Por Cristovam Aguiar*
Acredito que a moda começou lá pelos anos 70. Estrelas do cinema começaram a adotar crianças africanas. Nada mais que uma jogada de marketing, para angariar popularidade internacional, com direito a manchetes nos principais jornais do mundo. Logo socialites deslumbradas do Rio de janeiro e São Paulo começaram a imitar o gesto. E assim, a hipocrisia ganhou notoriedade.
Nada contra a adoção de crianças, e também não é problema nosso se Madonna resolveu adotar crianças africanas e amantes brasileiros. O problema é dela. Mas no caso da adoção de crianças estrangeiras por peruas deslumbradas brasileiras, eu acho que é um pouco demais. Afinal, bem ali, junto aos espigões luxuosos onde residem os ricaços do eixo Rio-São Paulo, existem crianças, negras, morenas e brancas, vivendo em favelas, em situação igual ou pior do que as africanas ou centro americanas. Por que não socorrê-las então?
Eu também sou cético quanto a esta onda de solidariedade humanitária que causa comoção no Brasil, toda vez que acontece uma tragédia. Eu duvido muito dos motivos que movem as pessoas a se organizarem em comitês para a arrecadação de donativos para as vítimas. Será que alguém aí se esqueceu do Tsunami que arrasou praias asiáticas? Lembram-se das imagens de gente saqueando os donativos? Lembram quem eram? Eu lembro: eram militares e voluntários que lá estavam para auxiliar e garantir a justa distribuição dos donativos entre as vítimas da tragédia.
Na época eu fui, a trabalho, à Secretaria Municipal de Saúde e, ainda na entrada uma jovem, trajando um avental vermelho, me abordou perguntando se eu já havia feito algum donativo. Diante da negativa, ela perguntou se eu desejava fazer naquele momento; E falou num tom peremptório, como se eu tivesse obrigação de fazê-lo
Já irritado, eu disse a ela que eu já contribuía, ao meu modo, para minorar o sofrimento de diversas pessoas. E lembrei a ela que, naquele momento, estávamos passando por uma forte estiagem, e nos campos nordestinos havia gente morrendo de fome e sede, sem que ninguém se preocupasse em socorrê-los, nem mesmo os governantes, que têm essa obrigação.
Claro que não sou contra a ajuda humanitária em momentos como esse, mas acredito que ela deve chegar por meios mais transparentes e por mãos mais honestas. Instituições como a Cruz Vermelha, por exemplo. Não é tarefa para qualquer um. Talvez fosse o caso de ser coordenada pela Maçonaria, por exemplo, ou clubes de serviço como o Rotary e Lions. Não simplesmente, aqui em Feira de Santana, interior da Bahia, algumas pessoas, sem nenhuma referencia, formar um comitê e começar a arrecadar donativos. Isso cheira mal. E muito mal.
*Cristovam Aguiar é jornalista.