A Síndrome de Diógenes e o Transtorno de Acumulação são condições que normalmente estão associadas a um comportamento compulsivo ligado à acumulação de objetos. Entretanto, existem diferenças importantes entre eles, tanto em suas causas quanto em suas manifestações.
Enquanto o Transtorno de Acumulação está mais relacionado a uma dificuldade em descartar itens, a Síndrome de Diógenes é caracterizada pelo colecionismo de coisas sem valor, desorganização, falta de higiene e isolamento social.
Em Feira de Santana, vários casos já foram identificados. Você já imaginou o que pode levar alguém a acumular objetos ao ponto de comprometer sua qualidade de vida? Para entender melhor essas questões, o Acorda Cidade conversou com a psicóloga e psicanalista Priscila Lima.
Entendendo o comportamento
De acordo com Priscila, essas condições podem estar relacionadas a diversos fatores, incluindo uma combinação de aspectos emocionais e ambientais.
“O principal fator que deve ser observado no indivíduo são os sinais comportamentais, como o retraimento social, depressão, desorganização no ambiente doméstico, guardar coisas sem valor e não permitir que sejam jogadas fora, ficando bem irritado ou até agressivo. Cada caso deve ser avaliado individualmente, pois os motivos que levam ao acúmulo podem variar muito”, pontou.
Causas
O perfil mais comum entre os acumuladores são pessoas que já possuem alguma comorbidade psiquiátrica, como esquizofrenia, ou idosos. Pode haver também influência genética, mas os fatores ambientais tendem a ser mais influentes.
“Traumas significativos, perdas importantes e situações que causem angústia para o sujeito e ele não consegue simbolizar podem desencadear esse comportamento. A pessoa com esse transtorno tem uma forte necessidade de manter esses objetos, para o acumulador os objetos possuem um valor emocional ou simbólico. Esses objetos são vistos como essencialmente importantes ou insubstituíveis, existe também o medo de precisar de determinado item no futuro, impedindo que seja descartado”, observou a profissional em entrevista ao Acorda Cidade.
Impacto na família
A família é diretamente afetada nesses casos. O ambiente se torna tenso, gerando sensação de vergonha, desconforto e frustração.
“Quem apresenta esse tipo de comportamento não aceita ajuda, se nega a mudar seus hábitos. Além de afetar a saúde física e mental. Para alguns familiares a convivência torna-se insuportável”, sinalizou.
Tanto a síndrome como o transtorno de acumulação comprometem a saúde física e mental da pessoa e de quem convive com ela, sendo muitas vezes indicado a inserção de uma intervenção medicamentosa.
“Em alguns casos a intervenção medicamentosa é indicada, mas a psicoterapia é fundamental para tratar as causas emocionais e psicológicas que geram angústia e desencadeiam o acúmulo compulsivo. Buscar ajuda é essencial, mas o desafio está na alta resistência que essas pessoas têm em reconhecer o problema entendendo que precisam de ajuda e segundo em aceitar e aderir o tratamento”, reforçou a psicóloga ao Acorda Cidade.
Casos em Feira de Santana
Em Feira de Santana, há diversos casos de moradores que apresentam Transtorno de Acumulação e Síndrome de Diógenes, segundo informou o secretário Justiniano França da Secretaria Municipal Serviços Públicos de Feira de Santana (Sesp).
Uma situação mais recente enviada por internautas do Acorda Cidade envolveu uma residência na Rua Dr. Sabino Silva, no bairro Ponto Central, em que um morador acumula muitos materiais dentro de casa, gerando um forte odor e atraindo também animais peçonhentos.
“Já temos vários casos aqui em Feira de Santana e temos atuado em alguns no que se refere à limpeza da casa. Mas é algo que tem que ser tratado, porque é uma síndrome, é um problema de saúde mental. Quando tem o apoio da família, nós conseguimos fazer a limpeza da casa com muita rapidez. Para se ter uma ideia, tivemos uma situação em que removemos 14 caçambas de resíduos acumulados por uma mulher que apresentava esse transtorno”, relatou.
O secretário também pontuou que a assistência social visita esses locais para tentar localizar familiares e garantir apoio. “Somente podemos entrar na residência para realizar a limpeza com a permissão do acumulador ou da família. Estamos acompanhando os casos e buscando uma solução,” frisou.
Muitas vezes indivíduos que possuem o Transtorno de Acumulação e a Síndrome de Diógenes não reconhecem que precisam de ajuda, tornando necessária a atuação de familiares, e a união de profissionais de saúde mental e do poder público para ajudar dando o suporte adequado não só ao acumulador, mas também devolvendo a qualidade de vida para os familiares que convivem com esse desafio.
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos canais no WhatsApp e Youtube e grupo de Telegram.