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O advogado José Geraldo Lucas Júnior se apresentou à sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) em Salvador, no final da manhã desta quarta-feira (27) para ser preso. Ele é suspeito de matar o barbeiro Lucas Souza de Araújo a tiros, dentro de um bar no bairro do Imbuí, no domingo (24).
Na terça-feira (26), a Justiça determinou a prisão temporária dele. Durante a chegada de José Geraldo na delegacia houve tumulto, porque familiares da vítima também estavam no local.
O amigo do suspeito – identificado apenas pelo prenome "Jean" – também se apresentou ao DHPP para ter a prisão temporária cumprida. Um dos dois suspeitos estava coberto com um pano e foi acompanhado de um homem, que aparentava fazer a segurança.
Houve correria no estacionamento do DHPP. A esposa da vítima chegou a desmaiar, quando os suspeitos chegaram ao local. A cunhada da vítima, que o considerava um irmão e também estava no bar no momento do assassinato, foi pediu Justiça.
"Esse desgraçado tem que estar na cadeia. Ele destruiu todo mundo, ele me destruiu. A gente viu ele matar. Ele foi frio. Eu estava na hora. Ele é frio e calculista. Saiu do lugar e foi até o meu irmão, meu cunhado. Ele foi atrás da gente para poder matar. A gente não estava armado. Ele deu três tiros no meu cunhado. Ele deu em cima [assediou] de mim, ele deu em cima da minha cunhada [esposa da vítima] que está passando mal. A gente não vive mais".
O advogado da família da vítima, Marcos Rodrigues, informou que vai pedir um requerimento para que as prisões de José Geraldo e do amigo dele sejam convertidas para preventivas, que já que eles foram presos temporariamente.
"Vamos fazer esse pedido para que, juntamente com as autoridades policiais, possa ir para uma autoridade judiciária, para que ela possa analisar e decretar a prisão preventiva desses acusados, que é uma prisão que não tem prazo".
'O irmão só não morreu porque correu'
Muito abalado, o pai de Lucas, Luciano Souza Araújo, esteve no DHPP e falou sobre a situação. Ele contou ainda que o irmão da vítima, que também estava no bar, foi agredido pelo suspeito durante a discussão e escapou dos tiros porque correu.
"O irmão [de Lucas], meu outro filho, que foi quase ceifada a vida também. Porque o primeiro soco a ser desferido pelo acusado foi primeiro a meu filho que está vivo e ele está aqui para contar. Ele só não morreu porque ele correu, quando escutou os quatro disparos. Mas o irmão dele já estava morto. Executado friamente, por um suposto advogado", disse.
"Ao invés de ser um homicídio, a mídia poderia estar notificando e narrando duas mortes de dois filhos de um pai, que está aqui clamando por justiça".
Luciano falou ainda sobre a família do suspeito, José Geraldo, e voltou a questionar sobre a forma como a vida do filho foi tirada.
"Eu, como pai, estou aqui emocionalmente abalado com toda essa situação. Qualquer pai estaria assim, assumindo a minha dor nesse momento. Eu quero dizer que quem matou meu filho não foi um negro da periferia, uma pessoa que, só pela cor de ser negro, já é discriminado. Foi um cidadão de cor parda, um cidadão que a família pensou em investir nele, pensando ter um grande êxito dele. Mas ao contrário, ele fez isso e está corrompendo até a própria família, que investiu tanto nele desde criança".
"É isso que ele [suspeito] retribui à mãe e ao pai dele? Até mesmo ao advogado que está defendendo ele? E eu falo no sentido humano, todos nós um dia iremos morrer, porque somos filhos de Deus. Mas não da forma que meu filho faleceu".
O pai da vítima pediu apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e das entidades de Direitos Humanos.
"OAB, eu conto com vocês. Direitos Humanos, eu conto com vocês. Porque eu estou aqui me expondo. Eu sou um homem evangélico, e pelo pronunciamento desse filho meu caçula, vocês podem ter a noção do que é um filho criado no evangelho que tem princípio pelas palavras, e fala muito de Deus. Ele [filho que sobreviveu] não é bandido, assim como o que perdeu a vida também não foi [bandido]. É um trabalhador, tem uma profissão".
Fonte: G1 Bahia