O Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), denunciou recentemente o deputado estadual Kléber Cristian Escolano de Almeida, conhecido como Binho Galinha, e o tenente-coronel da Polícia Militar Hildon Lobão, sob acusação de envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro. A investigação faz parte da ‘Operação El Patrón’, deflagrada em dezembro de 2023, que apura crimes como extorsão, lavagem de dinheiro e exploração de jogos de azar em Feira de Santana e região.
O MPBA solicitou a manutenção do afastamento cautelar do oficial da PM, além da indisponibilidade dos bens dos acusados. A acusação envolve a compra de um terreno no bairro Papagaio e a aquisição de um veículo, ambas com pagamento em dinheiro vivo, que a denúncia alega não ter comprovação da origem.
O Acorda Cidade ouviu o tenente-coronel Hildon Lobão, que se defendeu das acusações e afirmou que está ocorrendo uma “perseguição” contra a pessoa dele. O tenente-coronel questionou quais são as provas existentes contra ele e afirmou que irá provar sua inocência. Ele disse ainda que não tem nenhuma ligação pessoal com o deputado Binho Galinha, ao qual teve o nome associado pela investigação.
“Estou aqui para esclarecer essa perseguição. Durante um ano estou sendo escutado, seguido para tentarem vincular minha pessoa ao deputado Binho Galinha, mas nunca conseguirão. talvez algum dia eu sente com o deputado para tomar um café e questionar o que é isso que está acontecendo”, afirmou.
Compra do terreno
O tenente-coronel afirmou que só esteve com o deputado cerca de quatro vezes e que comprou um terreno com ele. Hildon Lobão explicou como ocorreu essa compra.
“Já foi explicado a compra desse terreno no valor de 50 mil reais na mão do deputado Binha Galinha e foi dividido para 10x de 5 mil reais, sendo 2.500 reais da minha esposa e R$ 2.500 meu. Todo mês a gente pagava. Sou formado em Direito, em Administração e sou Veterinário. Eu prestava serviço como veterinário para a Prefeitura de Feira de Santana, porque a lei me permite. Minha esposa trabalha com granito e mármore fazendo assentamento e vendas, então a gente pegava o dinheiro e era pago em espécie. Dinheiro é moeda corrente do país e não é crime pagar em dinheiro, então por que o MP afirma que nós pagamos em espécie com o intuito de ludibriar? Cadê a prova de que esse dinheiro que pagamos ao deputado é um dinheiro ilícito?”, questionou.
O coronel Hildon Lobão disse que foi acusado de ocultação de bens, de ser miliciano, de ser chefe do braço armado da organização criminosa da suposta milícia afirmada pela Polícia Federal que seria do deputado Binho Galinha e, que ele fazia a segurança do deputado. O tenente-coronel nega todas as acusações.
“Durante um ano me investigaram e estão investigando ainda. Cadê a prova de que eu tenho ligações pessoais com o deputado? porque para eu lavar o dinheiro da pessoa, eu tenho que ter intimidade com ela. Quando se entra no crime existe uma reciprocidade de confiança. Se ele é criminoso, porque que deixaram ele se eleger? Por que estão me jogando dentro de um caldeirão fervente de sangue? Por causa da minha conduta respeitada”, afirmou.
Segundo o tenente-coronel, todas as acusações são parte de uma perseguição que ele está sofrendo, mas não quis citar nomes de quem estaria lhe perseguindo.
“Eu sei o sistema, mas como não tenho provas, não vou ser leviano e citar nomes, mas isso vem desde um oficial que comandou Feira. Sabemos hoje que existem escutas clandestinas na Bahia e em Feira de Santana. A Polícia Federal chegou ao meu nome porque quando eu paguei a última parcela de R$ 5 mil do terreno, eu registrei esse terreno no meu CPF e no da minha esposa. Se eu fizesse alguma coisa errada, eu colocaria o terreno em meu nome? O que se tem mais em Feira de Santana é laranja”, disse.
