Crise Hídrica

Falta d’água atinge zona rural de Feira de Santana e aumenta procura por poços artesianos

A situação, além de atrapalhar a execução de tarefas domésticas básicas como cozinhar e tomar banho, pode impactar a atividade no campo.

moradores reclamam de falta de água no conjunto Viveiros (1)
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Os constantes períodos de falta de água têm se tornado motivo de preocupação para moradores da zona rural de Feira de Santana. A situação, além de atrapalhar a execução de tarefas domésticas básicas como cozinhar e tomar banho, pode impactar a atividade no campo, pois muitos desses moradores também são produtores rurais.

Se, por um lado, a escassez da chuva tem gerado prejuízo para moradores, agricultores e pecuaristas, por outro, o fenômeno está sendo responsável por aquecer o comércio de perfuração de poços artesianos. Muitas famílias estão vendo na atividade uma alternativa para driblar a seca.

Desafio no abastecimento

Em entrevista ao Acorda Cidade, o secretário municipal de Agricultura e Recursos Hídricos de Feira de Santana, Silvaney Araújo, declarou que tem conhecimento dos desafios enfrentados pela comunidade rural em relação ao desabastecimento de água e que, por este motivo, todos os integrantes da pasta estão tratando o caso com prioridade.

Silvaney Araújo, Secretário de Agricultura e Recursos Hídricos
Silvaney Araújo, Secretário de Agricultura e Recursos Hídricos | Foto: Paulo José / Acorda Cidade

O município fornece água para os moradores mediante solicitação. O recurso é transportado em um veículo, o popular caminhão-pipa. Araújo afirmou que a meta da secretaria é zerar todas as solicitações até o último dia de cada mês.

“Temos na secretaria um setor específico para solicitação de caminhão-pipa. A ideia é atender 100% da demanda no mesmo mês da solicitação. Graças a Deus, estamos conseguindo bater essa meta. Em janeiro, conseguimos atingir 250 viagens, em fevereiro foram quase 300 viagens e, agora, em março, estamos no mesmo pique, dando essa atenção especial para o homem e para a mulher do campo”, disse o secretário.

Segurança hídrica

Além de garantir o fornecimento de água, o secretário falou que a pasta está empenhada em desenvolver todo um sistema que garanta mais segurança hídrica para os moradores da zona rural. Entre os trabalhos que estão sendo planejados estão o aumento do número de cisternas, a requalificação de poços, o aumento da capacidade de abastecimento do município e a revitalização das barragens.

Foto: Arquivo/Washington Nery/Secom PMFS

“A gente sabe que em muitos lugares, quando chega a água, não tem nem onde colocar, e o morador tendo a cisterna, lhe dá essa condição, tanto de captar a água da chuva como de receber pelo caminhão-pipa. Estamos trazendo a recuperação e instalação de alguns poços que estavam inativos, principalmente na região de Humildes, no distrito da Matinha, São José e Jaguara. Estamos fazendo também um levantamento de algumas barragens que precisam ser recuperadas”, disse.

Canal aberto

O secretário reforçou que toda a equipe da pasta está atenta às necessidades da zona rural e que qualquer morador pode solicitar o caminhão-pipa através do número (75) 3617-0791, pelo WhatsApp (75) 99919-6153 ou pelo aplicativo Feira Conectada. Silvaney espera que as solicitações sejam atendidas em cerca de 24 horas.

“Por quê isso? Pois não existe vida e produção no campo sem água. Então, é com esse objetivo que a gente está levando tão a sério essa discussão da água. Dentro desse início de mandato, já existe uma discussão de ampliação do armazenamento da água, mas o que estamos fazendo hoje é requalificando a água que a gente já tem, através de poços, barragens e abastecimento do caminhão-pipa”, concluiu o secretário.

Um poço de oportunidades

Apesar de todo o empenho demonstrado pelo secretário de Agricultura, muitos moradores da zona rural estão preferindo apostar em uma medida que garanta mais segurança no abastecimento de água: a perfuração de poços artesianos.

Em entrevista ao Acorda Cidade, Luan Dias, geólogo formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), disse que, com a crise hídrica dos últimos tempos, a procura por perfuração de poços artesianos aumentou bastante.

Luan Dias, geólogo formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Luan Dias, geólogo formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) | Foto: Arquivo Pessoal

“Não só aqui na região de Feira de Santana, mas em quase todo o estado. Principalmente após o fenômeno de calor causado pelo El Niño em 2023. Muitos proprietários rurais entraram em desespero com medo de perder seus plantios e animais na seca. Já nas cidades, muitos moradores de loteamentos e condomínios periféricos estão buscando a água de poço como alternativa à falta de abastecimento de água da Embasa [empresa que fornece água potável na Bahia], que não consegue atender à demanda de pessoas e comunidades”, disse.

Dias trabalha há cerca de sete anos com perfuração de poços. Ele explicou que a região de Feira de Santana é propícia para a atividade, pois é uma das áreas do estado que mais sofrem com longos períodos de seca. Com o aumento da demanda por um poço particular, o geólogo explicou que existe diversas formas na execução, porém a atividade deve ser estudada com cuidado.

“A quantidade de aquíferos subterrâneos existentes é pequena e estão a uma profundidade considerável. Então, quem tem interesse em perfurar poços deve entrar em contato com um profissional da área de hidrogeologia para fazer um estudo da área e observar se há um aquífero subterrâneo no terreno determinado e se o potencial desse aquífero é grande ou não”, disse.

Um poço para chamar de seu

O geólogo revelou que o passo inicial para quem quer ter um poço na própria propriedade é a realização de um estudo hidrométrico minucioso, que vai garantir se a área tem um aquífero subterrâneo.

Após isso, entra em ação o trabalho de perfuração até encontrar a água. O custo do estudo varia de R$ 1.500 a R$ 4.000, e a perfuração custa, em média, R$ 120,00 por metro. Além disso, é necessária uma licença do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema).

Luan Dias, geólogo formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) | Foto: Arquivo Pessoal

Ao ser questionado sobre a garantia de água após a construção de um poço, o profissional explicou que é importante entender as diferenças, pois existem os poços “cacimba” ou “cisternas”, com profundidade máxima de até 30 metros e que captam água do lençol freático, uma fonte de água superficial proveniente das chuvas, e existem os poços semiartesianos, que captam água do aquífero subterrâneo, uma formação natural que normalmente se encontra abaixo dos 40 metros de profundidade e armazena água de origem nas bacias hidrográficas.

Perfuração de Poços Artesianos
Perfuração de Poços Artesianos | Foto: Arquivo Pessoal

“Ambos correm risco de esgotamento caso haja um alto número de poços numa mesma região. O lençol freático tende a se esgotar mais rápido, por existir em menor quantidade. Um exemplo disso para os feirenses foi quando a prefeitura escavou os túneis das avenidas Maria Quitéria, João Durval Carneiro e José Falcão da Silva. As pessoas devem se lembrar de que, quando esses túneis foram escavados, uma grande quantidade de água subterrânea extravasava pelas ruas ao redor e era desperdiçada sem medida. Isso fez com que os poços ‘cacimba’ dos moradores ao redor dali baixassem o nível de água ou até secassem”, disse.

Luan finalizou a entrevista afirmando que é sempre bom procurar um profissional capacitado na área de geologia para identificar corretamente se há potencial de água subterrânea no terreno do cliente.

Com informações da jornalista Iasmim Santos e do repórter Paulo Jose

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