Feira de Santana

Dono de empresa de ônibus diz que número de pagantes é menor que o apontado no edital; empresário tira dúvidas de passageiros

Sobre a implantação de serviços, previstos no edital, a exemplo do centro de monitoramento para acompanhar o trajeto dos ônibus, Marco Franco disse que já está sendo instalado.

Daniela Cardoso

Em meio a muitas reclamações por parte dos usuários do transporte público de Feira de Santana, empresas de ônibus e município ainda não se entendem. Após a empresa Rosa divulgar uma carta pública relatando dificuldades e de o prefeito José Ronaldo de Carvalho afirmar não entender a atitude da empresa, o diretor da São João, Marco Franco, esteve no programa Acorda Cidade* na quinta-feira (3), e se posicionou diante de diversas questões.

De acordo com Marco Franco, o que tem preocupado as empresas e o próprio poder público, que, segundo ele, tem ciência dos problemas, é que antes o transporte público tinha um volume bem maior de passageiros transportados. O diretor afirmou que o edital trabalhava com o número de passageiros, pagando a tarifa completa, de dois milhões quatrocentos e trinta e dois mil, por mês.

“Esse número hoje é bem menor do que estava previsto. Fechamos o mês de fevereiro com em torno de um milhão e seiscentos mil pagantes, ou seja, temos em torno de oitocentos mil passageiros a menos, que equivale a aproximadamente dois milhões e meio a menos de receita. Com esse número não temos como remunerar o sistema e nem fazer os investimentos necessários para a boa prestação do serviço”, afirmou.

Segundo Marco Franco, considerando as duas empresas, a Rosa e a São João, o investimento para assumir o sistema de transporte coletivo em Feira de Santana foi bem maior que 50 milhões de reais. Questionado se as empresas não teriam feito um estudo de viabilidade antes de iniciar o serviço na cidade, Marco Franco explicou que por tratar-se de concessão pública, há um item exigido em toda licitação com informações básicas, que provem a forma de se chegar ao equilíbrio econômico financeiro do contrato.

“Nós tivemos a oportunidade de ter a maioria dos trabalhadores das empresas anteriores e tivemos informações da demanda dos passageiros transportados. O processo licitatório foi iniciado no início do ano passado e nós colocamos uma equipe durante uma semana para fazer uma pesquisa para chegar a expectativa do número de passageiros. Porém o transporte urbano no município, na nossa visão, sofreu um processo rápido de perda com os dias em que a cidade ficou sem os ônibus”, disse.

Além disso, continuou o diretor, “Estabeleceu-se um sistema paralelo, com os alternativos e os ligeirinhos, que entraram no sistema no vácuo das deficiências do sistema anterior. Eles começaram a transportar passageiros pagantes. Agora nos resta reequilibrar o sistema com a nova frota, novos serviços e trazer o passageiro de volta para que se tenha a receita necessária”, avaliou.

O que precisa ser feito para melhorar

Na opinião do diretor da empresa São João, a resposta é simples: ter passageiros. Porém ele reconhece que a resolução é complicada. “A empresa vem conversando com o poder público municipal, que está participando de forma ativa dessas nossas dificuldades. Se a solução fosse simples, já teríamos encontrado. Envolve várias questões, porém tem que ser rápido.”

Marco Franco destacou que as empresas devem corrigir as falhas que o sistema ainda apresenta, principalmente com horário. Ele afirma que há um vício entre os funcionários, onde muitos deles não têm cumprido com as obrigações. “Temos acompanhando as reclamações da população e tem coisas a melhorar”, reconheceu.

Câmeras e ar-condicionado

Sobre a implantação de serviços, previstos no edital, a exemplo do centro de monitoramento para acompanhar o trajeto dos ônibus, Marco Franco disse que já está sendo instalado. “Com isso poderemos tomar ações efetivas para melhorar o serviço”, afirmou.

Quanto as câmeras de monitoramento, ele informou que já estão sendo instaladas nos veículos. Sobre a instalação de ar-condicionados, o diretor destacou que este serviço não estava previsto no edital e que os veículos que vão fazer parte do BRT que devem dispor do equipamento.

Vale-transporte

O diretor da empresa São João defendeu o fim do vale-transporte de papel, que na opinião dele, torna-se uma moeda paralela no sistema, sendo aceito por clandestinos e alternativos. “As pessoas recebiam esse vale e revendiam e isso gerava uma circulação paralela que em nada contribuía com o sistema. Antes era comum, pois não existia tecnologia, mas hoje praticamente em lugar nenhum existe o vale de papel”, destacou.

