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Os discursos de vereadores de Feira de Santana contra um projeto do deputado federal Jean Wyllys que não existe, sobre mudanças de trechos homofóbicos da Bíblia, teve repercussão nacional e virou motivo de piada. Em seu perfil no instagram o deputado afirmou que o fato trata-se de um dos maiores vexames já protagonizados pelas bancadas de fundamentalistas religiosas.
Os discursos dos vereadores foram feitos na sessão da última segunda-feira (27). O vereador Edvaldo Lima criticou a informação divulgada em rede social de que o parlamentar estaria apresentando uma emenda à Bíblia para retirar trechos considerados homofóbicos. “Trago um assunto nesta manhã, que entendo que os valores estão sendo modificados neste país. Olha o que o deputado Jean Wyllys tem pronunciado, colocando projetos. Ele tem preconceito com os cristãos, ele odeia os cristãos, é um verdadeiro membro do Talibã no Brasil”, afirmou.
Ao saber do fato, através do jornal O Globo, Jean Wyllys, postou no Instagram: “O Globo informa hoje, na coluna de Lauro Jardim, um dos maiores vexames já protagonizados pelas bancadas de fundamentalistas religiosos que estão tomando assembleias estaduais e câmaras municipais. Na cidade baiana de Feira de Santana, os vereadores discursaram no plenário repudiando um suposto projeto meu… que não existe. Lembram daquela estupidez sobre "mudar trechos homofóbicos da Bíblia"? A Câmara Municipal vai debater uma moção de repúdio contra mim por esse "projeto" fictício, boato de internet. Como se fosse para esse tipo de palhaçada que os vereadores recebem dinheiro público! Nos próximos dias vamos publicar aqui o vídeo da sessão com os melhores discursos dos vereadores fundamentalistas. É mais engraçado que vídeo do Porta dos Fundos. Mas, ao mesmo tempo, é triste. Eu, como baiano, morro de vergonha desses patetas!”, postou.
O discurso na Câmara:
De acordo com informações do site da Câmara, "o vereador Edvaldo Lima ressaltou que constantemente cristãos são mortos no Oriente Médio e o deputado federal nunca levantou a voz contra isso. “Jean Wyllys pode pagar muito caro, não vejo levantar a voz quando mataram milhares de cristãos no Oriente Médio, não levanta a voz, mas para perseguir os cristãos brasileiros, os que ele representa, como parlamentar, Jean passa o ódio, amargura contra os cristãos, e ainda há tantos que apoiam batendo palmas para um sujeito que deveria tomar vergonha na cara”, criticou.
Em aparte, o vereador Justiniano França (DEM) comentou o assunto. “Quero parabenizar por essa abordagem nesta manhã. É um projeto ‘natimorto’, não tem Congresso que aprove, porque não foi o Congresso que estabeleceu a Bíblia. Quero fazer um comentário a respeito, ele [Jean] tem a opção dele, temos que respeitar, mas não aceitamos. Ele ataca os cristãos, mas se ao invés dele ter cuspido em Bolsonaro, fosse ele que tivesse sido cuspido, a imprensa teria dito que as minorias foram desrespeitadas. Ele precisa respeitar todo e qualquer cidadão, todos nós que temos a fé cristã evangélica”, disse.
Também em aparte, o edil Alberto Nery (PT) se pronunciou a respeito. “O tal do Jean coloca que é boato, que não é verdade essa informação, mas queremos repudiar. Não podemos concordar com a manifestação dessa forma. Ficamos realmente perplexos, porque a palavra de Deus é bem clara, aí de quem tirar um só til!”, declarou o petista, afirmando que não concorda com a supressão de trechos da Bíblia.
Retomando a palavra, o vereador Edvaldo Lima voltou a comentar que recebeu notificação do Ministério Público, por conta dos seus comentários a respeito do segmento GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros).
“Não podemos concordar com esse posicionamento GLBT. Recebi o processo do Ministério Público, o qual o GLBT me colocou devido às minhas posições. Mas, pode colocar o tanto de processo que tiver, não vou arredar um palmo. Não tenho raiva, não tenho ódio, mas não comungo com a prática do pecado, não vou colocar minhas digitais para dar benefícios ao grupo gay, porque vai de encontro à palavra de Deus”, afirmou.
Em aparte, o vereador Isaías de Diogo (PSC) também participou da discussão. “Quero parabenizar Vossa Excelência pela abordagem. Faço coro aos vereadores que me antecederam: Justiniano França, Nery e a todos os colegas que defendem a família. Queremos aqui repudiar essa atitude que o deputado Jean faz em seu pronunciamento, e dizer que entendemos que ficamos preocupados com as pessoas tratarem de uma questão religiosa. O dever do vereador é legislar em função do povo, as pessoas estão indo para outro caminho, perdendo a essência da política, acabam ferindo o que Deus constituiu”, pontuou.
Em seguida, o edil Eli Ribeiro (PRB) complementou: “um cidadão, eleito pelo povo, coloca um projeto desse na Casa, onde quer retirar da palavra de Deus trechos que considera homofóbicos! Isso não vai passar. O pensamento dele a gente respeita, mas quando vamos a tribuna para falar mal da opção das pessoas, imediatamente vem um bombardeio sobre nós, eles podem bater na gente, esculhambar”, lamentou.
O vereador Marcos Lima (PRP) também se mostrou contrário a proposta de supressão de trechos bíblicos. “Queria dizer que o diabo veio para matar, roubar e destruir. A Bíblia é uma constituição mundial onde Deus é o autor, ninguém vai conseguir tirar. Isso está dentro da própria palavra de Deus, mas não vão conseguir. O que eles querem é aparecer. Isso é algo polêmico que ele vem buscar para aparecer na mídia, a exemplo do que estamos aqui falando sobre ele. Tenho certeza de que se for apresentado, o projeto não será aprovado”, acredita.
Novamente com o uso da palavra, Edvaldo Lima (PP) comentou as centenas de pessoas do movimento GLBT que estão reunidas em Brasília, a fim de sensibilizarem o Governo Federal para que seja aprovada uma lei que pune a discriminação por orientação sexual.
O pepista acredita que o parlamentar tem vários assuntos com os quais deve se preocupar. “Vossa Excelência [Jean Wyllys] precisa se preocupar não com homossexuais, mas com a vida de milhares de brasileiros que estão sem comida na mesa, é isso que tem que se preocupar, com projetos que venham beneficiar a sociedade brasileira”, aconselhou.
Edvaldo Lima informou que fará uma Moção de Repúdio ao referido deputado. “Vou fazer uma Moção de Repúdio, para que ele receba no gabinete dele. Pode ter legitimidade, mas não podemos aceitar o que está acontecendo”, concluiu o vereador, se referindo a emenda mencionada".
Nota de Esclarecimento
A Câmara Municipal de Feira de Santana vem através desta esclarecer que na sessão ordinária da última segunda-feira (27), assim que o vereador Edvaldo Lima (PP) cogitou a possibilidade de dar entrada em uma moção de repúdio contra o deputado federal Jean Wyllys (PSOL), pelo suposto projeto que visa suprimir trechos na Bíblia considerados homofóbicos, alguns vereadores e a Assessoria de Comunicação da Casa, de imediato, lhe alertaram sobre a inveracidade da notícia. Partindo deste pressuposto, a votação da moção foi abortada.
Câmara Muncipal de Feira de Santana