Por Erika Matsumoto
Aqueles que puderam presenciar a última edição do SXSW em Austin este ano devem ter sido impactados fortemente pelos insights de dois grandes pensadores.
A mensagem final de ambos traz a evidência de que a tecnologia e todos os seus avanços dependem totalmente do humano. De um lado, o professor Simran Jeet Singh defendeu um conceito da religião Sikh que diz que a vida e o otimismo não são questões binárias: as dificuldades coexistem com coisas positivas. Cabe a nós aprender a olhar também para o lado bom das circunstâncias e, dessa maneira, avançar, crescer e seguir em frente. Whurley, um conceituado empreendedor e estudioso da computação quântica, discorreu sobre como as vantagens da inteligência artificial (IA) ultrapassam de longe as dificuldades que muitos céticos preferem enxergar.
Toda essa introdução se faz necessária para falar sobre o impacto da IA na maternidade, uma das experiências mais intensas e gratificantes na vida de uma mulher, mas que também pode ser uma das mais desafiadoras. Eu, como mãe da Sofia, venho acompanhando as discussões sobre o tema e acho imprescindível trazer essa reflexão para preparar as atuais e futuras gerações. A chegada de um bebê traz muitas responsabilidades, demandas e, independentemente de idade, raça ou classe social, faz com que as famílias se vejam de frente com um universo extraordinário e insólito, para o qual não há manual de instruções ou curso preparatório. A partir desse momento, muitas definições passam a ser estruturadas em função desta nova vida que está chegando ao mundo, absorvendo muito tempo e energia não só das mães, como de todas as pessoas envolvidas.
Pois alguns dos desafios oriundos da chegada de um bebê podem hoje ser mais facilmente superados com o apoio de um aliado um tanto inusitado: a IA. Assunto controverso e ainda fora do alcance de muitos brasileiros, pois quase 34 milhões de pessoas ainda não tem acesso à internet, segundo dados da pesquisa Digital 2023. Um primeiro olhar pode sugerir que o uso excessivo de tecnologia possa causar efeitos negativos no crescimento e educação de crianças. Não faltam estudos que apontam os malefícios de uma alta exposição a conteúdos digitais e horas dispensadas em frente às telas – em detrimento de atividades presenciais. Por outro lado, seria impensável negar os benefícios trazidos pelos avanços tecnológicos. Como chegar a um uso equilibrado?
Em sua faceta positiva, a IA pode fornecer suporte, informações e soluções para auxiliar as famílias a superarem desafios de forma mais eficiente e menos trabalhosa. Ela atua hoje no monitoramento de saúde, na detecção de padrões de sono e vigília e fornecem insights sobre a saúde do bebê. Os assistentes virtuais, cada vez mais capacitados, podem prestar todo tipo de auxílio, desde o provimento de informações até criação de uma rotina com horários e atividades pré-estabelecidas.
Tudo isso é embasado por ferramentas de análise de dados, que geram conhecimento preciso para tomadas de decisões sobre a saúde e bem-estar. Ainda mais impactantes são as soluções B2B, que geram eficiência nos processos hospitalares e laboratoriais, trazendo mais segurança e conforto para as famílias.
O setor de educação também está sendo fortemente impactado, seja pelo incremento do EAD, seja pela possibilidade de experiências de ensino imersivas. Em resumo, é preciso achar o equilíbrio para o melhor uso da Inteligência Artificial e outras tecnologias na criação de filhos.
A IA, assim como muitas outras tecnologias, demanda acompanhamento próximo para que haja uma orientação correta sobre seu uso saudável. Essa sempre foi uma preocupação dentro de casa com minha filha. Busquei apresentar os mais variados conteúdos e logo cedo percebi um talento criativo e artístico para o desenho e, com a ajuda de uma professora, a incentivei a desenvolvê-lo. Ela foi apresentada a lápis e pincéis próprios para pinturas artesanais. Ao mesmo tempo, recebeu acesso a um iPad e aplicativos de desenho. Hoje, aos 15 anos, ela já tem claro que essa será a sua futura área de atuação.
Em resumo, o uso da tecnologia e da IA pode ser positivo quando incentiva a criatividade e a curiosidade. Causa preocupação quando enseja “pasteurização” dos conteúdos gerados por algumas ferramentas, que pode desestimular o desenvolvimento do pensamento crítico, da capacidade criativa e da habilidade de resolução de problemas. Tais sensibilidades não serão – ao menos não facilmente – absorvidas e desenvolvidas por robôs. A verdade é que não há mais como negar os benefícios das novas tecnologias, mas o olhar vigilante e direcional de mães e pais se faz cada vez mais necessário.
*Erika Matsumoto, CEO da Urba, braço de loteamentos do grupo MRV&CO, e mãe da Sofia
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