deuziana.
Prato vazio
Deise contou, em entrevista ao Acorda Cidade, que passou por um processo de depressão aos 18 anos, depois de ser abandonada pelo então companheiro após revelar que estava grávida. Com a filha recém-nascida, ela resolveu tentar a sorte em Aracaju, Sergipe, onde passou por muitos desafios.
“Minha filha tinha nove meses e eu não tinha estudo para trabalhar. Uma senhora me perguntou se eu tinha condições de vender milho nas ruas para sobreviver, e eu aceitei. Eu disse que não tinha vergonha, que ia trabalhar, porque o importante era ter meu dinheiro e poder criar minha filha sem ter que pedir nada a ninguém”, disse.
O valor que ela ganhava vendendo milho, R$ 50 por semana, mal dava para pagar as despesas, mas já era o suficiente para se manter firme no propósito pessoal. Deise afirmou que nunca quis recorrer a meios ilícitos para conseguir dinheiro.
“Eu e minha filha passamos muita fome. Meus pais me ligavam perguntando como eu estava e eu sempre falava que estava tudo bem. ‘Graças a Deus, meu armário está cheio, estou com dinheiro no bolso, ganhando salário’, mentira, eu não tinha nem o que comer em casa. Mas sempre dei a entender à minha família que eu tinha condições de criar minha filha”, disse.
Ingrediente especial
No período da pandemia, Deyse retornou para Araci e viu na produção de quentinhas, realizadas de maneira improvisada na cozinha da própria casa, uma oportunidade para dar a volta por cima. A empresária começou a conquistar uma clientela fiel com um tempero muito especial: o amor.
Deyse revelou que, após muitos anos de dificuldade financeira, processos depressivos e muitas batalhas, tomou coragem e decidiu dar o primeiro passo na direção ao grande sonho: ter um restaurante para chamar de seu. Ela alugou um pequeno ponto comercial em Araci e deu vida ao “Sabor Sergipano”.
“Naquela época, só cabiam quatro mesas. E devido a ter conquistado um público, graças a Deus, às vezes o restaurante enchia e eu não tinha onde botar as pessoas para sentar. Eu ficava com vergonha, ficava triste. Eu recebia todo mundo, mas com vergonha”, disse Deyse.
Mais água no feijão
E o sonho, que nasceu no período da adolescência e se fortaleceu enquanto ela vendia milho nas ruas de Aracaju, ficou grande demais para aquele espaço. Dado o crescimento da clientela, Deyse se viu obrigada a expandir o negócio, ainda de maneira tímida, mas outro passo gigantesco para quem, há alguns anos, não tinha nem comida no armário.
“Perto desse antigo restaurante, uma moça tinha um ponto maior para alugar. Eu não tinha condições de alugar. Aí eu tinha uma Pop, vendi minha moto, vendi minha televisão e algumas coisas da minha casa, reformei esse outro ponto. Fiquei sem poder comprar as mesas, até que um colega meu me emprestou mesas de madeira para eu devolver a ele quando pudesse comprar as minhas.”
A mais nova localização do Sabor Sergipano fica próximo à Praça do Tanque da Nação, em Araci e foi inaugurada na última segunda-feira (27). E na cabeça da dona, o restaurante ainda pode crescer ainda mais. Deyse revelou ao Acorda Cidade que, muito em breve, vai transformar o local em uma churrascaria.
“Eu quero só que Deus me ajude, que eu vou continuar vencendo, que daqui a uns dias eu vou trabalhar, vou comprar minhas cadeiras, vou comprar minhas mesas, vou devolver as que eu peguei emprestadas. Vou conquistar tudo que eu quero, porque estou trabalhando para isso”, disse a empresária.
Uma dica da chef
Deyse disse que, após a realização de uma reportagem no site A Voz do Campo, foi alvo de críticas. A ex-vendedora de milho rebateu as acusações de que queria algum tipo de ajuda financeira. Pelo contrário, Deyse explicou que viu na divulgação da própria história uma oportunidade para que pessoas que estejam passando por dificuldades semelhantes às que ela enfrentou, sintam-se encorajadas a vencer na vida.
“Eu quero mostrar para as pessoas que, através do trabalho, existe conquista. Vejo muitas jovens se perdendo no mundo das drogas. Quero mostrar para elas que todo mundo tem capacidade de chegar onde quer. Fui uma vendedora de milho, sempre tive orgulho, trabalhando nas ruas, de sol a chuva, para poder alcançar meu objetivo, ter meu restaurante. Eu quero que as pessoas entendam que, se a gente começar do 1º degrau, podemos chegar ao último”, concluiu Deyse.
Com informações da jornalista Iasmim Santos do Acorda Cidade
Reportagem escrita pelo estudante de jornalismo Jefferson Araújo sob supervisão do jornalista Gabriel Gonçalves
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