Em busca do sinal do celular, mãe perdeu 3 filhos e uma sobrinha

A tentativa da dona de casa Enedina de Jesus Santos, de obter sinal no celular para falar com irmãos que moram em São Paulo, acabou custando a vida de três filhos e uma sobrinha. Na beira da estrada, o lugar mais alto disponível nas redondezas, todos foram atropelados por Lourival Serapião de Matos, 58 anos, que depois de ter bebido, dirigia o carro em alta velocidade na BR 110, sentido Cipó-Ribeira do Pombal, no final da tarde de domingo, por volta de 18 horas.

Lourival perdeu o controle do Corsa Sedan branco JPR 7658 no quilômetro 186, na zona rural de Ribeira do Pombal, cidade do semi-árido a 240 quilômetros de Salvador. Saiu da pista e atingiu as quatro crianças, que morreram no local. Os filhos de Enedina mortos foram Iran Santos da Fonseca, que faria quatro anos dentro de um mês, Maria Aline Santos da Fonseca, 9 anos e Carolaine Santos da Fonseca, 12 anos. Além deles, morreu Lara Vitória Santos de Castro, de 10 meses. Ela estava no colo da mãe, Terezinha de Jesus Santos, irmã de Enedina. Terezinha sofreu fratura no braço e na bacia e foi levada para o Hospital Geral do Estado, em Salvador.

Depois de atingir a família, Lourival seguiu desgovernado pela beira da estrada até o fim do barranco, de onde despencou capotando o carro, de uma altura de cerca de dois metros. Enquanto as pessoas procuravam ajuda para os cinco atropelados, ele conseguiu sair do carro, junto com um garoto de 12 anos que estava no banco do passageiro. Na beira da estrada, pegaram carona e seguiram até o Hospital Geral Santa Tereza, em Ribeira do Pombal, pertencente à rede estadual. O menino (que ele alegou ser um sobrinho) foi liberado após a chegada do pai. Lourival permaneceu internado para tratar dos ferimentos leves que sofreu no acidente.

Foi quando se submeteu ao teste do bafômetro, aplicado pelo policial rodoviário federal Wagner Pereira. Mesmo cerca de uma hora depois do acidente, o bafômetro constatou uma quantidade de 0,39 decigramas de álcool por litro de sangue, quando o máximo tolerado é de 0,29.

O delegado de Ribeira do Pombal, Equiber dos Santos Alves, disse que só aguardava ser notificado da alta pelo hospital – prevista para hoje – para prender em flagrante o atropelador.

MOTORISTAS BÊBADOS

Motoristas que dirigem depois de consumir bebida alcoólica são uma ocorrência comum na região, segundo o delegado Equiber. Um policial civil contou na delegacia que em apenas três dias de festa na cidade de Ribeira do Pombal no mês passado foram arrecadados R$ 9 mil com o pagamento de fiança de motoristas detidos por dirigirem alcoolizados. “Foram entre 15 e 20 pessoas”, calculou.

O delegado afirma que a Polícia Militar e a Polícia Rodoviária Federal flagram em média 20 motoristas por mês cometendo a infração. “Eu estou com 12 inquéritos nas mãos para concluir. Oito são por esse motivo”, contabiliza.

Na manhã de ontem os moradores da localidade de Tapera, onde ocorreram as mortes, se dividiam entre a casa da mãe e tia dos meninos e o local do acidente, para acompanhar a remoção do carro, que ficou muito danificado com o capotamento.

Vários deles contaram histórias sobre outros acidentes fatais ocorridos nos últimos anos. Sempre no fim de semana e envolvendo motoristas alcoolizados. “Foram três mortos em três acidentes nos últimos anos”, relembra Marcelo dos Santos, que era padrinho de uma das crianças mortas.

Abatida em meio aos parentes e amigos que tentavam consolá-la, Enedina contou à reportagem que pediu ajuda a alguns motoristas que pararam para ver o acidente, mas diversos deles se recusaram. Porém admitiu que estava tão desnorteada que nem sabia se as crianças ainda estavam com vida e não teve coragem de chegar perto para se certificar. Testemunhas do acidente, no entanto, disseram que pelo estado dos corpos, a morte foi instantânea.

As fotos da seqüência abaixo, de Reginaldo Pereira, mostram o estado em que ficou o carro, observado pelo delegado Elquier e população. O garoto que aparece sozinho em uma delas é irmão de Lara, morta no acidente e filho da mulher que ficou gravemente ferida. O lugar onde a mulher desce com a sobrinha é o ponto exato em que a família estava. A mãe das três crianças, em casa, de blusa azul, sendo consolada por parentes e amigos. As outras três são reproduções de fotos da familia, das crianças que faleceram: Lara (de rosa), Iran, ainda bebê, e juntas as irmãs Maria Aline e Carolaine (a mais velha).

 

 

Fotos: Reginaldo Pereira
 

www.glaucowanderley.blogspot.com

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