Bahia

Comitê Impulsor da Bahia realiza encontro de articulação rumo à Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver

O encontro reuniu mais de 100 mulheres negras da Bahia para refletir e avaliar experiências e impactos da Marcha das Mulheres Negras de 2015.

reunião rumo a Marcha das Mulheres negras 2025
Foto: Lis Pedreira

No último sábado (12), mais de 100 mulheres negras da Bahia se reuniram em mais um encontro de articulação e mobilização para a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontece em novembro deste ano, em Brasília (DF). O encontro aconteceu no formato híbrido: uma parte das mulheres se encontrou no Sindicato dos Bancários, em Salvador (BA); a outra no formato online.

A reunião foi organizada em dois períodos, iniciando pela manhã com as apresentações das representantes de cada grupo de trabalho, juntamente com as atualizações das atividades dos comitês envolvidos. Em seguida, as participantes compartilharam suas dúvidas e apresentaram propostas para melhorar o desempenho dos trabalhos nos grupos. Além disso, as mulheres organizaram o calendário com as atividades e agendas do Comitê Impulsor Bahia, incluindo a criação da programação das caravanas municipais. A iniciativa ocorre de abril a setembro, com a finalidade de mobilizar mulheres negras de dez territórios baianos.

reunião rumo a Marcha das Mulheres negras 2025
Foto: Lis Pedreira

Roda de Conversa e Reflexões

A “Roda de Conversa Becos da Memória”, conduzida pela ativista Lorena Cerqueira, aconteceu no período da tarde. O encontro teve a participação de Ângela Figueiredo, antropóloga e uma das articuladoras do Coletivo Ângela Davis e do Fórum Marielles, além de Suely Santos, membro da Rede de Mulheres Negras da Bahia.

Lorena Cerqueira iniciou a roda trazendo uma reflexão sobre a conjuntura da Marcha das Mulheres Negras de 2015 e os pontos considerados inegociáveis pelas mulheres negras naquele momento, publicadas na Carta das Mulheres Negras a sociedade brasileira em 2015. Uma década depois, esses mesmos pontos seguem vivos, sendo reafirmados como essenciais e atemporais: o direito à vida e à liberdade; a promoção da igualdade racial; o direito ao trabalho e ao emprego; a proteção das trabalhadoras negras; o acesso à terra, ao território, à moradia e à cidade; a justiça ambiental; o direito à seguridade social, à educação, à justiça, à cultura, à informação e à segurança pública.

“Essa carta foi lançada em 2014, e um ano depois a gente oficializa e realiza essa marcha em Brasília. Ela traz alguns pontos importantes, que são considerados inegociáveis, quando a gente pensa nesse novo pacto civilizatório que as mulheres negras estão propondo, pensando na discussão do bem viver e na discussão da reparação”, reflete Lorena.

reunião rumo a Marcha das Mulheres negras 2025
Foto: Lis Pedreira

A professora e antropóloga Ângela Figueiredo, também esteve presente, e propôs um posicionamento estratégico dentro do movimento das mulheres negras reconhecendo a potência das denúncias feitas na carta de 2015, mas insiste em um balanço político que leve em conta tanto os avanços, quanto os desafios que ainda permeiam até os dias atuais:

“A carta é potente. Mas é importante reconhecer que algumas vitórias já foram conquistadas. Antes mesmo das cotas, o movimento negro conseguiu desestabilizar o mito da democracia racial — uma conquista histórica, construída com muita denúncia, pesquisa, mobilização e formação. Hoje, vivemos a disputa entre dois paradigmas: um que insiste na mestiçagem e no apagamento, e outro que afirma o Brasil como uma sociedade estruturalmente racista”, afirma Ângela.

“Mas acho que precisamos pensar estrategicamente: o que conseguimos avançar desde 2015? Onde estamos estagnadas? Quais novos problemas surgiram? Por exemplo, o aumento do feminicídio não pode ser atribuído apenas à maior visibilidade da violência. A criminalização do feminicídio é uma conquista, mas o número de mortes também cresceu.”

O encontro encerrou com intervenções artísticas potentes das companheiras presentes, reafirmando os vínculos e renovando a energia coletiva para a mobilização do dia 25 de novembro em Brasília.

O que queremos? E como estamos nos organizando?

Em 2015, as ruas de Brasília (DF) receberam 100 mil mulheres, entre elas meninas, adolescentes, jovens, adultas e idosas, que moveram a “Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver” numa demonstração de força e resistência. Dez anos depois, o movimento se prepara para repetir este marco, em busca de levar milhares de mulheres para as ruas de Brasília no dia 25 de novembro, agora com a pauta “Reparação e Bem Viver“. Para organizar essa mobilização histórica, mulheres negras em todo o país estão formando comitês municipais, estaduais e regionais.

O conceito de Bem Viver é propagado há anos pelo movimento de mulheres negras, enquanto um conjunto de princípios para construção de um futuro possível, fortalecido a partir da aliança entre povos negros e indígenas, onde toda diversidade da sociedade brasileira seja contemplada. Para alcançar esse novo pacto civilizatório, é preciso reparar as violações e violências frutos de quase 400 anos de trabalhos forçados de africanos sequestrados e escravizados, como base da economia colonial, cujas consequências continuam atravessando a população negra brasileira.

Quer fazer parte da Marcha na Bahia?

Entre em contato por e-mail Comitê Estadual da Marcha, siga a rede social do comitebadamarcha2025, e fique por dentro da agenda de organização, rumo a Marcha de 2025.

Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos canais no WhatsApp e Youtube e grupo de Telegram.

Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais recentes
mais antigos Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários