Sabe, meu caro leitor, eu poderia começar escrevendo esta crônica falando de como é bom sentir o maravilhoso cheiro da chuva, o tal petricor, palavra que quase ninguém sabe o que significa. Mas é a mesma coisa que o aroma delicioso que sentimos quando a chuva cai com suas moléculas pulsantes na terra e espalha ao redor aquele maravilhoso cheirinho de terra molhada trazendo o frescor dos cristais de água, em constante contato com o calor que se fazia e agora se dissipa no ar.
No entanto, eu quero ir mais fundo e te falar sobre outro sentido que venho percebendo. Poderia ser um cheiro agradável, mas sinto te dizer que não é.
O cheiro que sinto é o cheiro do fim da partida. É o cheiro cansado daqueles pós-jogos que já não despertam mais tanta vontade de prevalecer ou continuar.
Quando crianças jogam tanto aquele mesmo jogo um momento elas enjoam, porque não tem mais graça, os dois lados percebem que acabou. Então, o que se opta é uma mudança de jogo, porque ninguém aguenta mais aquela partida e muito menos o mesmo jogo por tanto tempo seguido.
Eu sinto o cheiro da falta de percepção e da forte materialidade que se faz presente e leva toda a naturalidade de se perceber o quanto que o tempo se esvai e ninguém ou pelo menos quase ninguém o percebe.
O que pararia o mundo? Isso eu me pergunto não só no hoje, mas no ontem e, entretanto eu só consigo chegar a um pensamento, que não se solidifica, mas se mantém conciso.
Eu penso que a partir do momento que as pessoas realmente começarem a enxergar quem está a sua volta, e a partir do momento que as pessoas reconhecerem o seu próximo como um ser ao mesmo tempo diferente, mas único, e que merece atenção, o mundo pararia ou pelo menos em um certo período.
É doloroso enxergar, porque ao mesmo tempo que se compartilha um falso amor, existe a ausência do social, existe a ausência da caridade verdadeira, existe ausência do real valor que é partilhar e fazer o bem. E existe um aumento na hipocrisia e desvalor.
“Vou ajudar os habitantes da África”, disse o grande empresário. E o seu vizinho ao lado passando fome, não merece ele a mesma ajuda?
O mundo pararia se começássemos a observar que cada um é dono e responsável pelo que faz. O mundo pararia se entendêssemos que a vida é feita de escolhas. O mundo piraria se não tivesse mais ninguém para colocar a culpa sobre os seus problemas.
O mundo mudaria se existisse de fato um político ou um representante do povo que realmente se importasse com o que os cidadãos necessitam e não só em seus próprios interesses. Pode ser utópico, mas tento fazer uma análise global e não defender um lado. Na verdade eu quero expor todos os lados e mostrar que a maioria não cumpre o que diz.
O mundo poderia parar com uma reconfiguração continental. Imagina só uma nova pangeia!
Poderia parar com o medo de uma 3ª ou digamos até 4ª guerra mundial, de uma invasão alienígena, de um regime ditatorial, de uma bomba super atômica. Um ataque ao Irã, um acordo de paz do século, uma falsa paz no Oriente Médio. E tudo isso que eu acabei de citar indica o fim para pessoas diferentes, que ao olharem a vida adjetivam o seu fim ou simplesmente uma possível pausa no jogo.
Ao observar dia após dias as estrelas, o correr das nuvens, as mudanças climáticas, a obsolescência programada, a perda de fidelidade, a ausência do amor, o sabor tendo seu fim, o cansaço aumentar, o desespero bater, a cultura do ego alavancar, a amizade ruir e a violência crescer, eu vejo a terra gritar: game over!
Além de você existem outras pessoas, além de você existe sofrimento, além de você existe vida, além de você existem outras perspectivas, além de você existem outras histórias.
O dia caminha comumente para continuar e acho que ainda não é hoje que 2019 vai parar. Talvez eu venha aqui reescrever outra crônica para o dia em que 2020 vá parar, mas prefiro para alguns anos vindouros. Agora sigo terminando essas linhas e você para as tarefas naturais do seu dia a dia.
O que levaria a Terra a parar em 2019 talvez fosse o mesmo que ainda a deixa continuar.
Eu sei. Eu falei que já iria ir, mas lembrei de algo que precisava ressaltar…
Quando a Terra não tiver mais frutos para serem colhidos e quando não houver mais esperança para continuar, o mundo pode possivelmente parar.
Se as pessoas vivessem como se não tivessem seus bens materiais, se fossem mais humildes e agissem como se pudessem se desfazer de tudo que tem amanhã ou no hoje, o mundo pararia. Por que não precisaria mais ter evolução.
A passagem fugaz do tempo, a tecnologia nos invadindo e nos orientando nos leva a várias bifurcações na vida.
Pararia o mundo, se as pessoas começassem a olhar umas as outras e observar que existe olhos reais ao seu redor delas, além das multitelas de ego e artificialidade tecnológica do “sorria, você está sendo filmado”?
Quando o mundo poderia dar uma pausa?
Talvez não fosse um maremoto, terremoto, nem um aquecimento global, mas a ausência. A falta de pessoas de bem; da grande evolução; do amor; pessoas capazes de perdoar e unir em um mundo que ensina a separar.
Texto escrito em 2019 por Iasmim Santos, jornalista do Acorda Cidade.
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