Por Lineia Fernandes*
O Brasil tem muitas coisas em comum com o México e uma delas é a paixão pelo futebol. A diferença, neste caso, é a qualidade do nosso futebol, o peso da camisa verde-amarela, apesar de os mexicanos terem melhorado muito nos últimos anos. Longe de ser favorita na Copa 2010, a seleção mexicana faz um esforço grande e o povo, que alimenta um sonho antigo de poder vencer um mundial, sonha, acredita, vibra, participa! Aqui, na Cidade do México ou no DF (Distrito Federal, a maneira mais comum entre eles para se referir a uma das maiores cidades do mundo), hoje em dia é difícil comprar uma camisa preta da seleção tamanho foi o volume de vendas.
Então, imaginem o respeito e a admiração que este povo nutre pelo Brasil quando o assunto é Copa do Mundo! Bem, como todos vocês sabem, para nós, brasileiros, o futebol é praticamente uma unanimidade, também entre as mulheres e principalmente nos mundiais. Daí, esta é a minha primeira Copa fora do Brasil, longe de casa, daquela esfuziante alegria que sentimos nos dias dos jogos – a rua e a casa enfeitadas, verde e amarelo em toda parte; um nervosismo antes de começar a partida; as ruas que ganham um verdadeiro frisson horas antes porque todos saem do trabalho com o mesmo objetivo e a alegria de ver a nossa seleção entrar em campo;
diversas camisas recém-lançadas pra gente escolher o modelo mais bonito (nunca esqueço de uma blusa linda que tive na Copa de 2002, modelo tomara que caia, a bandeira enorme na frente, estampada em toda a blusa!!!); logo, a família e os amigos reunidos, amendoim, pipoca, churrasco, batata frita, cerveja gelada… hummmmm! Aveeeeee!!! Ninguém merece ficar longe de casa numa copa do mundo, gente! É uma mistura de saudade com solidão, difícil de explicar! A gente se sente meio só mesmo estando acompanhada…Vivendo uma mistura de emoção com tudo isso, trouxe minha coleção de blusas – que passei a usar com muito mais freqüência nos dias que antecediam a Copa.
Entre camisetas e blusas com mangas, tenho quatro e não enjôo nunca de usá-las: vestir uma camiseta da seleção brasileira no exterior, especialmente neste período, é como portar um amuleto e uma identidade suprapartidária que desperta olhares e admiração onde quer que você vá. Mas, muito mais importante, nos enche de orgulho, apesar de tudo. Não sou uma grande especialista em futebol, mas sei que a nossa equipe há muito tempo já não apresenta uma qualidade técnica nem o futebol mais criativo e bonito de se ver como em seus tempos áureos. No entanto, a gente continua sendo apaixonada por futebol, o que se há de fazer?!?
Então, ri, se emociona, grita, xinga, berraaaaaaaaa, mesmo não estando no nosso grupo natural!!! Todas as coisas mais comuns que fazem os torcedores. Vivi todas as emoções possíveis no meu primeiro jogo e fiz tudo isso. O detalhe é que vi a partida numa das maiores salas de cinema do México, numa exibição em 3D (três dimensões), numa parceria que está sendo inaugurada este ano entre a FIFA, a Sony e algumas empresas de cinema. Um espetáculo que, no primeiro tempo, me deixou com a impressão de que a qualidade de imagem e áudio não salvaria a mediocridade do time brasileiro, pior, ressaltaria ainda mais – fraco, lento, sem criatividade, inclusive meio acovardado diante do futebol menor da Coréia do Norte, óbvio por uma série de razoes.
Claro que o segundo tempo tampouco foi uma maravilha de se vê, mas trouxe um futebol mais digno da seleção brasileira, com algumas poucas e destacadas atuações que salvaram a pele do time.
E eu saí do shopping, ostentando a minha verde e amarela, afinal, feliz de ver dois bonitos gols, de ter matado um pouco a saudade de casa pelo ambiente criado no estádio africano… No entanto, sem poder esconder a frustração ao reconhecer uma equipe sem muito brilho (o meu senso crítico está cada vez mais aguçado, que pena?!?). E, por outro lado, seguindo com o meu amuleto – na minha caminhada até chegar a casa, fui ouvindo: Brasil ganhou, claro! Risosssss! Vamos acreditar! Afinal, otimismo e fé não fazem mal a ninguém.
* Lineia Fernandes é jornalista e vive na Cidade do México desde agosto de 2009, onde faz mestrado em Comunicação. É assessora de Imprensa da Secretaria de Educação de Feira de Santana e integra a equipe do Programa Acorda Cidade.