Há muitos anos, cientistas vêm encontrando evidências de que a prática frequente de atividades físicas proporciona benefícios ao funcionamento cerebral. E há indícios de que não é preciso se esforçar muito para obter essas vantagens. Publicado na revista Communications Psychology, um estudo recente aponta que malhar apenas durante alguns minutos é o suficiente para beneficiar diversas áreas cerebrais.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, nos Estados Unidos, analisaram 113 trabalhos científicos publicados entre 1995 e 2023 que envolveram 4.390 pessoas, com idades de 18 a 45 anos. Eles concluíram que uma sessão pontual de exercícios já aprimorou diversas funções cognitivas, em especial a memória, a atenção, o processamento de informações e a função executiva, que está ligada ao planejamento e a execução e manutenção de tarefas.
Também ficou evidente que as atividades vigorosas têm os maiores efeitos no cérebro — o treinamento intervalado de alta intensidade, conhecido como HIIT, apresentou os resultados mais consistentes. Além disso, a repercussão foi maior após o treino, em comparação aos testes feitos durante os exercícios. Os resultados foram mais significativos após sessões de menos de 30 minutos do que após as que ultrapassaram meia hora.
Esses achados são ainda mais importantes levando em conta que os participantes eram adultos. “A maioria dos trabalhos dessa natureza é focada em idosos e crianças e, nesse caso, temos dados interessantes sobre uma população pouco estudada, mas que merece atenção”, avalia o educador físico Caio Novaes, do Espaço Einstein – Esporte e Reabilitação, do Hospital Israelita Albert Einstein. Adultos são os mais afetados por fatores como estresse, ansiedade e diminuição do sono, gerados por múltiplas tarefas envolvendo trabalho, estudo e filhos, o que pode gerar prejuízos cognitivos.
De acordo com os pesquisadores dos EUA, uma única sessão de exercícios desencadeia uma cascata de reações químicas similar à que acontece quando a pessoa treina com frequência. Isso inclui um aumento na síntese dos neurotransmissores dopamina (proporciona prazer), acetilcolina (regula a memória, o aprendizado e o sono) e ácido gama-aminobutírico, conhecido como Gaba, que tem efeito relaxante. Os fatores neurotróficos —substâncias que atuam na sobrevivência, na manutenção e no desenvolvimento de células do sistema nervoso — também são estimulados.
“As atividades físicas também elevam o IGF-1 [fator de crescimento que desempenha papel fundamental no desenvolvimento celular] e, graças a tudo isso, melhoram a plasticidade sináptica, ou seja, a capacidade do sistema nervoso de se adaptar a estímulos, permitindo o aprendizado e a formação da memória, em vários locais do cérebro”, explica o neurologista Ricardo Mário Arida, chefe da disciplina de Neurofisiologia e Fisiologia do Exercício do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Estudos em animais têm mostrado também que os exercícios aumentam a neurogênese, a formação de novos neurônios no hipocampo, região do cérebro envolvida na aprendizagem e na memória.
Melhores resultados a longo prazo
Apesar de a pesquisa realizada na Califórnia ter demonstrado que é possível notar melhoras cognitivas com sessões isoladas e curtas de exercícios, os especialistas ouvidos pela Agência Einstein afirmam que os efeitos da atividade regular são mais eficazes.
“Realmente, a prática realizada por períodos prolongados promove mais adaptações funcionais e estruturais no cérebro, o que chamamos de plasticidade cerebral, mais duradouras do que os exercícios pontuais”, afirma Arida. De acordo com o neurologista, já foi demonstrado que atividades que envolvem estratégia, contato social, estímulos sensoriais e ativação mais intensa do sistema respiratório, como danças, esportes coletivos e lutas, promovem melhor neuroplasticidade.
Em relação às modalidades que têm resultados mais intensos ao bem-estar mental, os aeróbios se destacam na literatura científica. “Modalidades como corrida e ciclismo têm demonstrado ser os melhores aliados da cognição e ainda aliviam o estresse e a ansiedade, entre outros benefícios, contribuindo ainda mais para a parte psicológica do praticante”, ressalta Novaes. Segundo ele, é importante combinar essas práticas com exercícios de força para evitar lesões.
Fonte: Agência Einstein
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