Integração temporal

Com o fim do vale de papel e o uso do cartão magnético, Marco Franco afirma que os passageiros terão muitos benefícios, a exemplo da integração temporal, que, segundo ele, já está ocorrendo.

“O cartão traz segurança e já estava previsto no edital a integração temporal para as pessoas que tem necessidade de pegar mais de um veículo e já possuem o cartão. Elas não precisam mais ir ao terminal para fazer a integração. Elas podem pegar os ônibus em qualquer local da cidade, dentro do espaço de tempo de uma hora, pagando apenas uma passagem”, explicou.

Cobrança diferenciada

Segundo Marco Franco, as empresas, assim como a administração municipal, não querem receber R$ 3,30 e sim R$ 3,10. Ele diz que o objetivo da cobrança diferenciada, prevista no edital, é para contribuir para que sistema não tenha dinheiro dentro do veículo, que é um problema, devido a segurança pública.

“O dinheiro no ônibus é um atrativo para assaltos. Além disso, o pagamento a vista exige um profissional para fazer o recebimento, por isso que o pagamento em dinheiro é mais caro. O sistema eletrônico não tem esse custo. Com a diminuição dos custos e um aumento da demanda de passageiros, quem sabe daqui a alguns meses, a tarifa não pode ser reduzida?”, disse.

Marco Franco destacou ainda que o prazo para o início da cobrança de R$ R$ 3,30, para quem pagar em dinheiro, foi prorrogado. “Seria dia 10 de março e foi prorrogado para 11 de abril, para que todos tenham a oportunidade de fazer o cartão eletrônico. Já temos 50 mil cartões emitidos”, destacou.

Demissão de cobradores

Com a implantação da tecnologia, a demissão é um ponto que preocupa os cobradores. Sobre isso, Marco Franco disse que é um compromisso das empresas e está previsto no próprio edital, o aproveitamento da mão de obra. Ele afirmou que não existe previsão de demitir os cobradores, mas admitiu que as empresas querem, ao longo do tempo, reduzir custos tirando funcionários onde não houver necessidade.

“É bom que os cobradores procurem as oportunidades de qualificação e crescimento profissional dentro da empresa. Então não cabe o termo demissão no nosso projeto. Demissão pode acontecer para qualquer funcionário. Ele tem que ser competente para se manter nas suas funções. Nossa ideia é usar as tecnologias disponíveis, mas sabemos que para algumas linhas a presença do cobrador é fundamental”, afirmou.

Clandestinos, alternativos e moeda própria

Marco franco defendeu que as empresas e o município devem buscar alternativas de como suprir os serviços paralelos (clandestinos e alternativos. Segundo ele, esses serviços concorrem com o sistema de ônibus. O diretor considera que o transporte alternativo é ilegal, pois, segundo explicou, a constituição prevê que os serviços públicos sejam concedidos através de licitação.

“Não houve esse processo legal. A prefeitura deve fazer um estudo para saber se existe a necessidade desse transporte. Se houver, deve fazer uma licitação”, afirmou.

Sobre uma moeda própria proposta pelo presidente da Coopetrafs, José Vicente, o diretor da São João disse deve ser objeto de questionamentos jurídicos. “Eles podem ser acionados e inclusive responsabilizados judicialmente, pois esse ato é totalmente fora da lei”, pontuou.

Em resposta, José Vicente afirmou que Marco Franco está equivocado, pois houve licitação para o transporte alternativo. “Estávamos legalmente no sistema rodando. Quando foi criado o Sistema Integrado de Ônibus (SIT) nós fomos prestar o serviço a esse sistema. Quando as empresas anteriores saíram e abandonaram a cidade, elas nos deixaram a ver navios, sem nos pagar. O poder municipal nos concedeu que continuássemos rodando nas nossas linhas até resolver o problema. As empresas novas chegaram e não nos assumiu”, disse.

“Nós não somos ilegais e nem clandestinos. Rodamos em Feira há mais de 20 anos. Nada foi feito de graça, foi caro e nós pagamos. Não queremos problemas com as empresas de ônibus. Feira é uma cidade grande, que aceita todos os transportes”, ponderou.

*A entrevista foi exibida no dia 03 de março de 2015 durante o programa Acorda Cidade na rádio Sociade de Feira AM 970
 

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