Mãe pede à polícia para prender o próprio filho

O jovem é usuário de droga e além de vender tudo que encontra em casa, ameaça a aposentada de morte.

A aposentada Josefa de Jesus Nascimento, 49anos, moradora do bairro Campo Limpo, teve uma atitude extrema: ela pediu à polícia a prisão do próprio filho José Carlos de Jesus Vitória, viciado em drogas, por não suportar mais conviver com a situação. Josefa compareceu à delegacia e expôs seu sofrimento em entrevista ao repórter Aldo Matos, do Acorda Cidade.

“Ele está usando droga pesada, me ameaçando de morte e levando tudo de valor que eu tenho em casa”, disse Josefa, desesperada. Ela tem esperança que a polícia consiga tirar o filho do mundo das drogas. “Ele preso poderá refletir o que está fazendo, roubando a própria mãe”, afirmou, lembrando que ele usa drogas há pelo dois ou três anos, mas que não sabe ao certo.

Josefa, que foi abandonada pelo companheiro por causa dos problemas com José Carlos, contou ainda que ele abandonou o emprego e a partir daí passou a roubar os objetos de casa. Ela admitiu que perdeu o controle da situação e que já chegou a ser hospitalizada várias vezes por conta dos desentendimentos com o filho. “Eu não aguento mais”, desabafou a aposentada.

“Estamos perdendo para as drogas”, diz psiquiatra

Foto: Andréa Trindade/Acorda Cidade

 

“Somos perdedores porque certamente as estratégias que estamos utilizando não estão surtindo efeito”. A afirmação é do psiquiatra João Carlos Cavalcante, ex-secretário municipal de Educação, ao avaliar que a sociedade perdeu o controle sobre o uso de drogas.  A questão foi debatida na Conferência de Saúde Mental, realizada na semana passada.

Em entrevista à repórter Thaine Rodrigues, o psiquiatra disse que o aumento do uso de drogas é um indicativo inquestionável de que os métodos de controle e prevenção precisam ser revistos. Segundo João Carlos, a cada tempo que os dados são atualizados é constatado o aumento do volume de atendimento a usuários, o que obviamente remete ao aumento do consumo de drogas.

Ele analisa que está sendo ampliada a quantidade de profissionais que trabalham na área, existem unidades específicas para atendimento, as famílias estão passando por grande sofrimento e mesmo assim está aumentando a incidência do uso de drogas. “Isso cala a todos nós”, observou João Carlos, reafirmando a necessidade de reavaliar as ações institucionais.

O psiquiatra destacou a criação da Secretaria de Prevenção da Violência e Defesa dos Direitos Humanos como um aspecto positivo nessa cruzada contra as drogas e, consequentemente, a violência. Mas frisou que só isso não basta. “É  preciso acabar com o paradigma de que quem usa droga é o delinqüente, é o menos favorecido sócio economicamente, o afro-descendente, ou quem mora na favela”, defendeu.

Sobre a resistência dos pais em perceber ou admitir que os filhos estão usando drogas, na avaliação do psiquiatra João Carlos Cavalcante, se deve a uma questão puramente afetiva. “Nenhum de nós quer ver o defeito, o erro de quem gostamos. É um mecanismo de defesa”, analisou, destacando que o assunto envolve a família e a sociedade como um todo. 

Madalena de Jesus

Ouça a entrevista com dona Joseja falando sobre o filho no PodCast

Ouça também: Pais são os últimos a reconhecerem que os filhos usam drogas

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