O polimetilmetacrilato (PMMA), composto por microesferas de um polímero não absorvível pelo corpo humano, tem sido amplamente discutido no meio médico devido aos riscos associados ao seu uso em procedimentos estéticos.
Originalmente utilizado como cimento ósseo em cirurgias ortopédicas, sua aplicação como preenchedor começou nos anos 2000. No entanto, logo em 2006, tanto o Conselho Federal de Medicina (CFM) quanto a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) alertaram sobre as complicações associadas ao seu uso estético e pediram, em 2024, à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que o PMMA, utilizado nesses métodos, fosse banido no Brasil como substância preenchedora.
De acordo com o médico e professor Victor Felzemburgh, presidente da SBCP Regional Bahia, o PMMA foi inicialmente indicado para pacientes com HIV e AIDS que apresentavam atrofia de gordura facial devido a tratamentos medicamentosos. Contudo, o desconhecimento sobre suas implicações de longo prazo gerou preocupação na comunidade médica.
“Uma vez injetado, o PMMA permanece no organismo de forma definitiva. Diferente de outros preenchedores, ele não pode ser reabsorvido ou removido facilmente”, explicou Felzemburgh ao Acorda Cidade.
O uso indevido da substância aumentou com a popularização de redes sociais e procedimentos estéticos minimamente invasivos. Dentre os famosos que usaram a substância no corpo podemos citar a modelo Andressa Urach, a cantora e ex-BBB, Gabi Martins, a cantora Gretchen, a atriz Carol Marra e a modelo e jornalista Lygia Fazio que faleceu após ter complicações por conta de aplicação de silicone industrial e PMMA no bumbum.
O dr. Victor também destacou ao Acorda Cidade que muitos profissionais não qualificados passaram a aplicá-lo em altos volumes faciais e corporais, ignorando contraindicações da SBCP.
“Muitos médicos ou não médicos, sem a formação adequada, começaram a fazer o uso dessas substâncias, mesmo ela não sendo indicada para a volumização, nem facial e nem corporal. Então, começaram a haver mais casos de complicações e denúncias de pacientes que desenvolveram reações adversas e por isso a sociedade se manifestou, junto ao Conselho Federal de Medicina, sobre o uso dessa substância”, explicou o médico.
Dentre as principais complicações estão processos inflamatórios locais, formação de nodulações endurecidas e alterações no contorno facial e corporal. Em casos mais graves, podem ocorrer infecções, perfurações na pele e rejeição severa do material pelo organismo. “É imprevisível determinar quando e se o paciente apresentará reações adversas, podendo ocorrer meses ou anos após a aplicação”, alertou.
Para evitar riscos, Felzemburgh enfatizou a importância de buscar profissionais qualificados. “É essencial verificar se o médico é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica ou da Sociedade Brasileira de Dermatologia e se possui registro de especialidade (RQE) no Conselho Federal de Medicina. Você pode procurar no site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica ou da Sociedade de Dermatologia, colocar lá o nome do médico, ver se ele é membro dessa sociedade. Você pode olhar no Conselho Federal de Medicina, ver no CRM se o médico o qual você vai fazer o procedimento é cadastrado no CRM para realizar”, orientou.
Atualmente, o PMMA é autorizado pela Anvisa para tratamento reparador em casos de correção volumétrica facial e corporal, uma forma de tratar alterações de volume provocadas por sequelas de doenças como a poliomielite (paralisia infantil), e para correção de lipodistrofia, alteração no organismo que leva à concentração de gordura em algumas partes do corpo, provocada pelo uso de medicamentos antirretrovirais em pacientes com HIV/Aids.
Considerando os riscos, a SBCP e o CFM solicitaram à Anvisa, em janeiro de 2024, a retirada do PMMA do mercado para fins estéticos. Outros países, como França (2015), Holanda (2017) e Argentina (2021), já proibiram seu uso. Alternativas seguras incluem preenchedores à base de ácido hialurônico, hidroxiapatita de cálcio e lipoenxertia (injeção de gordura autóloga), que são biocompatíveis e absorvíveis pelo organismo.
“A gente espera que eles acatem essa sugestão, porque entendemos que não haverá prejuízo para uso como preenchedor para a população, já que nós temos outros biomateriais mais biocompatíveis, alguns desses biomateriais também aprovados pela Anvisa com longa data de estudos, de acompanhamentos a longo prazo o que dá muito mais segurança para o tratamento desses pacientes”, frisou.
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