Dia de Contar um Conto

A magia da literatura infantil: encanto, aprendizado e inclusão para os pequenos 

A professora Nancy Santos Caldas, explicou a diferença e a relevância das histórias infantis e dos contos para a formação das crianças.

Livros infantis
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

No Dia de Contar um Conto de Fadas, 26 de fevereiro, celebra-se a importância dessas narrativas encantadoras que atravessam gerações e desempenham um papel fundamental no desenvolvimento infantil. Hoje é a data perfeita para inventar um “felizes para sempre”, recriar um “era uma vez” com muita imaginação e criatividade ou simplesmente aprender com a literatura infantil que já se encontra à disposição.

Mas você sabia que contos de fadas e histórias infantis não são exatamente a mesma coisa?

A professora Nancy Santos Caldas, Mestre em Letras e especialista em Política do Planejamento Pedagógico, explicou ao Acorda Cidade essa diferença e a relevância das histórias infantis para a formação das crianças. Segundo ela, um conto é mais restrito e acaba excluindo algumas crianças, já as histórias são mais amplas e podem ser adaptadas.

Para a professora, a literatura infantil desempenha um papel essencial na educação emocional das crianças. “Primeiro, porque funciona como uma grande incentivadora da leitura. E segundo, porque transporta a criança para um mundo maravilhoso”.

Professora Nancy Santos Caldas
Nancy Caldas | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Essas narrativas ajudam a criança a perceber possibilidades de relações e soluções para situações que podem enfrentar ao longo da vida. Assim, por meio da leitura, as crianças aprendem a observar os desafios dos personagens e a refletir sobre seus próprios sentimentos e experiências.

“As crianças também entristecem, se angustiam. E elas vêm nos personagens das histórias infantis modelos de comportamento, por isso é importante que haja um adulto supervisionando sempre a leitura dessa criança porque os personagens ganham uma dimensão muito grande em suas vidas. Eles se tornam verdadeiros modelos e que, consequentemente, ela vai começar a seguir”. 

Contos de fadas X histórias infantis

Os contos de fadas fazem parte das histórias infantis, mas com algumas diferenças. Segundo a professora, eles trazem sempre a presença de um mundo maravilhoso, encantado, mágico. Assim como as histórias, eles costumam apresentar a dualidade entre o bem e o mal, como em “Branca de Neve”, “Cinderela” e “Chapeuzinho Vermelho”. Mas as histórias infantis, mesmo sendo ‘histórias’ trazem doses de realidade, de representatividade e pertencimento para o leitor. 

Livros infantis
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Neste sentido, a criança vai administrando a leitura e se colocando sempre ao lado do bem. A literatura vai assumir esse papel de formar leitores críticos, criativos e emocionalmente preparados para os desafios da vida.

“Dificilmente a criança vai ficar do lado da bruxa, embora a bruxa seja uma personagem de grande importância para o imaginário popular. É a grande rival, é aquela que quer desejar o mal, mas contra quem a gente vai lutar o tempo inteiro. Então, os contos de fada trazem essa referência de que ali eu tenho uma dualidade”.

Com o passar do tempo, essas histórias foram sendo adaptadas para diferentes contextos e realidades dentro da sociedade. “Os contos surgem bem lá atrás, quando os Irmãos Grimm e outros, como Perrault, registraram textos populares”. Ela destacou que essas versões mais antigas nem sempre refletem a diversidade do mundo atual. Por isso, foi importante se reinventar e oferecer às crianças representatividade, com histórias que contemplem suas diferenças. 

Livros infantis
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

A história da chapeuzinho vermelho, por exemplo, você sabia que pode ter várias narrativas, desde a da desobediência, quando a mãe manda ela para a casa da avó e ela muda de caminho ou a perspectiva de quando ela passa por transformações da infância para a maturidade da mulher? 

“Tem uma série de outras versões. A ideia do chapéu vermelho vem a ser uma referência, aquele momento em que a criança deixa de ser criança, passa a ser uma moça, menstrua, então vem a ideia do vermelho. E quem é o lobo? O lobo é aquele homem que está à espreita e que pode atacá-la a qualquer momento. Mas acontece que contar história assim para a criança não seria interessante, talvez a gente antecipasse determinadas informações que virão ao longo da vida”, revelou. 

