Por Carlos H. Kruschewsky*
"Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito"
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Em 1985, saia de sua banda de origem uma das maiores vozes do rock nacional. Os motivos pelo qual Agenor de Miranda Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza, deixava o Barão Vermelho eram muitos. Há quem diga que suas febres constantes (o início dos sintomas da AIDS, que o mataria em 07 de julho de 1990) deixaram o artista com uma ânsia gigantesca de experimentar outros estilos e outros movimentos musicais. O flerte com o samba, por exemplo, passou a ganhar muita força.
Ideologia é o terceiro disco solo de Cazuza, gravado três anos depois de sua despedida do Barão Vermelho. É, sem dúvida, um disco importantíssimo para o rock brasileiro. Cazuza fala abertamente sobre seu pensamento político, suas desilusões sociais, sua doença e a morte. É um disco pessoal. O Garoto que queria mudar o mundo não só tomava consciência da incapacidade de fazer isso, quanto também tomava consciência de sua finitude. “Eu vi a cara da morte e ela estava viva”.
Este disco, gravado pouco tempo depois de Cazuza voltar dos EUA, após um período internado, tem canções conhecidas por todo mundo, como “Brasil”, “Faz parte do meu show” (com arranjos de Bossa Nova e uma orquestra acompanhando) e “Ideologia”. As duas últimas foram as músicas mais tocadas nas rádios do país, em 1988.
Você pode até imaginar que o disco leva o nome da música que abre o álbum. A verdade é que Ideologia é um disco conceitual, da melhor espécie, e tudo nele discute o seu título. A busca por uma ideologia, um sentido de coletividade que sequestre o sujeito se uma condição angustiante e assim oculte a realidade.
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MELHORES FAIXAS:
•Ideologia
•Blues da Piedade
•Faz parte do meu show
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*Carlos H. Kruschewsky é psicólogo, psicanalista, presidente do Dragornia Moto Club, BeerSommelier, Homebrewer, sócio da Dragornia Cervejaria e Colecionador de Discos. Instagram: @sr.ck @dragornia
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