Ele reclama a forma como a divulgação da operação foi feita, com a divulgação do nome e foto dele, como não ocorreu com outros investigados. Além disso, Lobão questiona a forma como a acusação foi feita e destaca que jamais praticaria coisas fora da lei.
“Quem estudou Direito sabe, a base do Direito Penal são duas: autoria e materialidade. Não tinha nenhum indício facto para se dar a autorização para invadir uma residência, que é protegido por lei peala Constituição Federal. Invadiram a casa, fizeram escândalo, apareceu meu nome e a minha foto, mas não apareceu dos outros 32 acusados. Expuseram minha imagem e isso é crime e ainda colocaram embaixo ‘miliciano’”.
Com relação a denúncia de lavagem de dinheiro, feita pelo Ministério Público, Hildon Lobão também se defende.
“Corre a boca miúda no meio jurídico de que aqueles supostos policiais apontados pela Polícia Federal, ligados ao deputado Binho Galinha, tinham no mínimo 1 milhão de reais na conta, sendo soldados. E eu, tenente-coronel da Polícia Militar, vou lavar 50 mil reais? só se eu fosse um desmoralizado. Não fiz e nunca farei. Era para eu ser um homem rico em Feira de Santana de tanto aliciamento de dinheiro, só que tenho Cristo no meu coração, eu tenho formação familiar e nunca faria algo errado. Você já viu alguém lavar dinheiro comprando? Normalmente se abre um comércio que não tem um pé de pessoa, mas está lá aberto o dia todo para fingir que vendeu e jogar o dinheiro ilícito dentro dessa conta”, afirmou.
Compra do Jeep Compass
Com relação a denúncia da compra de um veículo Jeep Compass, o tenente-coronel explicou de onde veio o dinheiro para a compra. Ele afirmou que vai apresentar o documento de venda de outro carro que ele possuía antes e vendeu para realizar a compra do Compass.
“Em 2023 minha irmã tinha esse Jeep Compass, comprei na mão dela. Apesar do carro ser de 2019, a polícia disse que eu não tinha condições de ter um veículo desse, que não condizia com minha renda e o Ministério Público reafirma isso. Eu tinha um Oroch, levei 5 anos pagando o financiamento, quando terminei de pagar, vendi por 64 mil reais, peguei o dinheiro e apresentei a minha irmã na compra do Jeep Compass. O MP diz que o dinheiro não tem origem. Estive na Ciretran, falei com o diretor solicitando a cópia do DUT (Documento Único de Transferência), que está lá com o valor, com a minha firma e a firma do comprador. Vou apresentar em juízo para desconstituir mais essa falácia de que os 64 mil reais não têm origem”.
Lobão disse ainda que o restante do valor do veículo, cerca de 80 mil reais, foi pago através de financiamento pela Caixa Econômica Federal.
“Está tudo comprovado com documentos, então jogaram o carro para dar força a denúncia. Agora, de onde pego dinheiro? Cadê a prova de onde peguei esse dinheiro de forma ilícita? Cadê a prova de que esse dinheiro não tem a origem comprovada?”, questionou.
Afastamento cautelar do cargo de oficial da PM
Lobão, que tem 40 anos de polícia, disse ainda não entender os motivos pelos quais foi afastado da sua função de oficial da PM. Ele disse que, no momento, a única opção que lhe resta é aguardar as ações através dos seus advogados para provar sua inocência, além de se apegar a confiabilidade que seus amigos têm em seu nome e na confiança que tem em Deus.
“Comandei algumas companhias em Feira e saí porque não cabia mais eu ser promovido a coronel, sendo comandante de campainha. Tinha que ser um posto dentro da corporação mais elevado para que eu pudesse mostrar as minhas qualidades a frente daquela pasta. Então saí daqui e fui trabalhar no Departamento de Polícia Comunitária e Direitos Humanos, ou seja, quem gere todas as bases comunitárias, além de ser responsável pela promoção social para policiais militares. Dentro desse setor qual a informação privilegiada que eu tenho? Eles alegaram que eu tinha acesso a informações privilegiadas e por isso teria que ser afastado do meu cargo”, explicou.
Ouça a entrevista na íntegra:
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