Recomendações literárias inclusivas

Para Nancy, uma literatura infantil que seja mais inclusiva precisa diversificar as narrativas, inclusive, trazendo todo o universo da criança, não apenas histórias de príncipes encantados, mas das emoções, dos sentimentos, do cotidiano, da vida real.

A exemplo, ela recomenda livros que fortalecem a identidade das crianças negras, histórias de origens indígenas e textos que abordam temas universais, como bullying e sonhos infantis, que podem ser muitos.

Entre as sugestões estão “Amoras”, de Emicida, e “A Casa Sonolenta”, de Audrey Wood. Clássicos como “O Menino Maluquinho”, de Ziraldo e “Menina Bonita do Laço de Fita”, de Ana Maria Machado, assim como autoras como Eva Furnari que trazem narrativas de desconstrução de estereótipos para os pequenos.

Professora Nancy Santos Caldas
Nancy Caldas | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Hoje eu indico histórias como essas, para que a gente leve para a sala de aula, que a criança se veja como criança, e não como aquela que vai ficar sonhando que um dia vai chegar um príncipe para salvá-la, para administrar a sua vida. Ou como os meninos que viviam sonhando com a responsabilidade de se transformarem no príncipe que vão administrar a vida das meninas. E a gente sabe que isso não cabe mais nos dias de hoje”, alertou a professora.

Novos queridinhos como “O Pequeno Príncipe Preto”, de Rodrigo França, “Meu Crespo e de Rainha”, de Bell Hooks e “Princesas Negras”, de Edileuza Penha de Souza e Ariane Celestino Meireles também são criativos, leves, divertidos mas que agregam e muito para as vivências de todas as crianças.

Livros infantis
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Nas imagens da matéria você também pode acompanhar outras recomendações da professora.

O livro e o impacto das telas

No mundo digital, as telas se tornaram concorrentes dos livros, mas a professora reforça que é possível utilizá-las a favor da leitura, seja através de sites e jogos que incentivem o texto literário. “Se fizermos um uso melhor das telas, não vamos tê-las como rivais, mas sim como aliadas”, afirma.

O incentivo à leitura nas escolas e em casa

Nancy também ressaltou a importância de diversificar o repertório literário nas escolas, ampliando o acesso a obras que reflitam a diversidade das crianças. “Os contos de fadas são importantes e necessários, mas não podem ser exclusivos da literatura. É preciso levar outros textos para a sala de aula. Que tenha a cara do nosso aluno”, afirma.

Além disso, ela defende que a leitura também deve ser incentivada dentro de casa. “As crianças com menos de um ano já são colocadas à frente da tela, quando deveriam estar com um livro na mão”, alerta.

Para a especialista, a chave está no exemplo dos adultos. Ela reconhece que consumir a literatura pode, sim, se tornar um produto caro diante das necessidades de cada família, mas é preciso buscar alternativas que tragam esse mundo infantil literário para a vida, principalmente, logo na infância.

“Se uma vez por ano, ao invés de comprar um brinquedo, a gente compre um livro, vamos ter famílias que vão ampliar o repertório leitor das suas crianças. […] Até que ponto eu, como mãe, pai, o adulto da família, leio para que meu filho tenha essa referência?”. A escola faz um trabalho importante, mas o desenvolvimento da leitura literária precisa ser uma parceria com a família.

Livros infantis
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

A professora ainda citou a autora Ana Arguello Souza, que fala a respeito das dimensões da literatura como pedagógica, histórica e estética. 

“Pedagógica, quando na escola, muitas vezes, a gente usa o texto literário somente para dar uma lição de moral. E isso entristece e empobrece o texto literário. A dimensão estética traz a ideia e a lembrança de que a literatura é arte e, sendo arte, ela precisa retratar uma realidade. Ela precisa representar a criança que está ali ao lado dela e trazer toda uma linguagem que divirta, que interesse, que faça com que a criança realmente contemple o texto literário. Então, existe o incentivo, existe, mas ainda é muito pouco diante do que a literatura infantil nos oferece”.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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