Entrevista

Médico dá dicas de cuidados com o coração durante os jogos da Copa

Confira o que diz Edval Gomes, presidente da Sociedade de Cardiologia de Feira de Santana

Orisa Gomes

Estudo feito na Copa do Mundo de 2002, na suíça, constatou aumento de 63% na incidência de morte súbita cardiovascular. Também na Copa da Alemanha, em 2006, o número de casos de emergências cardíacas cresceu mais de duas vezes, segundo dados da sociedade de cardiologia do Rio de Janeiro. Em entrevista no programa Acorda Cidade, o presidente da Sociedade de Cardiologia de Feira de Santana, Edval Gomes, falou sobre o assunto e deu dicas de cuidados com o coração, especialmente durante os jogos da Copa 2014, que começa nesta quinta-feira (12). Confira:

Acorda Cidade – Quais os cuidados devemos ter com o coração a partir de hoje?

Edval Gomes – Sentimentos como ansiedade e hostilidade estão muito presentes nas torcidas de futebol e isso aumenta os riscos da doença cardiovascular, porque existe uma série de hormônios em nosso corpo que faz o coração acelerar um pouquinho e a pressão subir. Então é possível que aumente um pouco o risco, principalmente para as que tem doenças do coração. Não queremos assustar ninguém, pelo contrário, queremos tranquilizar o brasileiro que tem paixão pelo futebol, que está mobilizado para assistir a Copa e torcer pelo nosso país. Sem dúvida nenhuma, vamos ser campeões.

AC – Que tipo de doença, por exemplo?

EG – Os que são cardiopatas ou que já fizeram angioplastia, cirurgias do coração, que são pessoas com risco um pouco maior. Não quero dizer com isso que não possam assistir ao jogo, pelo contrário, quero chamar a atenção dessas pessoas para fazerem a prevenção cardiovascular, avaliar se a pressão está adequada, o colesterol bem tratado, o açúcar controlado…

AC – O que provoca a morte súbita cardiovascular?

EG – De um modo geral, é decorrente de arritmias graves no coração. Mas, não necessariamente um atleta ou qualquer pessoa que tenha doença do coração vai ter morte súbita. Ninguém precisa se assustar, mas fazer a avaliação regular e controlar os fatores de risco para ter uma vida saudável e poder torcer durantes os jogos sem susto.

AC – O órgão que mais sofre nesse período é o coração?

EG – Sem dúvida. Dizem que o coração vai parar na boca, fica na mão. Esperamos que essa Copa venha tranquila e que não nos traga emoções ruins, só boas.

AC – Quais cuidados as pessoas devem ter durantes os jogos?

EG – É difícil dizer para a pessoa ficar calma. Então, o que aconselho é não cometer excesso. Para quem faz dieta, seguir com ela normalmente e não “colocar o pé na jaca” agora. Quem vem tomando cuidado, evitando bebidas alcoólicas, não é hora de acabar com aquele engradado de cerveja. O cuidado que já existe deve ser mantido também nesse momento.

AC – Um caso que a gente observa em atletas de futebol: Ele faz todos os exames cardiovasculares e está tudo perfeito, de repente morre no campo. Por que isso acontece?

EG – Nem tudo a medicina é capaz de detectar. O que tentamos fazer é saber se o que somos capazes de identificar está presente ou não, mas sempre haverá doenças ou outras alterações que não identificamos. Existem alterações genéticas, no músculo do coração, uso de drogas e existem outras que nem conhecemos. A medicina caminha e vai aprendendo durante a caminhada.

AC – Quais são os sintomas do infarto?

EG – O mais comum é a dor no peito, mas é uma doença que precisamos ter muito cuidado, porque pode aparecer de outras formas. Então, qualquer desconforto diferente no tórax é bom ir a uma emergência, fazer alguns exames para ter segurança, porque, as vezes, a doença não vem de forma clara.

AC – Qual é o tempo que as pessoas têm para chegar à emergência?

EG – O mais rápido possível. Dizem que tempo é coração, então, sentiu desconforto, vai à emergência.

AC – É verdade que os sintomas do infarto podem ser confundidos, por exemplo, com o da azia?

EG – Sem dúvida. Existe parte de outras doenças que se confunde com o infarto e esse é o problema. A pessoa não quer pensar que é o pior, mas, mesmo assim, não custa nada demais ir à emergência e sair tranquila.

AC – Quais são as principais queixas das pessoas?

EG – São muito vastas. Entre os principais problemas estão o colesterol elevado, sobrepeso e hipertensão arterial. São consequências de uma vida com muito estresse e alimentação inadequada. Há também palpitações, dor torácica e dor de cabeça; os sintomas são vários.

AC – Qual é a pressão normal?

EG – Em consultório é abaixo de 14/9.

AC – Um paciente diagnosticado com infarto que sobreviveu deve mudar o estilo de vida?

EG – Sem dúvida alguma. Essa é das coisas mais difíceis. O comprimido a gente fala ‘tome uma vez ao dia’ e se o paciente tiver um pouco de juízo, vai atender a recomendação, não há dificuldade nisso. Já mudar o estilo de vida não é fácil. Então, quem sofreu um infarto, fez intervenção no coração, tenha amor a sua família a si próprio e se cuide. Tente fazer exercício por recomendação médica, procure um nutricionista para a mudança alimentar e tente se cuidar mais.

AC – No período do jogo a pessoa pode dobrar a dosagem do remédio do coração?

EG – A medicação não deve ser mudada nem para mais nem para menos por conta própria.

AC – Qual a diferença entre derrame e infarto?

EG – O infarto é um nome genérico. Temos infarto na cabeça, na perna, no intestino. O infarto é a interrupção da passagem de sangue para determinada área do corpo. Infarto no cérebro é o derrame e no coração é infarto do miocárdio.

AC – Qual a causa da pressão alta e da baixa?

EG – Não tem causa específica. Se a pressão alta não for tratada pode causar alterações renais, na visão, no coração e circulação. Onde tem uma artéria ela pode trazer algum prejuízo. Quanto a baixa, na maioria das vezes não há problema algum, mas quando há sintomas o médico deve ser procurado.

AC – Emoção e preocupação aumenta isquemia?

EG – A emoção e preocupação podem, sim, refletir no coração.

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