Uma reflexão sobre a luta histórica por direitos e oportunidades no Mês da Mulher

Uma reflexão sobre a luta histórica por direitos e oportunidades no Mês da Mulher
Foto: Advogada Tâmara Andreucci | Foto: Arquivo Pessoal

Para algumas pessoas, o Mês da Mulher vem carregado com a simbologia das flores e tem sua apoteose nas diversas homenagens que circulam nas redes sociais e demais espaços de alcance social. Entretanto, cabe à reflexão que, para além de todos esses feitos, é um momento, sobretudo, de reflexão sobre a luta histórica das mulheres por direitos e oportunidades – uma luta que se estende por gerações e que, embora tenha avançado, ainda enfrenta muitos desafios.

A celebração do Mês da Mulher remonta ao início do século XX, em um contexto de crescente industrialização e urbanização. Em 1908, um grupo de mulheres operárias de Nova Iorque marchou pelas ruas exigindo melhores condições de trabalho, direito ao voto e igualdade salarial. Essa mobilização foi um marco importante que inspirou outras manifestações ao redor do mundo.

Em 1910, durante a Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em Copenhague, Clara Zetkin propôs a criação de um dia internacional para celebrar as conquistas femininas e promover a luta por direitos iguais. A primeira celebração oficial ocorreu em 19 de março de 1911 na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. No entanto, foi somente em 1977 que as Nações Unidas reconheceram oficialmente o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher.

A luta das mulheres por igualdade se manifesta em diversas frentes: direitos trabalhistas, educação, saúde, representação política e combate à violência de gênero. Ao longo dos anos, essas batalhas geraram conquistas significativas:

Direito ao Voto – Um dos marcos mais importantes foi a conquista do direito ao voto. Países como a Nova Zelândia (1893) e Estados Unidos (1920) foram pioneiros nesse aspecto, mas muitos outros países apenas garantiram esse direito nas décadas seguintes. No Brasil, por exemplo, esse direito foi alcançado em 1932. É importante salientar que não foi um direito adquirido de maneira plena, ou seja, não foi inicialmente estendido a todas as mulheres.

Educação – O acesso à educação tornou-se uma prioridade nas últimas décadas. Hoje, mais meninas frequentam escolas e universidades do que nunca antes na história.

Representação Política – Embora ainda haja um longo caminho a percorrer, o aumento da representação feminina em cargos políticos é uma conquista notável. Mulheres como Dilma Rousseff, no Brasil, Ângela Merkel, na Alemanha e Jacinda Ardern, na Nova Zelândia tornaram-se líderes influentes em suas nações.

Direitos Trabalhistas – A luta por igualdade salarial e melhores condições de trabalho continua sendo uma questão central nas agendas feministas ao redor do mundo.

Combate à Violência – A conscientização sobre a violência contra as mulheres tem crescido, levando a movimentos como o “#MeToo”, que expôs abusos sistêmicos e reivindicou mudanças significativas nas normas sociais; à campanha “Sinal Vermelho”, criada pelo CNJ – Conselho Nacional de Justiça – e pela AMB – Associação dos Magistrados Brasileiros –; bem como à campanha da TV Bahia “Sou mulher, quero respeito” e a outras tantas ações espalhadas pelo Brasil.

Apesar das conquistas alcançadas, muitas desigualdades ainda persistem. As mulheres continuam enfrentando discriminação no ambiente de trabalho, violência doméstica e sexual, desigualdade salarial e falta de acesso a serviços básicos em várias partes do mundo.

Por outro lado, nas últimas décadas, um novo olhar emerge sobre as questões relativas às lutas das mulheres. Esse novo que desponta, vem carregado de uma reflexão que tem, em seu bojo, os diversos atravessamentos que não podem deixar de ser considerados. Dessa forma, ao falarmos da luta das mulheres, não podemos perder de vista a questão da interseccionalidade, na qual elementos de raça, gênero e classe devem ser necessariamente observados. Esse exercício nos aponta para uma pluralidade de condições, possibilidades, dores e, inevitavelmente, de batalhas. Portanto, faz-se necessário pensar na diversidade e não em uma luta que se apresente homogênea, como se trouxesse, em cada corpo, a mesma dor e as mesmas formas de violência.

Além disso, crises sociais e políticas têm exacerbado essas questões. Durante a pandemia de Covid-19, muitas mulheres foram desproporcionalmente afetadas por demissões e sobrecarga de trabalho doméstico não remunerado.

O Mês da Mulher deve servir como um lembrete da importância da solidariedade entre as mulheres e aliados na luta por igualdade. É fundamental continuar promovendo políticas públicas que garantam os direitos das mulheres e incentivem sua participação ativa em todos os setores da sociedade.

A educação desempenha um papel crucial nessa transformação. Ao empoderar meninas desde cedo, com conhecimento e habilidades, podemos vislumbrar, assim, um futuro mais igualitário.

Março é um mês para celebrar as conquistas das mulheres ao longo da história, mas também para reconhecer os desafios que ainda permanecem. Que esse tempo inspire todos nós a continuar lutando por um mundo onde todas as mulheres tenham direitos iguais e oportunidades justas para prosperar. Juntas, somos mais fortes!

Tâmara Andreucci, Advogada, Historiadora, Especialista em Direitos Humanos e Contemporaneidade, professora do curso de Direito da Estácio em Feira de Santana

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