Música

Das coisas que aprendi nos discos: Especial Clube dos 27 - Amy Winehouse, 1983/2011

Quanto jovem, Amy Jade Winehouse (nascida em Londres em 14 de setembro de 1983), já cantava em corais, filarmônicas e clubes do gênero.

Por Carlos H. Kruschewsky*

“They tried to make me go to rehab
But I said: No, no, no
Yes, I've been black, but when I come back
You'll know-know-know”
Rehab – Amy Winehouse

Aqui temos uma artista contemporânea de muitos. Se você está acompanhando esta série e não é uma criança gênio de 10 anos de idade, você com certeza viveu na mesma época em que a Amy Winehouse. Se a resposta for sim, fique feliz! Você pôde acompanhar a popularização de um gênero musical que naturalmente não é tão popular assim: o Jazz. Se você conhece música, sabe o quão virtuosos são os músicos de Jazz. O melhores do mundo. Com a Amy não era diferente.

Quanto jovem, Amy Jade Winehouse (nascida em Londres em 14 de setembro de 1983), já cantava em corais, filarmônicas e clubes do gênero. Foi descoberta e apresentada a Island Records por um amigo caça talentos e desde que começou a cantar profissionalmente, em 2002, não parou mais. Sua voz única provou-se uma grande mina de ouro. Mina essa que foi explorada até a exaustão e insistentemente depois disso até o desmoronamento. Mas me permitam chamá-los à reflexão, neste texto, sobre determinados aspectos sociais enquanto conto a história desta artista que morreu dia após dia, na frente de todo mundo, enquanto o público consumia vorazmente sua miséria e seu sofrimento.

Amy era uma garota comum, vivia com seus pais, gostava de compor, tinha bons amigos, entretanto um descontentamento com seu corpo produzia um transtorno alimentar: bulimia. Sua mãe nem se quer estranhou quando a filha num jantar disse “Estou fazendo uma dieta nova. Eu posso comer de tudo, depois é só vomitar!”. Seus amigos costumavam dizer que Amy comia uma quantidade assombrosa de comida, minutos depois colocava tudo pra fora. Quadro que piorou bastante quando seus pais se separaram. Pois para além da comida, vinha junto grandes quantidades de álcool. Amy costumava dizer que não recebia tanto afeto de sua mãe, por isso fazia sentido que morasse com seu pai. Idolatrava o pai. Ele era preocupado e afetuoso. Costumavam comemorar juntos os avanços que ela fazia na música. O que culminou no contrato com uma grande gravadora em 2002, em seguida o lançamento de Frank, Seu primeiro disco. O Disco, embora um bom disco de Jazz, não fez tanto sucesso assim, foi responsável por apresentar a artista ao mundo, mostrou o potencial que a Amy Winehouse tinha a ser explorado, mas não fez tanto barulho quanto esperavam (O que é profundamente compreensível. Estamos falando de 2003 e o estilo em questão era o Jazz).

Amy já sofria com questões referentes ao alcoolismo e esta relação com o álcool foi piorando vertiginosamente. Dava para acompanhar o estado mental da artista baseado em que tipo de música ela escrevia. Toda a obra de Amy Winehouse era biográfica. Ela escrevia sobre as relações amorosas que tinha, sobre as coisas que viva, até mesmo sobre a separação dos seus pais. Continuou sendo assim quando Amy conheceu Blake Fielder: o grande amor de sua vida. Já falamos de uma série de casais intensos do universo da música. Nenhum deles foi tão destrutivo quanto o romance com Blake Fielder. Foi ele que apresentou drogas como Crack e Heroina à cantora. Quem acompanhou a relação costumava dizer que Blake era uma espécie de vampiro que sugava todas as energias de Amy e levava à depressão profunda, como quando terminou a relação para voltar com uma ex namorada (por mensagem de texto).

No meio deste turbilhão Amy Winehouse gravou e lançou o disco que lançaria seu nome ao estrelato. Back to Black. Esse disco ganhador de muitos prêmios tinha canções como Rehab (onde Amy falava sobre o desejo que sua equipe tinha de interná-la numa clínica de reabilitação para tratamento, mas seu pai insistia que ela estava bem e que precisava voltar ao trabalho), a música Back to Black (de volta ao luto, também pode ser lida como de volta ao Blake) que ela escreveu para Blake Fielder, sobre como se sentia durante o termino do relacionamento. O disco Back to Black fez tanto sucesso que trouxe com ele muitos prêmios de melhor disco, melhor música e trouxe até Blake Fielder de volta. Mas Amy já não era mais a mesma.

Era comum que ambos se metessem em todo tipo de confusão, que Amy Winehouse estivesse mais bêbada, mais drogada, mais perto da morte. Fotografias que mostrassem a degradação da artista custavam mais caro, as notícias sobre os shows onde ela se apresentava caindo de bêbada ou desorientada por conta das drogas enchiam as manchetes. O público não queria mais vê-la bem. Humoristas faziam piada com seu estado, nas premiações em que ela ganhava havia sempre uma alfinetada, aqui no Brasil (no programa Pânico na TV) tinha um quadro onde uma pessoa vestida de Amy Winehouse empurrava, gritava e batia em pessoas aleatórias na rua, para a diversão da audiência.

É bem curioso como a gente, digo como sociedade, consome o ódio e a destruição. Como esse discurso ganha poder. Estamos vendo isso na TV agora… O Big Brother Brasil 21 é sintoma disso. Odiamos tanto que não basta a eliminação, o público quer a humilhação publica, a destruição da carreira, a face da derrota, as lagrimas de arrependimento. A Amy Winehouse conheceu esse sentimento nos últimos anos de sua carreira. Após uma sucessão de show vexatórios, como destaque o show da Sérvia (onde foi obrigada por seu pai a comparecer e apareceu no palco bêbada e desorientada) Amy decidiu dar uma pausa na carreira e viajou de férias. Seu pai, que nessa altura de posse da mina de ouro que tinha como filha, já havia se tornado um enorme explorador, apareceu com uma equipe de filmagem para um Reality Show sobre como era ser pai da Amy Winehouse. Amy não agüentou a exposição, a fama que nunca quis e morreu por intoxicação alcoólica dia 23 de Julho de 2011, tornando-se mais uma pessoa incrível a entrar para o infame Clube dos 27.

O LP escolhido é o Back to Black. O Disco mais famoso da carreira de Amy Winehouse. E as 3 melhores faixas são:
• Rehab
• Back to Black
• Love is a Losing Game

*Carlos H. Kruschewsky é psicólogo, psicanalista, presidente do Dragornia Moto Club, BeerSommelier, Homebrewer, sócio da Dragornia Cervejaria e Colecionador de Discos. Instagram: @sr.ck @dragornia

Todos os textos da série “Das coisas que aprendi nos discos” são encontrados na editoria Artigos e Crônicas.
 

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