Feira de Santana

Comissão Estadual da Verdade pode convocar acusados de tortura para depor

A comissão tem um prazo de dois anos para apurar os fatos, os documentos e depoimentos que forem recebidos durante os trabalhos vão ser encaminhados para a Comissão Nacional da Verdade.

Laiane Cruz e Ney Silva

A Comissão Estadual da Verdade, instituição criada pelo Governo da Bahia com o objetivo de apurar as perseguições, os crimes e demais acontecimentos ocorridos no período da Ditadura Militar, entre 1964 até o início da década de 80, anunciou a instalação de uma subcomissão em Feira de Santana para apoiar os trabalhos que serão desenvolvidos na cidade.

Na manhã desta quinta-feira (24), os integrantes da comissão, que é presidida pelo professor Joviniano Neto, estiveram na cidade para conceder uma entrevista coletiva. A reunião ocorreu na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB- Feira).

Estiveram presentes pessoas que afirmam terem sido vítimas do regime militar. Entre elas estavam o advogado Celso Pereira, o professor e atual vice-prefeito Luciano Ribeiro, o ex-vereador Hosanah Leite, o comerciante Sinval Galeão, que é coordenador da subcomissão, entre outros.

O presidente da Comissão Estadual da Verdade, Joviniano Neto, informou que a instituição tem por objetivo apurar os fatos relacionados ao período da Ditadura Militar na Bahia e também fora do estado. “Muitos baianos foram perseguidos, torturados e mortos fora do estado. O modo como a Bahia sofreu, enfrentou, e resistiu à ditadura faz parte do objetivo da comissão”.

Ele disse também que no dia 31 de outubro, no Colégio Modelo Luis Eduardo Magalhães, acontecerá a primeira Audiência Pública para colher depoimentos das vítimas da ditadura. Joviniano acredita que as pessoas que serão acusadas de tortura vão ser apontadas no processo e poderão ser convocadas para depor.

O economista Hosanah Leite acredita que o trabalho da Comissão da Verdade é histórico e vai buscar apurar a verdade sobre os acontecimentos que ocorreram em Feira de Santana durante o período da Ditadura Militar. “Durante muitos anos, mesmo depois da redemocratização, ainda aconteceram eventos relacionados à repressão. Agora é necessário, a partir da Comissão da Verdade, que a história registre o que realmente ocorreu”, afirmou.

Ainda de acordo com Hosanah Leite, o Estado fazia o papel de perseguidor e sempre estava acima do cidadão, buscando seus interesses. “Agora é hora de sabermos o papel dos perseguidores e delatores, através dos sobreviventes, e eu sou um deles”, disse.

O advogado Celso Pereira, que faz parte da Subcomissão da Verdade, explicou que com a vinda da comissão existem dois objetivos principais: o primeiro é resgatar a verdade, ouvindo pessoas e levantando documentos, durante o período de 74 até o início da década de 80. O segundo é resgatar a importância de Feira de Santana, com sua gente, para consolidação da democracia.

O professor Luciano Ribeiro, que também foi perseguido durante a Ditadura Militar destacou que o trabalho da comissão é de grande importância, porque Feira de Santana esteve presente na resistência contra a ditadura. “Aquele período foi muito difícil porque não tínhamos liberdade para falar”, afirmou.

O professor Eurelino Coelho, que na subcomissão representa a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), disse que tem um compromisso com a verdade histórica e que as pessoas vão ter a oportunidade para contar o que sofreram, narrar os episódios de que foram vítimas, e que a verdade histórica possa surgir. Ele informou que a Uefs tem um laboratório de história, de memória da esquerda e das lutas sociais que já concluiu algumas pesquisas sobre as lutas políticas em Feira de Santana, inclusive as do período da Ditadura Militar.

A comissão tem um prazo de dois anos para apurar os fatos, os documentos e depoimentos que forem recebidos durante os trabalhos vão ser encaminhados para a Comissão Nacional da Verdade.

Fotos do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.
 

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