Audiência Pública

Mais de 500 mulheres já foram agredidas este ano em Feira de Santana

O alto índice reflete, segundo a delegada Clécia Vasconcelos, não apenas o crescimento da violência, mas também a disposição das vítimas a prestar queixa

Orisa Gomes

Até 11 de março de 2014, a Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (Deam) de Feira de Santana registrou 503 queixas. Em 2013, foram 2.876 denúncias. Titular da unidade policial, a delegada Clécia Vasconcelos apresentou esses dados alarmantes durante audiência pública na Câmara Municipal. Com o objetivo de debater a violência contra a mulher, o evento foi realizado nesta quinta-feira (20), pela Comissão de Meio Ambiente, Direitos Humanos e Defesa do Consumidor, presidida pelo vereador Marcos Lima.

A delegada acredita que até dezembro de 2014 o número de denúncias na Deam vai superar o registrado em 2013. Este alto índice reflete, segundo Clécia Vasconcelos, não apenas o crescimento da violência contra a mulher, mais também a disposição das vítimas em prestar queixa. “A gente não pode dizer que a violência está aumentando exacerbadamente. É fato que a violência está aumentando, mas as mulheres também estão sendo mais incentivadas a denunciar” frisa.

Conforme a delegada, este já é um passo importante para reduzir os casos de violência doméstica, que são, principalmente, ameaças e lesões corporais. Além disso, ela afirma que é necessário um trabalho conjunto entre o Poder Judiciário, Defensoria Pública, Centro de Referência da Mulher e representantes políticos. “Tudo isso tem que ser trabalhado para mudar essa cultura, esse entendimento de que a mulher é menos, de que a violência contra a mulher é algo desejado”, destacou.

Apelo

Em um depoimento comovente, a dona de Casa Marlene Guimarães aproveitou a presença do promotor de Justiça, Cláudio Genner, na audiência, para pedir a prisão do assassino da sua filha. “Iara foi agredida, violentada e morta ano passado. E eu quero que o senhor, em nome de toda a família brasileira e sociedade feirense, consiga prender esse homem e levá-lo a julgamento. Não é justo minha filha ter a vida ceifada aos 17 anos por um agressor que está solto e disposto a fazer com outras mulheres o que fez com ela”, apelou.

Mesmo não sendo da área de júri, que responde pelos casos de assassinato, o promotor se dispôs a ajudar a dona de casa. Genner também reforçou propostas feitas durante a audiência pelas autoridades presentes. Entre elas estão o estruturação da Casa Abrigo, criação da “Patrulha Maria da Penha” e disponibilidade do botão do pânico contra a violência doméstica. “O maior número de inquéritos em Feira de Santana é violência contra a mulher”, alertou.

Crítica

Coordenadora do Núcleo de Estudos das Mulheres e Relações de Gênero da Universidade Estadual de Feira de Santana, Sônia Lima cobrou das vereadoras representatividade do gênero. “Conheço cada uma de vocês e sei que são todas mulheres muito guerreiras da sua vida pessoal, mas na vida política nessa Casa nunca nos representaram”, criticou.

Entre as demais autoridades que participaram do evento estavam, além de vereadores, a juíza da Vara de Violência Doméstica de Feira de Santana, Julianne Nogueira; a pedagoga especialista em Políticas de Gênero e Raça, Ideojane Melo; a presidente do Coletivo de Mulheres de Feira de Santana, Ana Rita da Costa; e a coordenadora do Centro de Referência à Mulher Maria Quitéria, Maria Luiza da Silva.

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