Não precisa retroceder muito na história para encontrar o período em que atribuição da escola era apenas ensinar a ler e a escrever. A necessidade de acompanhar as mudanças ou, por um conceito mais avançado, antecipar-se a elas recheou programas, alterou filosofias, métodos e objetivos, e ampliou o leque de serviços oferecidos aos alunos.
É RECENTE, também, a conclusão de que a merenda era o atrativo para evitar a evasão e, mais do que isso, para que o estudante pudesse receber o mínimo indispensável de proteínas à aprendizagem. A merenda foi transformada em refeição, para de milhões de crianças. O livro e o prato se encontram na escola.
AGORA a escola descobre nova demanda, que subverte modelos, foge dos currículos normais, mas se tornou imprescindível: educar o aluno a se alimentar. Esta aparente inversão é reflexo de uma realidade que constrói situações de absoluto paradoxo: de um lado, um bilhão de pessoas passam fome; de outro, um número maior ainda tem problemas de saúde causados pela obesidade. A fartura de poucos contrasta com a privação da maioria. Sofrem os que estão com o prato vazio e aqueles que vivem na abundância.
DE ACORDO com o Manual de Cantinas Saudáveis, editado pelo Ministério da Saúde, o conceito de alimentação saudável deve enfocar o resgate dos hábitos alimentares regionais, estimulando o consumo de alimentos como frutas, legumes, verduras, grãos integrais e leguminosas. Porém, não é bem esse tipo de alimento que se encontra em muitas cantinas escolares. Refrigerantes e salgados, como coxinhas, empadinhas e pizzas enroladas são os itens que mais despertam o paladar das crianças.
EMBORA a legislação de muitos países já proíba publicidade de alimentos prejudiciais à saúde das crianças, o governo brasileiro teima em ficar submisso à pressão das empresas produtoras, que nem sempre visam a saúde das crianças. Reluta em assegurar qualidade de vida de nossas crianças e da população.
NO BRASIL, trinta por cento das crianças apresentam sobrepeso e quinze por cento delas já são obesas. Uma das causas é a merenda escolar. Cuidar da saúde de nossas crianças é tarefa de todos: pais, educadores, autoridades… É urgente agir para que não aumente a quantidade de veneno nas escolas e para que as crianças de hoje e os adultos de amanhã tenham vida saudável.
+ Itamar Vian
Arcebispo Emérito
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