Congressos discutem segurança hospitalar

Lesões ou danos não intencionais – incluindo erro médico – que interferem na qualidade de vida de pacientes e podem até matar são classificados como eventos adversos. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos mostraram que só em custos com acontecimentos previsíveis em hospitais o país gastava US$ 17 bilhões por ano. Para discutir como prevenir essas situações e melhorar a proteção de profissionais de saúde e pacientes, serão realizados amanhã e sexta-feira no Rio o II Congresso Brasileiro sobre Eventos Adversos em Medicina e I Congresso Brasileiro sobre Segurança no Sistema de Saúde, no Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC).
O problema preocupa. Em 2008, pesquisa na Holanda revelou que 9% dos pacientes internados sofriam algum tipo evento adverso, sendo que em 7% a lesão era permanente. Os especialistas concluíram que em 43% das situações os danos poderiam ter sido previstos ou evitados.

– Os Estados Unidos gastam US$ 3 trilhões na saúde e têm um custo de 2% com eventos adversos – diz o cirurgião oncológico Alfredo Guarischi, presidente do Congresso, que terá 59 palestrantes de diversas instituições. – Em média, cerca de 10% dos pacientes americanos sofrem algum evento adverso.

Nos Estados Unidos, estima-se que, anualmente, cerca de cem mil pessoas morram em hospitais vítimas de eventos adversos, o que implica em taxa de mortalidade maior do que a atribuída à Aids, ao câncer de mama ou aos atropelamentos. E os custos causados por eventos adversos podem chegar a quase US$ 30 bilhões anuais. No Brasil, inexistem dados exatos. Mas num estudo, divulgado há um ano, o sanitarista Walter Mendes, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz, estimou a incidência de eventos adversos em 7,6%. O dado foi obtido a partir de análise retrospectiva de prontuários de 1.100 pacientes internados em três hospitais de ensino no Rio. Os problemas ocorreram principalmente em cirurgias. Do total, 66,7% das situações poderiam ter sido evitadas.

– Daí a importância de discutir o tema. Temos que saber nossa realidade, levando em conta a realidade da nossa população, até para saber que medidas devemos tomar – diz Guarischi.

Gastar muito dinheiro em saúde não significa maior segurança para médicos e profissionais de saúde, afirma Guarischi. Medidas simples, como lavar as mãos antes de cuidar de um paciente, já eliminam parte dos problemas.

Segundo o médico, só com o check list da Organização Mundial de Saúde, que diz o que tem que ser visto antes de um procedimento médico, já se consegue reduzir muito a morbidade e a mortalidade. O prontuário eletrônico é outra ferramenta importante, lembra o médico:

– Alguns hospitais no país, como o Hospital Albert Einstein, contam com setor de simulação realística e usam robôs e atores profissionais para treinar as equipes em situações de rotina, preparando os profissionais não só no aspecto técnico, mas emocional. Isso também reduz as chances de eventos adversos. Uma medida importante é incentivar a acreditação hospitalar, criar mais centros de excelência.

Os dois congressos são direcionados a médicos, enfermeiras, farmacêuticos, biólogos e outros profissionais de saúde. Estão programados discussões com palestrantes ligados à indústria da aviação, engenharia nuclear, petróleo e segurança pública. Eles vão contar como enfrentam os eventos adversos, incidentes e acidentes em suas respectivas áreas. Histórias que ajudam a pensar em medidas úteis, que podem ser aplicadas em clínicas e hospitais.
 

Informações do O Globo

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