Bahia

Caetano faz homenagem a capoeirista morto após discussão política em Salvador

Moa do Katendê morreu na madrugada desta segunda (8), em Salvador, após dizer que era contra Bolsonaro e que votou no PT. Suspeito está preso e confessou o crime.

Acorda Cidade

O cantor Caetano Veloso postou um vídeo no Instagram em homenagem ao capoeirista Romualdo Rosário da Costa, o Moa do Katendê, 63 anos, morto na madrugada desta segunda-feira (8), após uma discussão política, em Salvador. Além dele, a cantora Daniela Mercury usou as redes sociais para se manifestar sobre o ocorrido e mestres de capoeira que conviveram com a vítima também fizeram tributo durante o enterro, nesta tarde.

Caetano compartilhou o vídeo de uma entrevista com ele e Moa do Katendê, que foi exibida na TV Bahia, afiliada da TV Globo no estado, em 2011. No vídeo, o músico baiano falou sobre a participação dele no projeto Badauê: "Mestre Moa e Amigos do Catendê cantam Badauê". Era Moa a quem Caetano se referia quando escreveu o verso "O moço lindo do Badauê", na canção Beleza Pura.

"Moa era meu amigo e foi uma das figuras centrais na história do crescimento dos blocos afro de Salvador. Estou de luto por ele. Fundador do Badauê, compositor, mestre de capoeira, Moa vive na história real da cidade e deste país", escreveu.

Daniela Mercury também usou a sua página oficial no Instagram para postar mensagem em que diz que Moa morreu lutando contra a intolerância.

"Que tempos são esses? Mestre Moa, meu maior respeito pelo senhor. Morreu lutando contra o que sempre lutou: a intolerância. Seguiremos aqui lutando sua boa luta. À família, meu abraço mais fraterno. 🙏🏻#respeito #tolerancia #amor #mestremoa #moa", postou a cantora.

O capoeirista foi esfaqueado após dizer ao suspeito do crime, identificado como Paulo Sérgio Ferreira de Santana, que era contra o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) e que tinha votado no PT. Paulo foi preso e confessou o crime.

Sob muita comoção e em meio a várias homenagens, Moa foi enterrado às 17h desta segunda-feira, no Cemitério Quinta dos Lázaros, na capital baiana. O compositor, dançarino, capoeirista, ogã-percussionista, artesão e educador na propagação da cultura afro-brasileira completaria 64 anos de vida no dia 29 deste mês de outubro. O cantor Tatau e o presidente do bloco afro bloco Ilê Aiyê, Antonio Carlos dos Santos, o "Vovô do Ilê", estiveram presentes no sepultamento.

Um grupo de capoeiristas se reuniu no local e cantou canções ao toque de berimbaus para lembrar a importância de Moa para a capoeira, expressão cultural brasileira que mistura arte marcial, esporte, cultura popular e música e que foi desenvolvida no Brasil por descendentes de escravos africanos.

Do lado de fora do cemitério, após o enterro, outro grupo fez uma roda de capoeira em homenagem à Moa.

"Os maiores cantores do país gravaram Moa: Caetano Veloso, Gilberto Gil, dentre outros como Firmino de Itapuã. Então, ele deixou uma lacuna enorme.", disse Vivaldo Rodrigues Conceição, o Mestre Boa Gente, colega de Moa.

Mestre Boa Gente lembra que Moa foi um dos pais da Associação Brasileira de Capoeira Angola, que fica no Pelourinho, Centro Histórico da capital baiana, espaço que ajudou a preservar o movimento. Moa também foi um dos fundadores do grupo Afoxé Badauê, na década de 1970, e do grupo de afoxé Amigos do Katendê.

"Conheci Moa desde a fundação da associação. Nós, ao lado de outros mestres, fundamos a associação, um dos maiores centros de Capoeira de Angola do mundo. Tem todo um aparato de pesquisa, a velha guarda da capoeira. Lá, nos encontramos direto. Toda sexta-feira tem roda. A capoeira estava quase extinta, a Capoeira Angola, e então, na década de 80, nós nos reunimos para fazer essa coisa acontecer, um point da Capoeira Angola, que sempre foi discriminada", destacou.

Mestre Didi, também amigo de Moa, também foi ao enterro prestar as últimas homenagens. Ele lembrou que Moa estava pensando em construir ainda um espaço cultural na localidade do Dique Pequeno, no Engenho Velho de Brotas, onde nasceu e se criou.

"Sinto muito orgulho dele porque aprendi muito com ele com a convivência. Ele queria fazer um espaço dele no Dique Pequeno, porque ele sempre fez isso, afoxé, capoeira. Então, ele queria fazer uma sede, mas a vida dele foi cessada. É Lamentável. Mas a gente espera que, agora, a comunidade cresça em prol disso para que possa realizar o sonho dele", disse Mestre Didi.

O sobrinho de Moa, Rômulo Vanderlei, 28 anos, não estava no bar com ele no momento do crime e disse que ficou sabendo da notícia na manhã desta segunda. “Ele foi um ser humano que nunca fez mal a ninguém. Como sobrinho, eu nem sei o que falar. É lamentável o que aconteceu. Estou sem palavras. Ele sempre queria ajudar as pessoas. Era mestre de capoeira, professor de dança, músico, instrumentista, percusssinista, de tudo um pouco”, disse.

Crime

Conforme a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), durante uma conversa em um bar da localidade do Dique Pequeno, que fica no Engenho Velho de Brotas, mestre Moa do Katendê se mostrou contrário à posição política do suspeito, que se aproximou do grupo em que ele estava para dizer que era eleitor de Bolsonaro.

Segundo informações da SSP, o suspeito, identificado como Paulo Sérgio, que tem 36 anos, reagiu com violência após ouvir o mestre de capoeira afirmar que o grupo com o qual ele estava votava no PT. Em seguida, Paulo saiu do bar e foi em casa, onde pegou uma faca do tipo peixeira e depois retornou para o local onde Moa estava e esfaqueou o capoeirista.

Um outro homem que estava no local, identificado como Germínio do Amor Divino Pereira, de 51 anos, que é primo de Moa, foi atingido no braço e levado para o Hospital Geral do Estado (HGE). Ele ainda está internado. Não há detalhes do estado de saúde dele.

O suspeito fugiu por um beco, mas foi preso pela Polícia Militar logo após o crime. Os PMs foram acionados por testemunhas. Segundo a polícia, em depoimento, o suspeito afirmou que entrou em luta corporal com o mestre de capoeira antes de esfaquear a vítima. "Ele [Paulo Sérgio] disse que no momento em que ele voltou para o bar, ele se embolou com a vítima. As testemunhas não confirmam essa versão. Inicialmente, eles discutiram por divergência política", disse a delegada Milena Calmon.

Ainda conforme a polícia, o suspeito ainda disse que foi xingado e que estava consumindo bebida alcoólica desde o início da manhã de domingo. A polícia informou que ele disse que estava arrependido de ter cometido o crime.

Fonte: G1

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