Neste domingo (16), o Galpão Cultural Tambores Urbanos, no bairro Brasília, em Feira de Santana, abriu suas portas para um evento que é, ao mesmo tempo, arte, memória e resistência: a exibição do curta-metragem “A Bata do Feijão”, idealizado por Rafaela Augusto. O documentário lança luz sobre uma manifestação cultural enraizada no distrito da Matinha, resgatando a musicalidade e os movimentos que marcam essa tradição popular.
A jornalista Mary Falcão, uma das responsáveis pelo projeto, explicou ao Acorda Cidade a escolha do espaço. “A Bata do Feijão acontece há muitos anos na Matinha, mas não tinham feito esses registros antes. Sempre as reportagens vinham com o distrito de Jaguara, de Morrinhos, então nós decidimos escolher a Matinha como palco.”
O curta-metragem é fruto de uma pesquisa aprofundada e de um processo criativo que buscou valorizar a cultura negra da cidade. “A bata do feijão é regada de samba, principalmente no final. Se repararmos, em todo momento tem esse trabalho rítmico e dançante nos movimentos, tanto dos homens quanto das mulheres, que beatam e batem o feijão”, disse.
Mais do que uma exibição cinematográfica, o evento se transformou em um grande encontro cultural. Durante a programação, foram lançados dois blocos afros: um da Associação MoviAfro e outro do coletivo Tambores Urbanos. Segundo Mary, esse tipo de iniciativa fortalece a identidade afrodescendente e envolve as novas gerações.
“Essa contribuição é justamente de trazer esses jovens, como temos muitos hoje no coletivo Diego Nascimento, por exemplo, jovens de escolas públicas que vão participar do nosso lançamento e da micareta conosco. A arte, eu acho que é isso, contribui para a formação e o fomento desses jovens, da cultura, da arte”.
Durante a tarde, apresentações do grupo de dança Soprocos, do Studio Cleide Santos e do Coletivo Coreográfico Diego Nascimento trouxeram para o palco a força da expressão corporal e a conexão da dança com a ancestralidade. A banda afropercussiva AfroPop encerrou a programação com um show, reforçando o compromisso com o fomento à cultura afrodescendente.
A valorização da arte como ferramenta de transformação social também esteve presente nas oficinas de dança promovidas pelo projeto. Segundo Mary, as oficinas foram justamente para ampliar esse conhecimento, tanto da Bata do Feijão quanto de outras modalidades de dança.
“Com as oficinas a gente imaginava que nós trazeríamos dessa forma mais pessoas para participar, como hoje da exibição. A gente vai contar com dois grupos coreográficos que participaram dessas oficinas. Então era sempre de aumentar essa visibilidade da Bata do Feijão para o público.”. As oficinas aconteceram em 2024 nas comunidades dos bairros Irmã Dulce, Tomba, distrito da Matinha e povoado de Alecrim Miúdo.
Para a jornalista, a realização do curta só foi possível graças ao financiamento da Lei Paulo Gustavo, um suporte essencial para projetos culturais como este. “Fazer cultura é difícil. Nós queremos, mas sabemos que é complicado e que necessitamos de dinheiro. A lei surge como a grande chance para o nosso projeto, não só para o nosso projeto, como eu acredito, para o de muitos o apoio financeiro tem que existir”.
Tambores Urbanos
O Galpão Cultural Tambores Urbanos, onde ocorreu a exibição, é um dos principais espaços de valorização da cultura afro em Feira de Santana. Vitória Phayffer, integrante do coletivo e filha de um dos fundadores, destacou a importância do projeto para fortalecer a identidade afrodescendente na cidade.
“Cada vez mais a gente está resgatando essa cultura que, principalmente entre os jovens, acaba sendo esquecida por não estar sempre na mídia, principalmente em Feira de Santana. Esse projeto já tem mais de 25 anos, e seguimos tentando fortalecer a identidade afrodescendente na cidade.”
De acordo com Phayffer, o projeto nasceu há 25 anos e leva para as comunidades da cidade cultura, educação, entretenimento de forma gratuita. Filha de Gilson Zulu, importante agente cultural e presidente do Tambores Urbanos, ela contou que desde pequena acompanha a luta antirracista.
“Hoje que a gente está promovendo é esse cinema cultural junto com a Bata do Feijão para que a sociedade venha e conheça sobre essas histórias que normalmente vêm de feira. A gente também tem o banco, né? Que a gente vai ter um micareta, a gente tem bloco. Então é um programa que a gente tem há muito tempo e a gente está cada vez mais tentando resgatar essa cultura aqui para Feira”.
O documentário A Bata do Feijão é mais do que um registro audiovisual. É um passo na preservação e disseminação da memória cultural de Feira de Santana. “Ele contribui de forma fantástica porque está riquíssimo. Quando a gente traz fontes como Guda da Quixabeira da Matinha e Dona Chica, temos acesso a vivências reais dentro da Bata do Feijão”, acrescentou Mary.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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