Inspiração

Diagnosticada com câncer de mama aos 28 anos, Fernanda valoriza a vida: "estar careca era só um detalhe"

O câncer, infelizmente, não tem idade. E é por isso que o autoexame e os exames de rotina são tão essenciais: eles podem salvar vidas.

Diagnosticada com câncer de mama aos 28 anos, Fernanda valoriza a vida: "estar careca era só um detalhe"
Foto: Arquivo Pessoal

Mesmo que a gente tente se preparar para os desafios da vida, nada nos prepara para ouvir a palavra câncer ou câncer de mama. E quando ela chega cedo demais, em uma fase onde os sonhos ainda estão se desenhando e o futuro parece tão promissor, o impacto é ainda maior.

O Dia Mundial de Combate ao Câncer é comemorado em 8 de abril, uma data criada pela União Internacional de Controle do Câncer (UICC).

Foi assim com Fernanda Mendes Pimenta, atualmente com 30 anos, uma mulher cheia de vida, empreendedora no ramo de móveis de vime, que aos 28 anos recebeu o diagnóstico de câncer de mama, após perceber um caroço na mama esquerda.

“Fui à ginecologista fazer exames de rotina e fiz a ultrassom, que já alertou para a BI-RADS 4, uma classificação que indica alterações suspeitas. Fui encaminhada com urgência ao mastologista, e com ele descobrimos mais quatro focos de câncer na mesma mama, fizemos a biópsia e deu positivo para a neoplasia maligna, quando o resultado saiu online eu já estava em casa e como eu já desconfiava do diagnóstico, não fiquei surpresa, não chorei nem me desesperei, porque eu sabia que iria ficar tudo bem, mas minha família ficou bastante abalada e preocupada. Foi algo inesperado, já que eu não estava sentindo nenhum sintoma e por eu também não ter nenhum caso na família”, contou.

No entanto, o tempo mostrou que o câncer não estava tão distante assim da família, pouco depois um tio de Fernanda foi diagnosticado com leucemia e uma tia com câncer de mama. “Agora somos três pacientes oncológicos em tratamento na família.”

Fernanda sempre cuidou da saúde, realizando exames preventivos com frequência, no entanto com a pandemia acabou deixando de lado exames de rotina.

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Foto: Arquivo Pessoal | Fernanda com os pais

“Meu último tinha sido em 2019, e estava tudo bem. Em 2023, recebi o diagnóstico. Durante a investigação, todos os meus médicos estavam confiantes que seria benigno, por conta da minha idade, eu tinha apenas 28 anos, mas o resultado infelizmente veio outro”, lembrou.

A quimioterapia e o desafio do corpo

A fase mais difícil do tratamento, para Fernanda, foi a quimioterapia.

“Porque eu não conseguia me alimentar direito e acabava ficando bem fraca. Como as minhas quimioterapias eram a cada 21 dias, eu ficava cerca de 7 dias de cama. Tive o acesso a um medicamento chamado Filgrastim. Minha mãe conseguiu encontrar com uma amiga que mora em Brasília, porque nós não encontramos aqui na Bahia para comprar. É um medicamento que estimula a produção de células brancas do sangue ajudando a prevenir infecções, já que nossa imunidade acaba baixando durante o tratamento. Esse medicamento também tinha efeitos colaterais, pois como ele age na medula, eu sentia dores nos ossos e articulações”, relatou.

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Foto: Arquivo Pessoal | Fernanda com o esposo

Perda de cabelo versus inspiração

Ao Acorda Cidade, Fernanda disse que a perda de cabelo não foi o seu maior desafio, como havia pensado no início.

“Eu sempre fui extremamente vaidosa, sempre gostei de cuidar do meu cabelo e me maquiar, inclusive já fiz vários cursos de maquiagem e achei que seria algo que iria me incomodar bastante. Eu tinha um cabelo grande, cortei ele bem curtinho para fazer uma peruca com meu próprio cabelo, mas foi o que eu menos me importei e eu estava tão focada no tratamento que ficar careca foi o menor dos desafios. Às vezes a gente dá importância a coisas tão pequenas e eu pude perceber e aprender com isso. O mais importante era a minha vida, que estar careca era só um detalhe”, disse.

A empreendedora relatou que nem chegou a usar peruca, preferiu não usar nada, e assim ajudar outras mulheres.

“Com o tempo você se acostuma e eu também nem quis usar peruca, nem lenço, pra ficar sem nada mesmo e servir de exemplo para outras mulheres que estavam em tratamento, que elas não precisavam ter vergonha, pois elas continuavam lindas, né? Porque eu estava me sentindo assim. E muitas mulheres sem tratamento vinham conversar comigo e dizer que eu inspirava elas a se aceitarem”, frisou.

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Foto: Arquivo Pessoal

Tratamento do câncer de mama

O tratamento de Fernanda continua, já que a duração depende de vários fatores.

“Só recebo alta daqui a uns 4 anos, mas primeiro eu iniciei com uma pequena cirurgia para colocar o port-a-cath, que é um cateter totalmente implantado sobre a pele, que permite o acesso as veias. Ele é usado para administrar a quimioterapia. A quimioterapia pode ser feita intravenosa. Eu optei pelo port-a-cath porque durante a quimioterapia, na maioria das vezes, os pacientes têm dificuldade em pulsionar. Após colocar o cateter, eu iniciei as quimioterapias. A duração do tratamento depende de vários fatores, como o tipo de câncer. Para o meu subtipo foi preciso fazer 6 sessões mais espaçadas, pois elas eram mais pesadas e precisava de um intervalo maior para o corpo se recuperar”, explicou.

Após a quimioterapia, Fernanda passou pela adenomastectomia com reconstrução mamária imediata.

“Após 30 dias de finalizar a quimioterapia, eu fiz a cirurgia, fiz a adenomastectomia, que é uma cirurgia que remove a glândula mamária, mas deixa a pele, o mamilo e a aréola. Na minha cirurgia eu já consegui fazer a reconstrução imediata com prótese, inclusive meu mastologista que fez tudo, Dr. Flávio Amorim, um excelente médico, foi super atencioso comigo nesse momento tão delicado”.

Seguiram-se sessões de radioterapia diárias e a aplicação do Trastuzumabe, um anticorpo que impede o avanço das células cancerígenas. Hoje, ela segue com acompanhamento e uso de medicação oral.

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Foto: Arquivo Pessoal

“Após a cirurgia, iniciei a radioterapia, eu precisava fazer todos os dias, foi bem tranquilo, não tive muitos efeitos colaterais, mas precisava ter alguns cuidados, como a hidratação da pele várias vezes ao dia e não podia passar desodorante durante todo o ciclo. Depois que acabei a radioterapia, continuei tomando o Trastuzumabe pelo port-a-cath durante mais alguns meses. O Trastuzumabe um anticorpo que atua como um freio para impedir o crescimento e a propagação das células cancerígenas o HER-2 positivo. Agora eu estou tomando somente medicação oral e fazendo o acompanhamento a cada três meses”, acrescentou.

Mudanças na alimentação

Mudanças na alimentação foram importantes para respeitar o tratamento.

“Durante o tratamento, eu precisei suspender o consumo de embutidos, como salsicha, salame, presunto, calabresa. Evitei o consumo de refrigerantes, frituras, tempero pronto e excesso de açúcar. Precisei também suspender o consumo de peixe cru. Eu amo sushi e temaki, então eu não pude comer, porque é um grande risco de contaminação por bactérias e como nosso sistema imunológico está baixo, nosso organismo não consegue se defender de ameaças. Mas assim que eu finalizei minha última quimioterapia aguardei os 21 dias que meu oncologista pediu, e depois a primeira coisa que eu fiz foi comer um temaki”, contou feliz.

Atualmente, Fernanda mantém uma rotina saudável com mais frutas, verduras e exercícios físicos regulares.

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Foto: Arquivo Pessoal

Importância da família durante tratamento

Ao longo de toda a jornada, Fernanda teve um apoio essencial da sua família.

“Eles foram meu porto seguro. Meu esposo Bruno, minha mãe Kátia, meu pai Valbert, minha madrasta Josana, meu padrasto Delmar, meus irmãos… Me mimaram muito. Como eu não podia consumir açúcar, eles preparavam doces saudáveis, que nem pareciam ser! Me traziam flores, cartas, cuidavam de tudo. Fui muito amada. Isso fez toda a diferença.”

E não foi só o carinho que a fortaleceu, mas também a fé. Fernanda é membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Último Dias.

Diagnosticada com câncer de mama aos 28 anos, Fernanda valoriza a vida: "estar careca era só um detalhe"
Foto: Arquivo Pessoal | Fernanda com o esposo

“Sou cristã, faço parte de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Antes de receber o diagnóstico, tive uma revelação pessoal no Templo, local sagrado para nós. Eu tinha certeza que tudo iria ficar bem. Minha fé se fortaleceu muito com o câncer. E meus médicos sempre me diziam isso, que a cura começa pelo psicológico. Então eu tinha certeza que tudo iria ocorrer bem, então eu não me desesperei em nenhum momento. Eu senti a mão do Senhor em todos os momentos do meu tratamento. Era nítido que Ele sabia das minhas aflições e que estava me dando todo o suporte que eu precisava. Eu vivenciei muitos milagres, eu tive muitas experiências espirituais e minha fé se fortaleceu muito depois do câncer “, alertou.

Um toque que salvou

A descoberta do câncer foi possível graças a um toque, feito por seu marido, que notou algo diferente na mama.

“Não deixem de realizar os exames preventivos anualmente. Quanto mais cedo você descobrir, maior a chance de cura. Achamos que o câncer tem idade, mas ele não tem, viu? Eu fui diagnosticada aos 28 anos. Minha vida foi salva por um toque que meu esposo fez e sentiu e eu pude descobrir a tempo. Mulheres, façam o autoexame das mamas. Com um simples toque, vocês podem salvar a própria vida. A minha foi salva assim.”

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